Manoel Trindade
Era uma pessoa simples, trabalhava como diarista em serviços da lavoura. Morava na Raia. Depois, mudou-se para o Quarteirão dos Órfãos, sempre cultivando a terra no plantio de cereais. Nas horas de folga dedicava-se ao estudo das ciências do ocultismo. Tinha relações com a gente de São Paulo, de onde recebia os livros. Através desses estudos aprendeu a ser “curador”.
Manoel Trindade fazia muitos benefícios: curava as pessoas através da força mental, aconselhava-as em todas as situações problemáticas da vida, tais como brigas de família e brigas com vizinhos, sempre mostrando o melhor caminho. Fazia também simpatias para mordedura de cobra. Salvou muitas pessoas desenganadas de médicos.
Inúmeras pessoas que receberam seus benefícios ainda vivem hoje. O senhor Artur Bichels é um deles. Conta ele que estava muito bem disposto, andando lá pelos lados da Capelinha do Ninico. Para fugir de uma forte chuva que se iniciava pulou de um barranco alto; porém, ao invés de a queda ser amortecida pelo joelho, caiu seco e este se deslocou por dentro. Sentiu uma “ruindade”, segundo conta, e foi lavar o rosto à beira do rio. Mas aí escureceu o mundo de vez: teve que ser carregado para dentro de casa e ficou três meses de cama.
A dona Tuca Von Der Osten lembrou-se do Manoel Trindade e foi até a sua casa contar o caso e pedir um remédio. Ele preparou a “água benzida” para Artur Bichels e recomendou que banhasse com ela a coroa da cabeça e o peito. Conta o senhor Artur que levantava uma fumaça como se jogasse água na chapa fervendo. E quase que o pobre foi-se mesmo. Mas o Manoel Trindade havia dito que se até meia-noite a morte não se decidisse a usar a foice, ele estaria salvo. Felizmente, bem antes, o doente como que despertou e disse:
– Por que você me acordou? Justo agora que eu consegui um sono tão bom.
Manoel Trindade tinha também o poder de prever fatos. Conta-se que um homem foi pedir-lhe um remédio para sua mulher que estava acamada. Após fazer o remédio e entregar-lhe, comentou, à parte, com pessoas presentes:
– Que pena! Ela vai sarar, mas ele vai morrer.
De fato, logo que a mulher melhorou, o homem morreu inexplicavelmente.
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Município de Ivaté
A bola de fogo
Acontecia na estrada indo para Ivaí, contada por muitos moradores. Dizem que uma bola de fogo, ou de luz, não se sabe o que é, acompanha as pessoas a pé, de carro ou carroça. Quando se passa próximo à mata esta bola os acompanha. E é tão forte que as pessoas perdem até a direção do carro, se estiverem dirigindo.
Isto acontece, sempre, de meia-noite às três horas da madrugada. Algumas vezes, ao invés de acompanhar as pessoas ela fica em cima de uma árvore parada. Mais interessante ainda é que ela é veloz e chega à velocidade de um carro. Outro fator importante é que ela só aparece próxima a esta mata; só acompanha as pessoas nesta travessia, depois desaparece.
Conta-se que a luz aparece porque há algum tempo atrás um policial foi assassinado no fundo da mata. Outra versão é que a bola seja a “mãe do ouro”, ou seja, antigamente as pessoas tinham o hábito de enterrar ouro e as almas daquelas que morreram sem contar a ninguém ficaram penando pelo mundo.
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Município de São José dos Pinhais
O velório da virgem noiva
São José dos Pinhais, aí pelos anos de 1928, tinha ainda poucas casas, sem luz e sem água, nem esgoto, e havia muito mato e árvores com troncos enormes. Nessa época, não havia capela para velar os mortos e as pessoas velavam seus entes queridos em suas próprias casas. Havia dois compadres muito engraçados, que compareciam em todos os velórios para distrair do sono, os parentes e amigos do finado. Sabemos, quanto é difícil noites de inverno ter que passar em claro.
Certo dia, faleceu uma moça já de idade, mas muito séria e moralista. Vestiram-na toda de branco. Véu, grinalda, uma noiva completa. Estavam todos reunidos, velando a moça. Quando aí chegaram os compadres, por volta das 21 horas, pararam na porta um tanto assustados, olhando um para outro, disseram:
– Santo Deus do céu, será que era virgem mesmo? Cochichando nos ouvidos com olhar de malícia.
Lá pela meia-noite, deu uma dor de barriga em um dos compadres, ele foi até um bosque próximo do velório, fez suas necessidades; quando voltava, no pátio da casa, em noite de luar, viu a noiva que vinha toda de branco, passo a passo, pé por pé, aproximando-se cada vez mais. Chegando bem perto, ela disse:
– Ainda duvida de mim?
O compadre deu um salto para dentro da casa do velório, todo assustado, branco como a neve e disse ao seu companheiro:
– Não devemos brincar com quem já morreu.
Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.
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