quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 13 –

A bonequinha de trança,
vê na criança que passa...
A pobreza da criança,
nas mãos sujas da vidraça!
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A fonte leva no peito
o exemplo que nos encanta;
Quanto mais pedras no leito,
mais ela saltita e canta!
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A paz que encontrei nos campos
nestes versos que compus,
vem do olhar dos pirilampos
com os olhos cheios de luz!
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As coloridas falenas
à tarde, por sobre as flores,
parecem pincéis de penas
pondo mais penas nas cores!
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Eis, que dúvida atrevida
trago no outono da idade:
Se não fosse a despedida
existiria a saudade?
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Esquece as mágoas pequenas
e a grande, esquece também;
pois, as mágoas são apenas,
ódio, aos olhos de outro alguém!
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Essa fronte encanecida
com sonhos da cor de neve,
rende-se às curvas da vida
e às rugas que o tempo escreve!
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Havia tanta ternura
entre nós dois, nessa rua,
que, se a noite fosse escura,
seria noite de lua!
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Hoje à tarde, ao fim do dia,
não sei se alguém percebeu
que o pôr do sol escrevia,
tudo que Deus prescreveu!
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Já na penumbra da idade,
depois de tantas jornadas...
Começo a sentir saudade
das infantis madrugadas!
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Muitos "sepulcros caiados"
seguindo um falso decreto,
sepultam sonhos dourados
entre as selvas de concreto!
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Não há tecelão no mundo
nem artista tecelão,
que tenha o saber profundo
de quem tece a ingratidão!
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Nas noites, de vendavais,
minha alma, à tua procura,
tentando ouvir os teus ais
na voz que o vento murmura!
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No amor, verdade divina,
acha-se a divina essência,
de tudo que a vida ensina,
nessa divina existência!
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Ó, lindas rosas vermelhas
de ensinamentos tão sábios;
tendes o mel que as abelhas
vêm roubar de vossos lábios!
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O olhar de um brinquedo usado
nas mãos da criança sem graça,
revela um triste passado
que, infelizmente, não passa!
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O mundo só se refaz,
quando a gente por prazer...
For pobre, por ter demais,
for rico, sem nada ter!
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O velhinho ajoelhado,
diz ao padre em confissão:
Tem que existir o pecado
para que exista o perdão!
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Penso em nós dois, bem velhinhos,
felizes, sem dissabor,
juntos aos nossos netinhos
num grande ninho de amor!
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Por ver tantos sonhos mortos,
na idade dos meus cansaços...
Tento alinhar os mais tortos
aos rituais de teus passos!
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Quando a luz do sol, radiosa,
desfaz o orvalho da flor...
Transforma o choro da rosa
em lindos cristais de amor!
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Que exemplo, nos deixa a fonte,
que vive a cantarolar...
Murmura do pé do monte
ao sal das águas do mar!
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Quero os dias mais risonhos
e as ilusões vêm comigo;
pois, sou mendigo de sonhos
e o sonho me faz mendigo!
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Se a infância se distancia,
e nela, a vida se esmera,
embriague a melancolia
com sonhos de primavera!
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Se a distância, te convém
o nosso amor, se resume,
àquela flor que só tem
espinhos, sem ter perfume!
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Se os amores são mais longos,
ame-os, com mais destemor;
que há mais hiatos, que ditongos
nas entrelinhas do amor!
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Tanto nos olhos da aurora,
quanto no olhar do poente...
Há versos de hora em hora
presos aos olhos da gente!
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Teu adeus, roubou-me a cena,
de toda a beleza agreste,
de tua pele morena
queimada ao sol do Nordeste!
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Tristonho e mantendo a calma,
ao ver que a infância se afasta...
Ouço as vozes de minha alma
em tudo que o vento arrasta!
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Tu partiste e, na verdade,
na ausência do teu afeto,
vivo abraçando a saudade
nas tábuas do mesmo teto!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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