sábado, 19 de maio de 2012

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 1


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.

1
Edson Rosa Francisco de Souza
Ana Cristina Jaeger Hintze
A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL E OS ESTUDOS DE GRAMATICALIZAÇÃO - INTERFACES POSSÍVEIS


O objetivo deste simpósio é reunir diferentes estudos de orientação funcionalista que vêm sendo desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Especificamente, o propósito dos trabalhos é discutir questões de mudança gramatical/semântica em diferentes unidades linguísticas (orações, verbos, conjunções, advérbios), a partir de princípios teóricos provenientes tanto da Teoria da Gramaticalização (HEINE et alii, 1991; HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 1995, 1999; TRAUGOTT & KÖNIG, 1991; BYBEE et alii, 1994; BYBEE, 2003) quanto da Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997; NEVES, 2000; HENGEVELD & MACKENZIE, 2008).

Em termos gerais, a gramaticalização (GR, doravante) é definida aqui como um processo de mudança linguística de caráter unidirecional, no interior do qual itens ou “construções lexicais” (HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 2003) passam a exercer funções gramaticais ou, se já gramaticalizados, continuam a desenvolver funções ainda mais gramaticais. Trata-se de um processo de mudança linguística que pode afetar, de diferentes formas e em diferentes graus, a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica das línguas naturais. Como afirmam Traugott e Heine (1991), pode-se dizer que o termo se refere à parte da teoria da linguagem que tem por objeto a interdependência entre langue e parole, entre o categorial e o menos categorial, entre o fixo e o menos fixo na língua.

Na verdade, o estudo da gramaticalização põe em evidência a tensão entre a expressão lexical, por exemplo, relativamente livre de restrições, e a codificação morfossintática, mais sujeita a restrições, salientando a indeterminação relativa da língua e o caráter não discreto de suas categorias.

As análises aqui propostas, portanto, devem ser compreendidas como manifestações complexas que concebem as atividades linguísticas de sujeitos que, primordialmente, partem de escolhas comunicativamente adequadas e operam as variáveis dentro de condicionamentos ditados pelo processo de produção de enunciados em condições reais de uso. Ou seja, as investigações avaliam as condições dessas escolhas para o cumprimento de determinadas funções; as condições de produção dessas estruturas; as estratégias e os elementos que efetivamente operam para a construção textual/discursiva. Nesse caso, considera-se tanto a mudança que ocorre devido ao aumento gradual da pragmatização do significado, (inferência) quanto a que ocorre mediante o aumento de abstratização do item linguístico (estratégias metafóricas), evidenciando um processo que vai do uso mais concreto para um uso mais abstrato-expressivo.

Assim, considerando-se os pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional, que muito se assemelha à proposta de Traugott e Hopper e Traugott, e que têm servido como modelo de descrição gramatical e interpretação do processo de mudança linguística, aceitam-se, no presente simpósio, trabalhos que possam apresentar e caracterizar esta possível interface. Mediante tais análises, objetiva-se compreender como as regularidades de certas escolhas podem alterar o sistema linguístico.

2
Alba Maria Perfeito
Terezinha da Conceição Costa-Hübes
CONCEPÇÃO INTERATIVA DE LINGUAGEM E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ABORDAGENS E REFLEXÕES TEÓRICO-PRÁTICAS


Entende-se neste simpósio, de acordo com as OCEM (2006) que a política curricular deve ser interpretada como manifestação de uma política cultural, ao selecionar conteúdos e práticas de uma determinada cultura para serem abordados na instituição escolar. Isso implica, no que tange à disciplina de Língua Portuguesa na educação básica, a construção gradativa de saberes textuais, que circulam socialmente, no apuro das práticas de leitura e de escrita, de fala e de escuta e no desenvolvimento da capacidade de reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem, em contínua ampliação, com a clareza de que, em um mundo de rápidas transformações, o aluno deve tornar-se sujeito construtor de sua história.

A linguagem, nesse sentido, deve ser concebida como meio de interação, como local das relações sociais em que homens atuam como sujeitos, ou, mais apropriadamente, constituem-se sujeitos. Em consequência, compreende-se que o papel da disciplina em questão é o de oportunizar ao discente, por meio de ações sistemáticas, o desenvolvimento das atividades de produção de linguagem em diversas situações interativas, perpassando formas de funcionamento da língua e modos de expressão da linguagem, ao construir seus saberes linguísticos em diferentes contextos.

Nessa perspectiva, faz-se necessário salientar, em termos de teorias linguísticas subjacentes, que a concepção de linguagem em foco recebeu contribuições de várias áreas de estudos mais recentes, buscando analisar a linguagem em situação de uso, como a Teoria da Enunciação de Benveniste, a Pragmática, a Semântica Argumentativa, a Análise da Conversação, a Análise do Discurso, a Linguística Textual, a Sociolingüística, a Enunciação Dialógica de Bakhtin. É relevante observar, inclusive, que, historicamente, há aproximadamente trinta anos, no Brasil, discute-se a visão interativa para o ensino, seja por meio da teoria piagetiana, na relação sujeito-objeto de ensino, seja pela vigostskiana: sujeito - mediador - via signo (ideológico).

Mais especificamente, em termos Língua Portuguesa, a concepção interativa no ensino foi inicialmente proposta, no país, por Geraldi (1984), sobretudo, na integração, sem artificialidade, das práticas de leitura, análise linguística, de produção e refacção textuais – fundamentado, no caso, pela teoria bakhtiniana. Após perpassarem documentos estaduais, na década de 90 do século passado, os estudos geraldianos e de seguidores foram incorporados e/ou ampliados/redimensionados em documentos nacionais e regionais e, nesse contexto, pesquisas teórico-práticas foram/são efetuadas em instituições de ensino superior.

É com essa breve configuração de abordagem da visão interativa da linguagem que se pretende no simpósio:

i) constituir um espaço congregador de propostas de ensino de Língua Portuguesa, na educação básica, que integrem as práticas de leitura, análise linguística e produção textual, subsidiadas pela concepção de linguagem em pauta;

ii) propiciar a reflexão sobre a heterogeneidade das perspectivas teóricas subjacentes à prática;

iii) analisar o processo de didatização, o qual envolve rupturas, deslocamentos e modificações - sendo, pois, (re)significado no contexto da ação.

3
Fernando Felício Pachi Filho
Renata Marcelle Lara Pimentel
DISCURSIVIDADES EM DIFERENTES SUPORTES MIDIÁTICOS


Este simpósio visa questionar se é possível delinear formações discursivas em que se inscrevem os diversos acontecimentos na mídia em relação aos suportes em que as informações circulam, sejam eles digitais, impressos ou eletrônicos, ou seja, busca-se explorar discursividades midiáticas, sejam elas impressas ou digitais, de acordo com as potencialidades específicas dos meios. Dessa forma, admiti-se a instabilidade dessas formações, sua permeabilidade e contradições que se formam em seu interior, que permitem a constituição de novos sentidos.

A produção de sentidos vincula-se às possibilidades enunciativas em períodos históricos, em relação ao que é dito, a sentidos anteriores, a não-ditos, ou seja, às condições de produção, entre as quais o suporte em que se inserem os enunciados. Há ainda uma variação do sentido que deve ser captada no movimento da história e da linguagem. Esta variação só é possível porque há rupturas nos sentidos dominantes, falhas (bloqueios da ordem ideológica) que abrem à possibilidade de polissemia, deslocando sentidos e fazendo emergir o novo, o diferente, o ressignificado, o reformulável. Pergunta-se, portanto, se e como o suporte midiático deve ser levado em conta em análises não apenas em termos de condição de produção dos discursos, mas também como determinantes para a constituição de novos sentidos, logo de formações discursivas.

A observação e análise dos diversos suportes midiáticos, em termos comparativos, permite compreender o funcionamento dos discursos, delimitando-se como as interpretações para os acontecimentos são constituídas. Pretende-se, dessa forma, compreender como objetos simbólicos, por definição não-transparentes, produzem sentidos, e os gestos de interpretação realizados pelos sujeitos. Tendo em vista que a formação de corpus é também uma construção do próprio analista, que seleciona o material de acordo com os objetivos de sua análise, questiona-se se, corpus abertos, formados com materiais de diferentes suportes midiáticos, apresentam propriedades discursivas diferentes ou semelhantes.

Além disso, busca-se compreender como os sentidos são homogeneizados em determinadas formações, de acordo com o jogo de forças presentes na sociedade, cristalizando interpretações em relação a formações ideológicas que as sustentam. As temáticas de interesse para este simpósio envolvem, entre outros, sujeitos, formações discursivas e ideológicas, memória e insconsciente, contradição e resistência. A explosão tecnológica e o acesso a dispositivos de tecnologia (celulares, laptops, etc.) levaram a uma potencialização crescente de produtores informais de enunciados midiáticos na internet e também fora dela e/ou não diretamente ligada a ela, mas que também se inscrevem como co-participantes das mídias impressas e eletrônicas (jornais, revistas, etc.). Ocorre, assim, uma fragmentação crescente dos discursos produzidos no espaço público.

Frente a isso, situa-se o interesse pelo funcionamento de discursos possíveis e em circulação em novos ou nos mesmos formatos, repetíveis, reorganizados e/ou modificados, ressignificados ou não.

4
Pedro Navarro
Carlos Piovezani
DISCURSO E SUJEITO: ABORDAGENS TEÓRICO-ANALÍTICAS EM TORNO DA SUBJETIVIDADE, DO CORPO E DA FALA PÚBLICA


Este simpósio, intitulado Discurso e sujeito: abordagens teórico-analíticas em torno da subjetividade, do corpo e da fala pública, tem por finalidade congregar pesquisadores que se debruçam sobre questões concernentes à formulação e à produção de discursos circulantes em espaços institucionais e em textos midiáticos. Assim, os trabalhos a serem apresentados devem girar em torno de dois eixos centrais à Análise de Discurso, quais sejam: o discurso visto como objeto histórico e em diferentes materialidades e o sujeito e as práticas discursivas de produção de identidades e de subjetivação.

Sobre o primeiro eixo, à concepção tão cara de discurso como algo da ordem da história e da língua, somam-se abordagens teóricas que consideram não somente o linguístico como parte integrante dos processos discursivos, mas também o nível imagético e sonoro. Nesse sentido, o caráter semiológico do enunciado, tal como podemos concluir do texto d’A arqueologia do saber, de Michel Foucault (1972) e as pesquisas empreendidas por Jean-Jacques Courtine (2008; 2006), sobre a história do corpo e da fala pública, configuram, atualmente, importantes dispositivos teóricos e metodológicos, com os quais é possível descrever discursos, não perdendo de vista a dispersão enunciativa que lhes é própria e a heterogeneidade de linguagens por meio das quais eles se realizam como acontecimento singular e repetível. No que concerne às pesquisas sobre a produção de subjetividade na relação com os jogos de saber/poder, considera-se oportuno discutir a produção de subejtividades, em um contexto marcado pela desestabilização das velhas identidades sólidas e pela liquidez das formações discursivas.

De um ponto de vista genealógico, a concepção de história em Foucault, pautada na filosofia de Nietzsche, não toma para si a tarefa de reencontrar aquilo que poderia ser raízes de nossa identidade. Pelo contrário, a função dessa história genealogicamente dirigida é dissipar aquilo que liga os homens a uma identidade, ao fazer aparecer todas as descontinuidades que os atravessam.

O alcance dessa perspectiva histórica para as análises discursivas impõe projetos de pesquisa que promovam uma espécie de dissociação sistemática das imagens de identidade que se projetam sobre os sujeitos, se consideramos, como o faz Foucault, que a identidade que tentamos assegurar e reunir sob uma máscara não passa de uma paródia: o plural a habita, inumeráveis almas nela disputam; sistemas se entrecruzam e dominam uns aos outros. Nesse sentido, esse segundo eixo contempla tanto a análise dos dispositivos de subjetivação, que, nos discursos, transformam os indivíduos em objeto e sujeito de um saber, por meio da regulação e do controle da vida, quanto as tecnologias do eu, por meio das quais se produz, discursivamente, a ideia de um sujeito “cuidadoso de si” (FOUCAULT, 1984).

Espera-se, assim, criar um espaço em que se discutam questões relativas à constituição, formulação e circulação de diferentes materialidades discursivas, bem como proporcionar debates acerca da produção do sujeito, a partir de enunciados que circulam nos meios de comunicação de massa.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

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