quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Samuel da Costa (Uma flor chamada Margarida)


(Para Cheila Cristina Rita)


Uma vida simples, bem ali no pé do morro, em uma pequena cidade. No fogão à lenha, uma chaleira avisa que a água está pronta para coar o café e lá fora a vida segue normalmente. E ela nem sabe que dia da semana é hoje.

Só sabe que lá fora, pessoas vestidas de negro, municiadas com velas, em uma estranha procissão, ganham as ruas, estão a fazer muito barulho, ali bem perto, e seu velho marido resmungou do quarto: — “Shara! Traz um café pro vô.” — ‘’Que alívio! Chamou a neta e não eu!” — diz Adélia em voz baixa e olhando para o chão meneando a cabeça.

A senhora de idade avançada fez as seguintes reflexões: “Quem diria que, após tantos anos de convivência, muita luta, muita fome, filhos criados, netos e netas, bisnetos e bisnetas e agora é a solidão a dois. Justamente agora que temos um teto, graças a Deus’’. Adélia Caetano com seus sessenta anos de idade e sua cor de ébano vê a vida passar de forma bem lenta. Vez ou outra, um filho, uma filha ou os netos e netas vem lhe fazer visitas rápidas ou mesmo passar um final de semana em sua humilde casa. Nesses breves períodos afasta-se a solidão.

Lá fora notícias, dão conta que o mandatário local não está mais no poder, coisas do mundo da política, dizem que ele roubou um monte de dinheiro do povo, coisas de políticos, coisas que não me meto, diz para si mesma e para mais ninguém dona Delinha como é chamada Adélia, de forma carinhosa pelos seus vizinhos e familiares.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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