quinta-feira, 17 de maio de 2012

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 5


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente estão sendo postados Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.


21
Lúcia Osana Zolin
Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira
REPRESENTAÇÃO/CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA BRASILEIRA


No âmbito dos estudos literários contemporâneos e, de modo especial, dos estudos de gênero, a noção de representação ocupa um espaço de incontestável importância. Isso porque, nas últimas décadas, a crítica literária tem refletido acerca de seu objeto a partir de vieses teóricos que problematizam insistentemente a relação texto-contexto. O conceito aponta significações múltiplas, entre elas, para o ato de fazer as vezes da realidade representada; ou para o de tornar uma realidade visível, exibindo-lhe a presença (GINZBURG, 2001).

De acordo com Chartier (1990), é “instrumento de um conhecimento mediador que faz ver um objeto ausente através da substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o figurar como ele é”. As representações são variáveis e determinadas pelos grupos ou pelas classes que as edificam; sendo que o poder e a dominação estão sempre presentes. Também para Bourdieu (1998), uma das principais problemáticas que envolvem a questão da representação reside nas imposições e lutas pelo monopólio da visão legítima do mundo social. O fato é que a identidade do ser ou da coisa representada, não raro, se resume à aparência dela, escamoteada que está por configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída.

O conceito foucaultiano de discurso, relacionado com o desejo e com o poder, traz, igualmente, importantes contribuições ao trabalho de identificação do modo como as “verdades” são edificadas. Tem contribuído com a crítica literária no sentido de investigar as fronteiras entre o real e o ficcional e refletir acerca do tema da representação dos seres e das coisas pela linguagem. Consideradas como “fatos”, as práticas discursivas e os poderes que as permeiam ligam-se a uma ordem imposta, cujas redundâncias de conteúdos reproduzem o sistema de valores das tradições de uma dada sociedade, em uma determinada época, autorizando o que é permitido dizer, de que maneira se pode dizê-lo, quem o pode dizer e a que instituição o que está sendo dito se vincula.

Para reverter esse estado de coisas, há que se promover o desnudamento das condições de funcionamento do jogo discursivo e de seus efeitos (Foucault, 2001). Se representar significa dar visibilidade ao outro, no dizer de Chartier (1990), pode significar, também, falar em nome do outro. Para ter assegurado o direito de falar, enquanto o outro é silenciado, o sujeito que fala se investe de um poder que lhe é doado por circunstâncias legitimadas pelo lugar que ocupa na sociedade, delimitado em função de sua classe, de sua raça e, entre outros referentes, de seu gênero os quais o definem como o centro, a referência, o paradigma, enfim, do discurso proferido. Historicamente, esse sujeito imbuído do direito de falar - e falar com autoridade - é de classe média-alta, branco, e pertencente ao sexo masculino. No âmbito da arte literária, até meados do século passado, os discursos dominantes vinham circunscrevendo espaços privilegiados de expressão e, consequentemente, silenciando as produções ditas “menores”, provenientes de segmentos sociais “desautorizados”, como as das minorias e dos/as marginalizados/as. No limite, o quadro comportava, de um lado, a visibilidade das obras canônicas, a chamada “alta cultura”, cujas formas de consagração guardam relações bastante estreitas com o modo de o mundo ser representado, com a ideologia aí veiculada e, também, é claro, com quem o está representando. De outro, o apagamento da diversidade proveniente das perspectivas sociais marginais, que incluem mulheres, negros, homossexuais, não-católicos, operários, desempregados...

Tendo isso em vista e, sobretudo, a tradição literária de mulheres que, no Brasil, nasce na segunda metade do século XIX, bem como as reflexões teóricas acerca da representação literária, empreendidas pelos teóricos/as empenhados em debater o tema, este simpósio propõe o debate da representação/construção de identidades na literatura de autoria feminina.

22
Cecil Jeanine Albert Zinani
Salete Rosa Pezzi dos Santos
REPRESENTAÇÕES DO SUJEITO FEMININO: GÊNERO, SEXUALIDADE, IDENTIDADE, HISTÓRIA


No contexto cultural da pós-modernidade, destaca-se a voz feminina, na medida em que, apropriando-se da palavra, denuncia sua exclusão e defende seu direito de falar e de representar-se nos diferentes domínios tanto público quanto privado. Nos estudos sobre a mulher, ressalta a questão da sexualidade feminina, no sentido de verificar a relação existente entre sexualidade e dominação.

Para Foucault (1988, p. 46), a sociedade burguesa oitocentista é \"uma sociedade de perversão explosiva e fragmentada\". Nesse aspecto, complementa Giddens (1993, p. 30), \"o estudo e a criação de discursos sobre o sexo levaram ao desenvolvimento de vários contextos de poder e de conhecimento”. Rita Schmidt, em “Repensando a cultura, a literatura e o espaço da autoria feminina”(1995), destaca a importância da inserção da prática discursiva feminina no espaço do logos, classificando-a como um ato político, na medida em que a mulher desconstrói a sua imagem negativa projetada pelas práticas culturais masculinas que constituem a norma, o padrão.

Considerando essa perspectiva, assoma a relevância da obra literária, na medida em que ela faculta uma nova consciência receptora, visto abrir-se para o leitor outra possibilidade de percepção do mundo, tanto da realidade externa quanto interna. Assim, é possível pensar que narrativas que se movimentem em torno da representação do sujeito feminino poderão favorecer a problematização de vivências da mulher, desestabilizando mecanismos de poder e colocando em pauta a hierarquização de gêneros, cujas relações se estabelecem não apenas a partir da noção de diferença, mas também da concepção de inferioridade, marcadamente, feminina.

A identidade de gênero, como qualquer outro aspecto da identidade cultural, configura-se dentro de um processo socioistórico, não constituindo um componente fixo, permanente, mas móvel e transitório. Na medida em que os elementos formadores da cultura operam o movimento de articulação/desarticulação, a identidade modifica sua configuração, como também os próprios sujeitos, que, devido a sua vivência e experiência, re-inventam, ressignificando a sua identidade.

A construção da identidade feminina, num território periférico como a América Latina, está mediada por um sistema de representações culturais de características patriarcais e androcêntricas, tidas como naturais, ou seja, fundadas numa dominação legítima que precisa ser subvertida para que essa construção se efetive. Assim, é impraticável pensar essa identidade sem levar em consideração o sistema de gênero, uma vez que é esse sistema que vai codificar o comportamento e o desempenho dos sujeitos sociais tendo como base o fator biológico. Essa modalidade de representação, além de posicionar o sujeito no espectro social, caracteriza e dá significado ao sujeito, condicionando uma organização social assimétrica, em que o masculino define-se a partir do centro, do positivo, restando para o feminino a posição marginal (SCHNEIDER, 2000).

Questões fundamentais ligadas à história da literatura e às representações de gênero, identidade e sexualidade, perpassadas, transversalmente, pelo olhar da história e da psicanálise, constituem o objeto de problematização do presente simpósio.

23
Márcio Roberto do Prado
Jaime dos Reis Sant Anna
SOB O SIGNO DA CONVERGÊNCIA: ARTICULAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICAS DE SALA DE AULA NO ENSINO DE LITERATURA


Quando pensamos nos aspectos ligados ao estudo da literatura, sobretudo no meio universitário, não é raro que tenhamos uma cisão entre uma abordagem eminentemente teórica e outra de viés prático, voltada para a aplicação de conteúdos em sala de aula. Assim, a abordagem teórica destacaria a pesquisa e a produção de conhecimento científico para divulgação por meio de publicações de livros e periódicos especializados, ao passo que a prática visaria questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como foco a otimização de tal processo e o estabelecimento de estratégias e planos capazes de contribuir para semelhante cenário de eficiência.

Todavia, essa separação não existe em termos tão radicais, de modo que as questões ligadas à Teoria da Literatura e aquelas que lançam mão de uma prerrogativa didático-pedagógica acabam por se articular, cruzando-se várias vezes. De modo mais incisivo, podemos ainda destacar que semelhante “contaminação” contribui para o avanço nas duas frentes, uma vez que permite que se lance luz sobre aspectos que, diante de uma idealizada (e impossível) segmentação inquestionável, seriam, no mínimo, negligenciados. Tendo em vista este panorama, cumpre destacar que se trata de algo em perfeita consonância com as demandas atuais em termos que não se limitam ao contexto de pesquisa científica academicamente considerada e da sala de aula no âmbito do ensino de literatura. Nomes como Henry Jenkins apontam para a natureza de convergencial de nossa cultura (atingindo, assim, a atividade docente), na qual mídias, interesses e indivíduos encontram pontos de contato teleologicamente organizados, o que abarca inclusive a convergência teórico-prática. Outros, como Pierre Lévy, destacam o contexto cultural que emerge do impacto das tecnologias de informação e comunicação em nossas vidas, em suas mais variadas frentes (a “cibercultura”), mostrando como há uma urgência e uma obrigatoriedade de modificações em diversos de nossos paradigmas, não escapando dessa condição o próprio professor que, instigado por uma verdadeira revolução na dinâmica comunicacional, vê-se impelido a buscar novas possibilidades que, por seu turno, têm como condição incontornável uma reflexão teórica mais pormenorizada capaz de dar base a essas possibilidades que se abrem.

Assim, impõe-se um cenário em que o professor deve ir além (sem desconsideração) do tradicional tripé “giz-lousa-saliva” e lançar mão de recursos tecnológicos e das mídias deles emergentes, além de propostas de ensino e de verificações de aprendizagem capazes de utilizá-los de modo eficiente. Por seu turno, o pesquisador não pode fechar os olhos para tais inovações, uma vez que seu reflexo até mesmo em nossa concepção de arte e, portanto, de literatura, é por demais evidente, destacando a importância de inovações equivalentes em termos de instrumental teórico e crítico.

Deste modo, o presente simpósio pretende abordar variadas facetas de abordagem das questões suscitadas pela articulação entre Teoria da Literatura e Metodologia do Ensino de Literatura, destacando em especial aquelas que enfoquem a mediação de leitura e a formação do leitor, bem como as atuais demandas tecnológicas e comunicacionais, com o intuito de apresentar reflexões e experiências ilustrativas nesse sentido. Por fim, tomará forma uma visão mais colaborativa e interativa do professor e do pesquisador, visão esta capaz de ilustrar com eloquência que a prática sem teoria é diletantismo, ao passo que a teoria sem a prática é alienação.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

Nenhum comentário: