terça-feira, 14 de novembro de 2017

Olivaldo Júnior (Poemas Escolhidos) III

Um pequeno barco

Pela praia mais bonita,
onde o mundo é só um arco
e minh'alma é infinita,
vem vindo um pequeno barco...

Vem vindo um pequeno barco
que parece a minha vida:
porto a porto, vira um marco
que só marca despedida...

Barco a vela, vela ao vento
que nos leva para longe,
onde o mundo é um moinho

e essa praia, o movimento
da memória cujo bonde
traz à tona algum barquinho...
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Cora, doce Coralina!...
20/08/2017: 128º Aniversário de Cora Coralina+

Cora, doce Coralina!...
Inda acolhe uma menina,
a "doceira de Goiás",
num fazer que a satisfaz!...

Da colher, tão pequenina,
doce Cora, a Coralina,
faz nascer quem vai e faz,
verso a verso, sua paz!

Velho tacho acobreado,
no calor do coração,
ferve a obra, seu legado,

nobre amor que vira pão,
o poema adocicado
que de Cora vem à mão!...
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No Café do Amor Platônico

No Café do Amor Platônico,
bebo só com a Solidão,
pois meu bem ficou irônico
ao pedir-lhe a sua mão...

Já tomei meu "Biotônico",
me afoguei no chá em vão,
pois o mal é supersônico,
sempre alcança o coração.

No Café de quem foi bobo,
vou tomando amor com pão,
sou cordeiro, nunca o lobo...

Um pedaço a mais de "não",
e eu me perco no meu globo,
meu "mundinho" de ilusão.
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Uma pérola de homem...
À memória de Luiz Melodia (7/1/1951 - 4/8/2017)

Negra pérola em fulgor
fez nascer a melodia
que vibrou neste cantor
toda a luz da poesia...

'Luís Carlos' fez amor
com as fadas que 'tecia',
magrelinhas de valor,
negras musas, dia a dia...

Juventude Transviada
cala a boca frente à cruz,
ante à pérola apagada

que mantém a sua luz
sob as vistas da moçada
lá do Estácio, de Jesus.
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Pelas mãos do Agricultor
28 de julho: Dia do Agricultor

Lá no ventre da Mãe Terra,
pelas mãos do Agricultor,
a semente vence a guerra,
'primavera' à luz em flor.

A verdura que ela encerra,
pelas mãos do Agricultor,
mais saúde a nós descerra,
dando à vida mais sabor.

Sem veneno, tão divino,
pelas mãos do Agricultor,
cada ramo vira um hino,

canto verde de um labor
que, gigante ou pequenino,
faz nascer um lavra-dor!
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O escritor já está em casa
25 de julho: Dia Nacional do Escritor

- Falem baixo, por favor,
que o silêncio perde a asa!...
Devagar com seu andor,
o escritor já está em casa.

Cada estrela é um amor
que São Jorge logo abrasa!...
Deixe em brasa sua flor,
o escritor já está em casa...

O escritor já está em casa,
no seu quarto, sem ninguém,
pois jamais o "tal" se casa!...

Sem "donzela", nem vintém,
de uma "pena" faz a casa
que aprisiona e lhe faz bem.
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Para o filho que hoje é pai
13 de agosto de 2017: Dia dos Pais

Para o filho que hoje é pai,
toda a paz de ser alguém
cuja força não se esvai,
nem que parta para o Além...

Nem que parta para o Além,
quem foi filho e já foi pai
nunca fica sem ninguém,
pois é filho de Deus Pai...

Num asilo, lá no "exílio",
para o pai que já foi filho
sempre é dia de pensar

que seu filho vai voltar
e, vagão com fé no trilho,
ter o pai por estribilho.

Fonte: O Autor

domingo, 12 de novembro de 2017

Contos do Mundo: Brasil (A Festa no Céu)

Entre os bichos da floresta, espalhou-se a notícia de que haveria uma festa no Céu. Porém, só foram convidados os animais que voam. As aves ficaram animadíssimas com a notícia, começaram a falar da festa por todos os cantos da floresta. Aproveitavam para provocar inveja nos outros animais, que não podiam voar.

Um sapo muito malandro, que vivia no brejo, lá no meio da floresta, ficou com muita vontade de participar do evento. Resolveu que iria de qualquer jeito, e saiu espalhando para todos, que também fora convidado.

Os animais que ouviam o sapo contar vantagem, que também havia sido convidado para a festa no céu, riam dele.

Imaginem o sapo, pesadão, não aguentava nem correr, que diria voar até a tal festa! Durante muitos dias, o pobre sapinho, virou motivo de gozação de toda a floresta.

- Tira essa idéia da cabeça, amigo sapo. - “ dizia o esquilo, descendo da árvore.- Bichos como nós, que não voam, não têm chances de aparecer na Festa no Céu.

- Eu vou sim.- dizia o sapo muito esperançoso. - Ainda não sei como, mas irei. Não é justo fazerem uma festa dessas e excluírem a maioria dos animais.

Depois de muito pensar, o sapo formulou um plano. Horas antes da festa, procurou o urubu. Conversaram muito, e se divertiram com as piadas que o sapo contava. Já quase de noite, o sapo se despediu do amigo:

- Bom, meu caro urubu, vou indo para o meu descanso, afinal, mais tarde preciso estar bem disposto e animado para curtir a festa.

– Você vai mesmo, amigo sapo? - perguntou o urubu, meio desconfiado.

– Claro, não perderia essa festa por nada. - disse o sapo já em retirada.- Até amanhã!

Porém, em vez de sair, o sapo deu uma volta, pulou a janela da casa do urubu e vendo a viola dele em cima da cama, resolveu esconder-se dentro dela.

Chegada a hora da festa,o urubu pegou a sua viola, amarrou-a em seu pescoço e voou em direção ao céu. Ao chegar ao céu, o urubu deixou sua viola num canto e foi procurar as outras aves. O sapo aproveitou para espiar e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e saltou da viola, todo contente.

As aves ficaram muito surpresas ao verem o sapo dançando e pulando no céu. Todos queriam saber como ele havia chegado lá, mas o sapo esquivando-se mudava de conversa e ia se divertir. Estava quase amanhecendo, quando o sapo resolveu que era hora de se preparar para a "carona" com o urubu. Saiu sem que ninguém percebesse, e entrou na viola do urubu, que estava encostada num cantinho do salão.

O sol já estava surgindo, quando a festa acabou e os convidados foram voando, cada um para o seu destino. O urubu pegou a sua viola e voou em direção à  floresta. Voava tranquilo, quando no meio do caminho sentiu algo se mexer dentro da viola. Espiou dentro do instrumento e avistou o sapo dormindo , todo encolhido, parecia uma bola.

- Ah! Que sapo folgado! Foi assim que você foi à festa no Céu? Sem pedir, sem avisar e ainda me fez de bobo!

E lá do alto, ele virou sua viola até que o sapo despencou direto para o chão. A queda foi impressionante. O sapo caiu em cima das pedras do leito de um rio, e mais impressionante ainda foi que ele não morreu. Nossa Senhora, viu o que aconteceu e salvou o bichinho. Mas nas suas costas ficou a marca da queda; uma porção de remendos. É por isso que os sapos possuem uns desenhos estranhos nas costas, é uma homenagem de Deus a este sapinho atrevido, mas de bom coração.

Fonte:
Christiane Angelotti, adaptação do conto de Luís da Câmara Cascudo. Disponível em Contos de Encantar