segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Mara Garin (Notícia de Jornal)

Dia destes, quente tarde de verão, saí caminhando pelo meu sítio, fotografando flores, bichos, plantas, céu, vertentes, pedras e ilusões. No limite Sul da propriedade encontrei minha vizinha lindeira, uma senhorinha envergada por muitos verões, mas de mãos firmes na enxada, que habilmente separa as ervas daninhas, de suas lindas e coloridas pimenteiras dedo de moça, ela bem disposta e sorridente questionou:

– Vizinha! Tu viu as notícias do jornal de sábado?

– Não!

– Dois moços brigaram de facões! Um caminhou até perto de casa e morreu, sentado no meio da rua, o outro caminhou até uma parada de ônibus e sentou, quase morto, esperando socorro, está bem mal no hospital, muito triste! O que tu pensa disso?

- Eu? Não penso nada, só oro pelos corações das mães! Não me interessam os motivos, não me interessam as mensagens que correm nos grupos de WhatsApp, não me interessam os que viram e não impediram, não me interessam as fotos sangrentas. Só me interessa orar pelos corações das mães!

A vizinha deu uma desculpa, falou da falta de chuva, mostrou uma nuvem cinza ao norte, que o vento soprava para longe da cidade, e, vagarosamente despediu-se e entrou em sua casa. Eu voltei pelo mesmo caminho refletindo, porque a desgraça é notícia e a arte não? Porque os textos com tristezas rapidamente são virais na Internet, enquanto a literatura mofa, em páginas de jornais, livros nas estantes ou arquivos nunca impressos? Porque a poesia e o amor não são virais?

Porque somos frutos de nossas escolhas! Enquanto eu escolho a beleza do meu mundo, a vizinha compra a tristeza espalhada no jornal, reproduzida na televisão, viralizada nas redes sociais.

Neste mesmo dia, na mesma rua, um menino de família humilde se formava professor, mas isso não vende jornal, só eu vi a beleza e o orgulho nos olhos daquela outra mãe.

Fonte:
Texto enviado por Jaqueline Machado.

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