segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Thalma Tavares (Poemas Avulsos) 5


A BOLHA

Rumando para o ocaso, onde a tarde se esfuma,
cai no horizonte o sol sobre a minha jornada;
tão vadia e fugaz como as bolhas de espuma
que têm certa a partida e não certa a chegada.

Quando um dia eu vivi essa bolha encantada
entreguei-me à ilusão e, sem prudência alguma,
não me fiz detentor de riqueza nenhuma,
mas cobri de lirismo a senda desolada.

E por isso eis-me aqui sob as vaias de Midas,
que jamais aprovou minhas taças erguidas;
efêmeros lauréis a enflorar-me a cerviz.

E o fulgor dos metais de que nunca fiz caso,
barganhei pelo verso e agora, em meu ocaso,
descubro que sou rei na paz que sempre quis.
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HOMO NON SAPIENS

Vive em cavernas, bronco e deletério
e tem por arma a pedra contundente.
Ele, que já foi larva e foi minério,
milhões de anos depois torna-se gente.

Contempla-se mais tarde interiormente
e erguendo o véu da sombra e do mistério
descobre-se animal inteligente
a impor sobre os demais o seu império.

Domina a terra, o ar, o céu, as águas,
mas guarda ainda frustrações e mágoas
apesar das batalhas que venceu.

Sempre a oscilar entre a ciência e o mito,
vive a buscar respostas no Infinito
para a eterna pergunta: - quem sou eu?
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NUNCA É TARDE

Como é difícil caminhar sofrendo!..
As pernas fracas, suplicando amparo,
vendo outras pernas, céleres, correndo,
criando em mim um sentimento amaro.

Parece que eu não tive um bom preparo
para aceitar a vida envelhecendo.
Mas lembro que em algum momento raro,
vencendo a idade eu me senti vivendo.

Assim é a vida!... E eu reconheço agora
que já não tenho esse vigor de outrora...
Mas mesmo assim prossigo e, sem tropeço,

sem cogitar de trilhos enfadonhos,
sigo a jornada resgatando sonhos,
colhendo as alegrias que mereço.
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PECADOS

Eu tenho pecados, e muitos, não nego.
Só Deus é quem sabe das culpas que expio,
dos erros, das faltas que eu triste carrego,
que o sono me roubam, por noites a fio.

Porque aos teus braços me atiro, me entrego,
minha alma anda triste qual planta no estio.
Mas Deus é culpado, se não me fez cego
à rara beleza do teu corpo esguio.

Não sei de pecados, mais doces, mais quentes
que a luz de teus olhos, teus lábios ardentes,
que enchem minha alma de sol e calor.

Mas tenho certeza que os nossos pecados,
por muitos que sejam, já estão perdoados,
pois não é pecado pecar por amor.
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SALMODIANDO

Eu trago em mim um cântico proscrito,
diverso dos que o público aplaudia.
E, como o querem cântico maldito,
novo verso lhe empresto a cada dia.

E, enquanto eu canto, noto o olhar aflito
dos que me aplaudem por hipocrisia.
Mas quando elevo a voz ao infinito,
minha lira não plange, salmodia.

E o meu canto se faz mas eloquente
clamando para que todo vivente
tenha pão, tenha vida em abundância.

Espero então, meu Deus, que o mundo entenda
este meu canto de amor e tire a venda
dos olhos desumanos da ganância.
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ZELOS

Eu tenho ciúmes desse ar que respiras,
dos olhos que são minha luz, meu alento,
que mudam-se às vezes em sóis de tormento
brilhando em teu rosto qual duas safiras.

Se ao fim não me contas por quem tu suspiras,
que finjas ao menos algum sentimento,
que apago os receios em meu pensamento
e aceito feliz umas doces mentiras...

Se já não me abraças com a mesma constância,
se eu sinto em teus beijos sabor de distância,
o amor entre nós mais encantos não tem...

E a causa maior de meu triste queixume,
está na razão deste ingente ciúme
que não te imagina querendo outro alguém.

Fonte:
Facebook do poeta

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