Queria muito entender de justiça, mas no mundo em que vivo, a realização deste meu querer se torna quase impossível. Vejamos o caso do bandido Mineirinho, aquele do conto de Clarice Lispector, adorado por alguns, odiado por tantos...
Sim. Mineirinho existiu e era bandido. E seus atos precisavam ser contidos pela ação da justiça. É o que tinha de ser feito. E foi. Até aí, tudo bem, não fosse a maneira com que a justiça se manifestou.
“Mineirinho foi morto com treze tiros, quando precisava de apenas um”, disse a autora certa vez em entrevista.
Se apenas um tiro bastava, por que o policial continuou a atirar?
Por justiça?
Não, porque queria cometer o seu crime particular. A ação da vingança e do ódio tornou o que deveria ser justo, em um ato de justiça estupidificada, como descreve o texto de Clarice.
Este conto não trata de uma apologia à violência. Pelo contrário, é uma nota de repúdio ao crime e ao ser criminoso que se esconde pelos labirintos sombrios de nossas entranhas trevosas, sedento de ira.
É claro que a justiça tinha que ser feita, mas o que houve naquele acerto de contas foi um assassino interrompendo a vida de outro assassino, não mais cruel, apenas mais visível aos olhos de todos.
Mineirinho me faz refletir: até onde somos honestos ao executarmos atos de honestidade? Até que ponto chega a nossa verdade? E a nossa compaixão?
Quantas vezes nos flagramos irritados, donos da verdade, querendo resolver tudo no grito. desejando fazer desse grito um ato de poder, quando que gritar só nos torna mais frágeis do que costumamos ser nas horas que parecemos estar em paz.
Não podemos esquecer, que todo ser humano, independente de seus acertos ou erros, é um semelhante nosso, parido de uma mesma natureza. A injustiça se apresenta em suas múltiplas faces, e somos pequenos demais para agir com tanta supremacia, uns perante os outros.
Precisamos vencer a escuridão e nos entregarmos à luz criadora. A luz que deu origem às nossas vidas. Quando isso acontecer, se é que vai acontecer, a igualdade social se fará e não existirá mais bandidos, pois todos estarão unificados pelo poderoso laço do amor.
Somos todos irmãos, parentes de uma mesma célula, de uma mesma corrente sanguínea, portanto, a justiça deve ser justa, e não estupidificada, pois toda estupidez é um sinal de ignorância, e a ignorância por si só, é uma assassina, uma assassina em série, que primeiro corrompe, depois mata a nossa dignidade.
Gostaria muito de aprender mais sobre justiça, mas está difícil...
Fonte:
Texto enviado pela autora.
Texto enviado pela autora.
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