– Maria Eduarda, eu e seu pai precisamos ter uma conversa com você.
– Já sei. Vão começar tudo de novo.
– Não, Maria Eduarda, não vamos começar tudo de novo. Vamos continuar a conversa que vimos tentando ter com você faz tempo, mas você é rebelde, não quer conversar nem ouvir seus pais.
– …
– Quando é que você vai parar com essa teimosia? Até onde vai seguir com essa vontade de ser “diferente”?
– Mãe, eu sou diferente!
– Não, Maria Eduarda, não é. Você é uma menina de 17 anos, igual a todas as meninas de 17 anos, com os mesmos anseios de toda menina de 17 anos. Não faz sentido você continuar se recusando a fazer uma tatuagem! Todas as suas amigas estão tatuadas da cabeça aos pés, e você aí… com a pele intacta. Até onde você vai querer ir com isso, Maria Eduarda?
– Mãe, eu não gosto. Eu acho feio. Só isso.
– Maria Eduarda, que mal faz uma mandala? Um ying e yang? Uma caveira?
– Mãe…
– Uma borboleta na nuca não mata ninguém, Maria Eduarda! Um dragão, uma fênix, qualquer coisa, mas… acho horrível ver você assim, com a pele toda… toda…
– Mãe, não começa a chorar, por favor!
– Choro, sim, Maria Eduarda. Choro de vergonha. Onde foi que eu errei na sua criação? Todas as filhas de todas as minhas amigas estão completamente rabiscadas e você aí, com a pele… virgem.
– Mas eu não sou mais virgem, tá, mãe?
– Nem sei como alguém conseguiu se interessar por você, com a pele imaculada desse jeito. No mínimo foi um daqueles rapazes esquisitos que querem ser dentistas ou – deusmilivre – engenheiros civis. Desse jeito que você anda, de cabelo castanho, com roupa sem um rasgão ou um pircinzinho que seja, você nunca vai arrumar um grafiteiro, um uebidizáiner, um crosfiteiro. Ou um confeiteiro.
– Mãe, fica tranquila…
– Como eu posso ficar tranquila sabendo que você não vai ao tatuador uma vez por semana, nem que seja para fumar narguilé? Que não tem uma serpente subindo pelo pescoço, uma flor de lótus na virilha, uma frase em latim no omoplata, nada!
– Mãe…
– Faz pelo menos uma tribal no tornozelo, filha!
– Mãe, eu…
– Um infinito no pulso, uma âncora no antebraço, qualquer coisa…
– Mãe, eu acho que…
– Você não sabe a vergonha que eu passo na frente das minhas amigas na yoga. Todas têm filhas tatuadas. A Gislaine tem uma filha que fechou o braço. Fechou o braço, sabe o que é isso? A filha da Marta tatuou toda a fauna do cerrado, em protesto pelos incêndios no Pantanal. Ela não é boa em Geografia, eu sei, mas o tatuador fez uma jaritataca linda no ombro dela, e um teiú que sobe pelas costelas e vai até o seio. Quando ela colocar implante, o teiú vai ficar com uma cara enorme, linda. Você vai colocar implante, não vai?
– Não, mãe, não vou.
– Maria Eduarda! Sem tatuagem aos 17 e sem implante antes dos 20! O que você quer da vida, minha filha? Sabe como as pessoas vão te olhar? Como uma aberração!
– Mãe, eu…
– Tatua nem que seja um “Fellyppe, amor eterno”, por favor!
– Eu não conheço nenhum Fellyppe, mãe.
– Não interessa. Tatua só para arrepender e tatuar alguma coisa por cima. Aposto que todas as suas amigas já se arrependeram de uma tatuagem dessas e tatuaram outra maior por cima.
– Sim, todas fizeram isso. Aos prantos.
– Viu? Custa fazer? Escolhe um nome qualquer, porque vai fazer outra por cima mesmo. Bernnardho, Artthur, Karollayne, qualquer coisa. Mas tatua, exibe, chora dizendo que se arrependeu e faz uma de rosas vermelhas, ou de uma onça, em cima. Pronto. É só isso que estou te pedindo. Para eu não ser a mãe da menina esquisita que não tem tatuagem. Faz isso por mim, Maria Eduarda. Pelo seu pai, que vem fazendo uma poupança para essas tatuagens desde que você tinha 15 anos.
– Mãe…
– Um código de barras na coxa, filha… O que é que custa? Um ideograma, uma logomarca, um pacote de miojo, qualquer coisa… Você quer chegar à velhice como sua avó, sem parecer um muro de periferia? Sem lembrar uma obra do Dali, com relógios derretendo porque o peito caiu?
– Tá, mãe, semana que vem eu faço.
– Promete, Maria Eduarda?
