Quando eu não mais existir,
E talvez só cinzas for,
Creio que alguém há de sentir,
Saudades do trovador!
Quando vejo um beija-flor,
Nas roseiras do jardim,
Corro e beijo o meu amor,
Que também perfuma assim!
Dizem que para se amar,
Deve-se ter coração;
Assim não posso explicar,
Por que tu me amaste então?
A vida é cheia de males,
Às vezes é cheia de dor;
Por isso eu peço que cales,
Eu sofro mal de amor!
Saudade levo comigo,
Contigo deixo também,
A saudade é o inimigo,
Mais cruel que a gente tem!
Se o mundo fosse um canteiro,
E você fosse uma rosa,
Eu queria ser jardineiro,
Para beijá-la, cheirosa!
Essa trova tão singela,
Que exprime amargor,
Foi composta por ela,
Que negou-me o seu amor!
Nesta vida muita gente,
Sofre muito por amar,
Minha dor é diferente,
Eu só quero te deixar!
Quisera ser passarinho,
Para voar na amplidão,
E depois, pousar de mansinho,
Na palma de tua mão!
Caminhei muitos caminhos,
Por estradas mil passei,
Só achei dores, espinhos,
Até que eu te encontrei!
Eu sei que vou padecer,
Uma tortura tão louca,
Mas não me deixes morrer,
Sem antes beijar tua boca!
Irmã gêmea da tristeza,
E talvez, prima do amor,
A saudade é dureza,
E um peito sofredor!
Dizem que o mel é doce,
E que tem um bom sabor;
Quem dera que ela fosse,
Como os lábios do meu amor.
Eu sei que não posso dizer,
O calor que tem seu olhar,
Mas sei que pode ferver
Todas as águas do mar!
Uma coisa neste mundo
Que o meu coração palpita,
É dormir sono profundo,
No colo de moça bonita!
A lembrança mais sentida
Que trago nos dias meus,
Foi o dia de sua partida,
Sem dizer-me um só adeus!
Disse o poeta que a saudade,
É espinho cheirando flor;
Eu penso que é crueldade,
É lembrança de um amor!
Trouxe saudade, desgosto,
Da terra onde nasci,
Mas sepultei-as em teu rosto,
Tão logo, te conheci!
Quisera com emoção,
Feliz, carregar-te em dia
Na palma da minha mão,
Onde teu nome inicia!
Se amar é mesmo pecado,
O próprio Jesus pecou,
Pois amou até o soldado,
Que o peito o transpassou!
Bate o sino na capela,
Na tarde serena e calma;
Quando a vejo na janela,
Bate o sino da minha alma!
Por que choras passarinho,
À hora do pôr-do-sol?
Eu também estou sozinho,
Ó meu triste rouxinol!
Muito eu já tenho rogado,
Se não lhe desse desgosto,
Eu quisera ser enterrado,
Na covinha do teu rosto!
Garimpei por entre escolhos,
À procura de um tesouro;
Vi diamantes nos teus olhos,
E nos teus cabelos, ouro!
Chegaste na minha vida,
Como ave de arribação,
Dei-te agasalhos e comida,
Só me deste desilusão!
Sofro muito e me consolo,
Porque tenho esperança,
De deitar-me no teu colo,
E dormir igual criança!
Dizem que o amor é um ninho,
Macio igual algodão;
Eu creio ser feito de espinho,
E coça igual tinhorão!
Quando miro nos teus olhos,
Às vezes fico pensando,
Se olho verdes abrolhos,
Ou se eles estão me olhando!
Meu amor, a minha vida
Está toda condenada;
Sou a triste ilusão perdida,
Um vulto só, e mais nada!
Não sei porque tu me olhaste,
Se eu não posso te amar;
Por acaso já pensaste,
Como fere o teu olhar?
Guardo comigo um queixume,
E jamais pude dizê-lo,
Quisera ser vagalume,
Na noite do seu cabelo!
Meu laço de fita verde,
De tão velho desbotou,
Esperando na parede,
Um amor que não voltou!
Uma vez que te pedi um beijo,
Para selar o nosso amor,
Respondeste com gracejo;
Tal selo não tem valor!
Ah! Se Deus me desse sorte,
De escolher onde espirar,
Eu quisera ter a morte,
No abismo de teu olhar!
Não sei dizer o que sinto,
Quando beijo aos lábios teus;
Para mim, juro, não minto,
É a maior graça de Deus!
Teve a boa mãe natureza,
Com você carinho e gosto;
Deu-lhe uma rara beleza,
E linda pinta no rosto!
Tinha tudo e me casei,
Minha mãe ficou chorando,
Até hoje não encontrei,
O que estava procurando!
Se você ver a alvorada,
Quando vai romper o dia,
É uma sombra desbotada,
Da beleza de Maria!
A palmeira solitária,
Lá no alto da colina,
Já a quase centenária,
Pois te vi quando menina!
Tenho sido humilhado
Muita dor meu peito encerra;
Bem diz o velho ditado;
Ninguém é rei em sua terra!
Se quiseres ver ao certo,
Um oásis de bonança,
Observe bem de perto,
Os olhos de uma criança!
Esta vida é banal,
A grande verdade encerra;
O homem que é mortal,
É um transeunte na terra!
Por ambição eu deixei,
Minha mãe, anjo de luz;
Hoje, saudoso voltei,
E só encontrei sua cruz!
Gameleira mutilada,
Que faz sombra pelo chão,
Vou vingar a machadada,
Que lhe deu aquela mão!
Certa vez eu vi um cego,
Puxado por um menino;
Eu tive inveja, não nego,
Do gesto do pequenino!
Diz alguém que eu sou culto,
De carreira promissora;
Deve tudo a um vulto,
Minha santa professora!
Se pudesse o meu destino,
Conceder-me uma esmola,
Eu quisera ser um menino,
Pra voltar à minha escola!
Relógio da minha vida,
Por que disparas assim?
para que tanta corrida,
Se tem que chegar ao fim?!
O homem que tem juízo,
E bondoso de coração,
Responde com um sorriso,
As afrontes que lhe dão!
Do milionário, triste sina,
Saber que ele vai morrer,
Pode comprar a medicina,
E nada lhe vai valer!
Sem pensar e sem maldade,
Eu esbanjei gastando à bessa,
Um tesouro, a mocidade,
Que acabou-se tão depressa!
O único beijo do mundo,
Que não foi prova de amor,
Foi o de Judas, imundo,
na face do Salvador!
Todos tem o seu destino,
Até o rio que corre,
Mas o pobre peregrino,
Só no dia em que ele morre!
Há homem culto e bronco,
Para nós não é segredo;
Um nasceu para ser o tronco,
O outro simples arvoredo!
Certa vez eu vi um amigo,
Que chorou para morrer!
Até hoje eu não consigo,
A sua lágrima entender!
Na vida há muita gente,
Que nos sorri de alegria;
Por dentro é diferente,
É tudo hipocrisia!
Os lírios níveos do mato,
Que vicejam na solidão,
Tem muito mais aparato,
Que as vestes de Salomão!
Olhai as aves do céu,
Não plantam, não sabem ler,
Vivem felizes ao léu,
E Deus lhes dá o que comer!
Se eu parar de fazer trova,
Por faltar inspiração,
Quero do doutor a prova,
Que morri foi de paixão!
Há muita gente que insiste,
Em só reclamar da sorte;
Mas a pior vida que existe,
É bem melhor do que a morte!
Meu querido arvoredo,
Meu destino agora é seu,
Você sabe o meu segredo,
Foi aqui que aconteceu!
Deixaste-me por dinheiro,
E trocaste o meu amor,
Por um vil aventureiro,
Que não tem nenhum valor!
Alguém diz que não esquece
Na vida o primeiro amor,
É uma chama que aquece,
A alma do sofredor!
O homem vive em carreira,
Numa luta insofrida;
Tudo! De qualquer maneira,
Chegará ao fim da vida!
A pérola tão luzidia,
Que hoje brilha e reluz,
Foi a lágrima de Maria,
Que correu ao pé da cruz!
Já tive muitos amores,
No curso da minha vida,
São estes os meus valores,
Que levo para outra vida!
Nem sempre a rara beleza,
Felicidade irradia;
Carinho e delicadeza,
É que nos traz simpatia!
Eu quero na sepultura,
Onde um dia eu repousar,
Este dito de ternura:
Voltarei para te buscar!
O olhar que tem mais brilho,
E penetra mais profundo,
É o olhar da mãe pro filho,
Quando este vem ao mundo!
Dizem que o homem de idade,
Volta a fazer criancice,
Claro, pois sente saudade,
Do tempo da meninice!
O ser mais rico que existe,
Aqui na face da terra,
A sua riqueza consiste,
Em sete palmos de terra!
Alguém diz que de amar tanto,
Vai o homem para o inferno;
Há porém o amor santo,
E também o amor materno!
Os prazeres indizíveis,
Quie adornam o meu passado,
São dias inesquecíveis,
Que vivi, só a teu lado!
Vim para matar saudade,
Consolar meu coração,
Hoje volto pra cidade,
Mais pesado de paixão!
A cruzinha da estrada,
Toda enfeitada de flor,
Faz lembrar-me a doce amada,
Que morreu por meu amor!
Minha mãe, quando nasci,
Contemplou-me a chorar,
Desde então sempre segui,
O fulgor daquele olhar!
Aquele beijo envolvente,
De lembrança tão querida,
Foi o beijo mais ardente,
Que roubei na minha vida!
Eu não posso te querer,
Pois sou pobre, sem valor,
Vou lutar para merecer,
O teu dote, o teu amor!
Não permita o meu fado,
Que eu morra de solidão,
Deixe que eu seja enterrado,
Dentro do teu coração!
Eu nunca aprendi a nadar,
E jamais eu quis fazê-lo,
Só para um dia afogar,
Nas ondas do teu cabelo!
Vou lhe dar o seu presente,
É tão lindo e delicado,
Feito de couro reluzente,
Um rico anel de noivado!
A mulher é criticada,
Pelos lindos dotes seus;
Do demônio não tem nada,
É a obra prima de Deus!
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