sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Amadeu de Carvalho Júnior (O Urubu)


  Era uma vez...
                       O Seu Urubu.
                       Era uma vez...
                       A Dona Coruja.
                       Era uma vez...
                       O jovem gavião.
                       Era uma vez...

Uma passarada sem fim, aves e mais aves.

Você já deve estar cansado de tanto "era uma vez...", bem, vamos deixar os personagens para depois e ir direto ao ponto (ao assunto = a história).

No recanto das aves, no céu mais azul que já se viu, havia muitos pássaros, dentre eles, o qual a história contará: morava o urubu conhecido como “Seu Urubu” ou Senhor Urubu. Ele era fedido, nojento, parecia uma espécie de cruzamento da mistura entre porco e gambá. Quase ninguém conversava com ele, ninguém queria chegar perto dele, era muito discriminado por sua sociedade preconceituosa, racista e narcisista, que só cultivava as aparências, a beleza exterior, do corpo, a que passa. Ele era muito educado e simpático com todos, mas sua aparência disforme, sua feiúra, seu mau cheiro, seu fedor, sua porquice e seu hábito de fuçar lixo, restos e ter animais decompostos em sua dieta não agradavam em nada aos seus conterrâneos que tinham nojo dele e esse nojo impedia que aqueles cabeças-duras se aproximassem dele.

Eventos sociais, festas, para nada era convidado. Ninguém fingia ou escondia o incômodo que tinham em relação a ele. Era alvo das fofoqueiras e fofoqueiros de plantão. E não parava mais...

Até que um dia muito triste veio, e o Sr. Urubu já estava com a auto-estima muito baixa e se sentindo totalmente caluniado, desrespeitado, chateado, magoado e esgotado com essa situação (não era pra menos!) :   -   Por que tem que ser assim? Por que não me aceitam como sou?

Nesse momento, aconteceu o ápice, o apogeu de sua vida, ele teve um "clique" e decidiu que mudaria: - Não vou esperar a opinião e a mente deles mudarem. Eu faço a diferença. Eu consigo, vou tentar e posso mudar. Eu vou mudar. Farei a minha parte para ninguém mais me acusar e chamar de apelidos como "Lixão ambulante" e "Toxina mal-cheirosa".

Ele tinha ouvido falar de um gato cabeleireiro especialista em beleza muito famosa na região, chamado Aj. Nele foi. O gato, é claro, aceitou o serviço, mas não acreditou que adiantaria muito. Porém, mais que um serviço, aquilo se tornou um desafio e mais, ao ver o urubu tão pra baixo e infeliz, quis ajudá-lo.

Para começar deu um banho no urubu de sabonete, bucha, escovão e água, cortou algumas penas sujas e feias, cortou alguns fios de cabelo, limpou, lavou, escovou, penteou, deu um corte moderno. E quem diria: que aparência saudável! O urubu se espantou e decidiu se perfumar, sempre estar limpo e de roupa nova. Quis reconstruir sua vida. Nunca voltar ao lixo e à carniça de antes. Agradeceu muito ao gato. Estava feliz. Pela primeira vez olhou no espelho e encontrou-se consigo mesmo. Agora sim. Estava bom e tudo bem.

Como todos ficariam surpresos ao voltar!

E assim o foi...

O urubu decidiu voltar para o Recanto das Aves para participar do desfile de moda que elegeria a ave mais bela de todas.

Todos participaram. Inclusive o Seu Urubu, ou melhor, o novo e renovado Urubu de hoje e de agora. Todos ficaram maravilhados e ao mesmo tempo espantados com a mudança radical e com a "ousadia" do Urubu, na cabeça deles ele não tinha esse direito de participar.

Jovem e elegante como o gavião  ágil e habilidoso como a águia  calmo, sossegado e pacífico como a pomba  sábio, culto, educado, inteligente, discernido e até impondo respeito e sendo importante como a coruja  alegre e feliz como um canário ou sabiá  "gracinha" como um pinguim ou um pintinho  belo como uma garça, um tucano, um pelicano, um papagaio ou uma arara  igualado a todos os pássaros desde a angola, o pica-pau, o periquito, a siri ema, a ema, o marreco, o pato, o ganso, o galo, tendo a fofura do bem-te-vi, a altura de um avestruz... E até tendo a elegância e o deslumbramento de um pavão!

O resultado estava prestes a sair. Na opinião geral dos pássaros participantes: Os passarinhos e cantores pequeninos cantarolando, ficaram e são mesmo bonitinhos e fofinhos, mas havia melhores. A coruja e o papagaio até que eram concorrentes fortes e ela era respeitada. Mas o pombo, a águia, o tucano, e o avestruz estavam acima. O urubu, apesar de tudo, ainda causava desconfiança (será que aquele atrapalhado e desastrado havia mudado mesmo? É uma miragem ou um milagre? É justo ele se arrumar e ficar bonito apenas hoje, só par participar do desfile? Deve ser desclassificado e punido, vamos humilhá-lo ainda mais!). As apostas mesmo estavam ao redor do gavião, do pavão, da garça e da arara azul e vermelha.

O corpo de jurados era formado por um animal de cada espécie, entre eles, os principais: a ave mais antiga e experiente  um gato decorador, maquiador, pintor, estilista e artista  e o leão rei da selva.

Chegou a hora da decisão: quem será que ganhou?

O resultado: Quem ganhou foi... A espera é tanta!

O vencedor é... O coração está pulando, e as mãos suando.

O grande ganhador do troféu de ouro e da viagem à Atmosfera Distante é... O URUBU!

Queixo caído (de todos, inclusive dele próprio)! Urubu não se conteve de emoção, foi viajar e permanecia cada dia mais belo, limpo e bem cuidado.

Já as outras aves, infelizmente, eram perdedoras mesmo! Não sabiam competir, caíram em profunda angústia e depressão, pararam de se cuidar, tornaram-se feias, ridículas, fedidas, sujas e não se aguentavam a si mesmas e umas as outras.

Moral: O que importa é a beleza interior (a beleza do coração) = quem é belo por dentro torna-se intensamente lindo e para sempre, permanece, não passa. Agora quem só se liga em aparências, no culto ao corpo (narcisismo) o qual o mundo de hoje leva, só são belos exteriormente e podem ser até horríveis internamente! O exterior é passageiro, um dia a beleza por fora (externa) pode se acabar. A alegria vem do coração puro e verdadeiro. A humildade preserva o ser. "Quem com ferro fere, com ferro será ferido".

Corramos atrás do que queremos sem pisar e humilhar os outros, o nosso próximo. O preconceito não leva a nada. Lutemos pelos nossos sonhos, para assim os alcançarmos. Não desperdicemos chances e não fiquemos parados: agarremos oportunidades!

Fonte:
Espaço Literário Sorocult
http://www.sorocult.com/el/view.php-cod=153.htm
Acesso em 09.01.2016 

Nenhum comentário: