“Sentí que a ausência doída
ganhou maior dimensão
ao constatar minha vida
ausente em seu coração!”
ganhou maior dimensão
ao constatar minha vida
ausente em seu coração!”
Você, que foi presença em minha vida,
mas foi embora sem dizer-me adeus,
por avaliar, talvez, que a despedida
traria a dor crucial dos lábios seus...
Você, que no momento da partida
não se furtou de olhar nos olhos meus,
fez-me pensar ainda ser querida,
quase gritar: "não vá, fique, por Deus"!
Ante o silêncio imposto entre nós dois,
pairou a dúvida cruel, depois;
— quem, a este amor, negou vital clemência?...
— Quem pouco amou! — Constato, ao responder:
menos amando, não pôde entender
quem mais sofreu a dor que trouxe a ausência!
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FRUTO DA SEMENTE
Não meças nela o trabalho,
pois colheita é contingente,
mas quanto, de orvalho a orvalho,
Tu já plantaste… em "semente"…
pois colheita é contingente,
mas quanto, de orvalho a orvalho,
Tu já plantaste… em "semente"…
De sol a sol, firmando as mãos no arado,
suor pingando, ao solo se entregava...
— Hoje, um trabalho rude e ultrapassado
do lavrador, que a terra cultivava.
Com grande afinco e sempre atarefado,
fazia os sulcos, com as mãos semeava
e, esperançoso a capinar, cansado,
o agricultor temente a Deus, rezava...
Pedia chuva para aquela empreita,
o pensamento firme na colheita,
depois que via germinando o grão...
E desejava, então, ardentemente,
ver pão na mesa, fruto da semente,
que enverdecera todo aquele chão!
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QUANDO...
“Quando eu morrer deitarei
em ti tamanha saudade,
que bem pouco ficarei
sozinha na eternidade…”
em ti tamanha saudade,
que bem pouco ficarei
sozinha na eternidade…”
Quando estiver inerte para o mundo,
não faltará quem diga, assim: — "Coitada!"
Outros dirão a respirar bem fundo:
— "Ela descansa em paz, não sente nada..."
Terei, do amigo, a frase entusiasmada:
— "O seu trabalho resultou fecundo!"
Do desdenhoso, embora em voz velada:
— "Mas não fez nada, assim, de mais profundo..."
Não pensarão que tudo escuto, ali,
que alma não morre e não sairá daqui
até que a prece para Deus a eleve...
Nem saberão que em meio a tanta prosa,
aguardo apenas uma rubra rosa
das mãos de alguém que só dirá: — "Até breve!..."
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QUE AMOR É ESTE?!…
"Este amor, que ressurgiu
das cinzas, ardentemente,
veio provar que sentiu
saudade de estar presente!…”
das cinzas, ardentemente,
veio provar que sentiu
saudade de estar presente!…”
Que amor é este, que impetuoso vem
depois de estar fadado a ser lembrança?...
Parece até desconhecer em quem
ele se agita, pois ousado avança!
Que amor é este, cheio de confiança,
que, ágil, me aponta a direção de alguém,
vindo instingar-me a radical mudança,
impondo a força que ele ainda tem?...
Que amor é este, pleno de certeza,
a convencer-me da real grandeza
que do passado traz e descortina?
Que amor é este em mim, todo Incoerente?!...
No espelho, mostra a idade, fielmente;
por dentro, faz sentir-me uma menina!...
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REENCONTRO
Na tua ausência formei
um rosário dos meus "ais"
e, hoje, que te reencontrei:
- Meu Deus, sofrer, nunca mais!
um rosário dos meus "ais"
e, hoje, que te reencontrei:
- Meu Deus, sofrer, nunca mais!
Antevendo o momento em que irei reencontrar-te,
repensando, feliz, quanto ainda te quero,
intento este preencher do meu tempo com arte,
vindo expor num soneto o amor puro e sincero.
A ansiedade me envolve e já sei que faz parte,
leva quase à loucura e quando eu desespero,
desse anseio sofrido, almejando o descarte,
ouço a voz da esperança e esta angústia, supero!
Com excelso desvelo eu desejo te olhar,
abraçar-te bem forte e, depois, mergulhar
na paixão que revela o que sinto por ti.
Hora e dia a apontar, terra e céu presenciando
o milagre da volta e eu prossigo rogando:
— teu amor para sempre... e esquecer que sofri!
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QUEM SOU?
Prossigo, nesta minha trajetória,
cantando os sonhos perdidos
de tantos amores sofridos,
dispersos no tempo e na história.
Falo de sentimentos abalados,
dos corações machucados,
das dores incrustadas na memória.
Penetro no recôndito dos seres humanos
e faço emergir dos pensamentos
as lembranças dos relevantes momentos
de alegrias, de tristezas, de desenganos...
Desnudo as paixões mais ardentes,
dos que foram muito amados,
dos que foram desprezados;
— os vitoriosos e os carentes!...
Liberto os gritos silenciosos
dos corações oprimidos e exacerbados,
até então em mutismo encarcerados...
Denuncio, com veemência, esse mal
que veloz se propaga — a injustiça social!...
Nunca me esqueço de louvar o Criador,
pois dEle é que se origina a essência do Amor.
Tampouco me omito de exaltar a Natureza;
dela , reconheço a indiscutível grandeza,
o seu árduo e incessante labor!
Persigo, entretanto, a ingrata felicidade
que, indiferente e com requintes de crueldade,
deixa a dolente saudade em seu lugar...
Por isso, abrigo-me nas almas dos poetas
incitando-os a lançarem ao vento
as palavras inspiradas neste meu intento:
— manter a chama do amor sempre acesa!
Mesmo que as expressões sejam indiscretas
e nem sempre revestidas de beleza...
E nunca é demais repetir:
melhor amar, ainda que sofrendo;
melhor a ilusão, que ter rancor remoendo;
melhor a paixão, inflamada a cada dia,
que trazer o coração congelado, a alma vazia
e, pouco a pouco, só de inércia ir morrendo...
Ah! O meu nome?... Pode chamar-me: POESIA!
Fonte:
Lucília Alzira Trindade Decarli. Inquietude. Bandeirantes/PR: Sthampa, 2008.
Livro entregue pela poetisa.
Lucília Alzira Trindade Decarli. Inquietude. Bandeirantes/PR: Sthampa, 2008.
Livro entregue pela poetisa.
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