sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Jaqueline Machado (O Pacto)


Pela beleza, se for preciso,
minto, roubo, engano e mato.
Diante da fonte, morreu Narciso,
mas eu não resisto ao meu retrato
.

No livro, o Retrato de Dorian Gray, do célebre autor, Oscar Wilde, o protagonista que dá título ao nome da obra, era um rapaz rico, belo e bom. Até que certo dia numa festa, conhece um pintor que deslumbra-se com sua beleza e aos poucos sua mente começa a mudar. Na verdade, Dorian não tinha consciência de sua estética maculada e perfeita. Sua beleza era rara já que manifestava –se em seu físico e, em seu interior, expressando sempre bons sentimentos.

Mas os dias passaram, a sua pintura foi feita. E só então ele se deu conta do quanto era belo e passou a se admirar tal qual Narciso na frente daquele quadro. A narrativa do livro descreve esse momento com as seguintes palavras:

Um ar de felicidade surgiu em seus olhos, como se ele tivesse se reconhecido pela primeira vez. O sentimento da própria beleza o assaltou como uma revelação. Ele nunca tinha o sentido antes. – Como é triste, murmurou Dorian Gray, eu vou ficar velho, horrível e medonho. Ele já jamais envelhecerá além desse dia de junho. Se pudesse ser diferente. Se eu pudesse permanecer sempre jovem e o quadro envelhecesse em meu lugar? Por isso eu daria tudo, não há nada em todo o mundo que eu não daria. Daria a minha alma por isso”. Sem perceber ele selou um pacto. A partir desse dia o jovem não mais perderia a sua juventude. Os sinais dos anos passarão para o quadro que ficou escondido dentro de um quarto fechado.

Ao fazer o pacto, sua inocência adormeceu. E como toda pessoa desalmada, passou a cometer muitos atos de crueldade.

Tudo em vão. Ao término da história, Dorian se desintegra junto do retrato.

Eis aí, a prova de que até podemos ser importantes para o mundo, mas chegamos a menos que nada, quando trocamos as verdadeiras riquezas, para desfrutar do que a vaidade nos oferece.

Muitos podem ser belos, bons e humildes, no entanto, a maioria de nós, no decorrer da jornada, se deixa seduzir pelo tal fruto proibido. Mergulha no mar de lama da falsidade e vira as costas para a luz do amor.

Esses pobres coitados, estão adormecidos nas garras da ignorância. Colocam Deus como se fosse uma espécie de Satanás, quando na verdade ele é o Deus das coisas simples e do bem fraterno. Grandeza celestial é tudo o que o Grande Pai nos oferece e deseja receber.

A vaidade faz parte do mundo e sempre fará. A sua função é provar os seres que se dizem humildes mas não são. Revelar os lobos que circulam pela Terra em peles de cordeiro. Esses que se deixam levar pelas mentiras da vida, pensam estar certos. No caminho da razão. Consideram-se ricos, quando na verdade estão nus, miseráveis e cegos.

Não esqueçamos: “Nem tudo o que parece ser, realmente é...”

Fonte:
Texto enviado pela autora.

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