quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cleonice Rainho (Caderno de Poemas)


INFÂNCIA

Sou pequeno
e penso em coisas grandes:
pomares e mais pomares,
jardins de flores e flores
e pelas montanhas e vales
grama verdinha e bosques,
com milhões de árvores
e asas de passarinhos.
Rios e mares de peixes
— aquários largos e livres
— ar dos campos e praias,
a manhã trazendo o dia
com o sol da esperança
e a noite de sonhos lindos,
nuvens calmas, lua e astros,
minhas mãos pegando estrelas
neste céu de doce infância.
E pelas estradas claras
meu cavalinho veloz
no galopar mais feliz:
— eu e ele sorrindo,
levando nosso cristal
para os meninos do mundo.

A ÁGUA

Subterrânea e purificada
por um filtro natural,
a água vem,
jorra nas fontes,
faz gluglu nas torneiras
para nosso bem.

Água de silêncio
dos remansos e lagos,
mar, rio, cachoeira
que se despenha
em borbotões —
força motriz
e energia também.

Na pia batismal,
no corpo e no campo,
na flor e no fruto,
na seiva e no sumo,
no orvalho e no vinho,
a água
faz leito e caminho
de bela missão.

ANGORÁS

Coelhinhos brancos,
no parque,
correm e brincam.

Ágeis patas,
orelhas alertas,
pontilhando o ar.

Alvíssimos, fofos,
olhos de contas,
sutilizam-se
no verde, veja-os:
Dois coelhinhos
de carícia
e Paz.

ALVO

Companheiro,
vem beber a branca espuma
desse mar de carneiro que me toca

e colher as coisas transitivas
que ora viajam para o meu espírito

Vem ser o obreiro-irmão da cidade azul
onde bordaremos puros capitéis

e aprender os discursos de meu timbre
acertando o alvo de alvas direções

Vem abrir comigo este pombal
sentir o que do traço das asas subsiste

a envolver-nos nos fios desta tarde
em que a Paz se oferece como pão.

A BORBOLETA AZUL

Nosso jardim é uma festa
de borboletas:
pequenas e grandes,
listradas,
amarelas e pretas
e uma pintadinha
que é uma graça.

Mas a azul, azulzinha,
a preferida,
é como se fosse
minha filhinha:
vi-a nascer da lagarta,
virou crisálida,
depois borboleta.

Quando voou
pela primeira vez
bati palmas: Vivô!!!

Voa e volta leve,
azul, azulzinha
e pousa num cacho
de rosas brancas
sua casinha.

Às vezes se ajeita,
mansinha,
tomando a forma
de um coração.

Seu corpo sedoso,
macio,
parece vestido
com pano do céu.

A CALÇADA

A calçada da minha rua,
de pedra portuguesa,
preta e branca, já se vê,
que é bonita é,
mas não dá pra jogar maré
e eu já descobri por quê...

Tem desenhos lindos:
— Uma estrela que lembra luz
e ilumina meus pés
na sandália que reluz;
— um trevo de quatro folhas
que dizem dar sorte...
Será que dá?
Passo sobre ele
prá lá pra cá.
— Um dragão sossegado
porque não é de verdade.
Se fosse, nos dias de chuva,
saltava da calçada
e ia embora na enxurrada.
Pulo sobre ele: Plim... plom... plão!
Ôi, dragão! Não tenho medo, não!

A FLORESTA

A floresta é fortaleza
de verdes castelos.

Unem-se as copas
em tetos curvos
verde variado, veludo
— abóbada de beleza —
que lenhosas colunas
sustentam.

Farfalha o vento em volta
da folhagem fechada,
onde nem o sol pode penetrar.

Sobem heras,
descem lianas
que se alastram às raízes,
entre musgos e nascentes,
brotando nas sombras.

Mora o silêncio
nas grutas de mistério.

Mas a vida vem,
vem de pios, cicios,
estalos, rumores,
alaridos, zumbidos,
entre mil aromas
de resinas e flores.

A vida vem
dos pássaros que cantam
e dos ninhos pendurados
nos ramos.

ABC DA FLOR

Flor-abelha
Flor-alegria
Flor-alimento
Flor-amor
Flor-beleza
Flor-borboleta
Flor-colibri
Flor-orvalho
Flor-perfume
Flor-silêncio
Flor-sonho
Flor-vida,
Vida de flor.

A PIPA E O VENTO

Aprumo a máquina,
dou linha à pipa
e ela sobe alto
pela força do vento.
O vento é feliz
porque leva a pipa,
a pipa é feliz
porque tem o vento.
Se tudo correr bem,
pipa e vento,
num lindo momento,
vão chegar ao céu.

Fonte:
http://artculturalbrasil.blogspot.com.br/2009/02/cleonice-rainho.html

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