– Vou pigmentar aquela manchinha branca que eu tenho no peito do pé, aí fica da cor da pele.
– Faz uma caranguejeira, filha! Fica lindo uma caranguejeira bem realista subindo pelo peito do pé!
– Não, mãe. No máximo, uma joaninha.
– Bem colorida?
– Ok, mãe, uma joaninha bem colorida. Já posso voltar a estudar?
– Pode. Te amo, Maria Eduarda. Mesmo você sendo estranha desse jeito, mamãe te ama. Mas por que você não aproveita que vai fazer a joaninha e coloca um pírcim no umbigo?
– Já sei. Vão começar tudo de novo.
– Não, Maria Eduarda, não vamos começar tudo de novo. Vamos continuar a conversa que vimos tentando ter com você faz tempo, mas você é rebelde, não quer conversar nem ouvir seus pais.
– …
– Quando é que você vai parar com essa teimosia? Até onde vai seguir com essa vontade de ser “diferente”?
– Mãe, eu sou diferente!
– Não, Maria Eduarda, não é. Você é uma menina de 17 anos, igual a todas as meninas de 17 anos, com os mesmos anseios de toda menina de 17 anos. Não faz sentido você continuar se recusando a fazer uma tatuagem! Todas as suas amigas estão tatuadas da cabeça aos pés, e você aí… com a pele intacta. Até onde você vai querer ir com isso, Maria Eduarda?
– Mãe, eu não gosto. Eu acho feio. Só isso.
– Maria Eduarda, que mal faz uma mandala? Um ying e yang? Uma caveira?
– Mãe…
– Uma borboleta na nuca não mata ninguém, Maria Eduarda! Um dragão, uma fênix, qualquer coisa, mas… acho horrível ver você assim, com a pele toda… toda…
– Mãe, não começa a chorar, por favor!
– Choro, sim, Maria Eduarda. Choro de vergonha. Onde foi que eu errei na sua criação? Todas as filhas de todas as minhas amigas estão completamente rabiscadas e você aí, com a pele… virgem.
– Mas eu não sou mais virgem, tá, mãe?
– Nem sei como alguém conseguiu se interessar por você, com a pele imaculada desse jeito. No mínimo foi um daqueles rapazes esquisitos que querem ser dentistas ou – deusmilivre – engenheiros civis. Desse jeito que você anda, de cabelo castanho, com roupa sem um rasgão ou um pircinzinho que seja, você nunca vai arrumar um grafiteiro, um uebidizáiner, um crosfiteiro. Ou um confeiteiro.
– Mãe, fica tranquila…
– Como eu posso ficar tranquila sabendo que você não vai ao tatuador uma vez por semana, nem que seja para fumar narguilé? Que não tem uma serpente subindo pelo pescoço, uma flor de lótus na virilha, uma frase em latim no omoplata, nada!
– Mãe…
– Faz pelo menos uma tribal no tornozelo, filha!
– Mãe, eu…
– Um infinito no pulso, uma âncora no antebraço, qualquer coisa…
– Mãe, eu acho que…
– Você não sabe a vergonha que eu passo na frente das minhas amigas na yoga. Todas têm filhas tatuadas. A Gislaine tem uma filha que fechou o braço. Fechou o braço, sabe o que é isso? A filha da Marta tatuou toda a fauna do cerrado, em protesto pelos incêndios no Pantanal. Ela não é boa em Geografia, eu sei, mas o tatuador fez uma jaritataca linda no ombro dela, e um teiú que sobe pelas costelas e vai até o seio. Quando ela colocar implante, o teiú vai ficar com uma cara enorme, linda. Você vai colocar implante, não vai?
– Não, mãe, não vou.
– Maria Eduarda! Sem tatuagem aos 17 e sem implante antes dos 20! O que você quer da vida, minha filha? Sabe como as pessoas vão te olhar? Como uma aberração!
– Mãe, eu…
– Tatua nem que seja um “Fellyppe, amor eterno”, por favor!
– Eu não conheço nenhum Fellyppe, mãe.
– Não interessa. Tatua só para arrepender e tatuar alguma coisa por cima. Aposto que todas as suas amigas já se arrependeram de uma tatuagem dessas e tatuaram outra maior por cima.
– Sim, todas fizeram isso. Aos prantos.
– Viu? Custa fazer? Escolhe um nome qualquer, porque vai fazer outra por cima mesmo. Bernnardho, Artthur, Karollayne, qualquer coisa. Mas tatua, exibe, chora dizendo que se arrependeu e faz uma de rosas vermelhas, ou de uma onça, em cima. Pronto. É só isso que estou te pedindo. Para eu não ser a mãe da menina esquisita que não tem tatuagem. Faz isso por mim, Maria Eduarda. Pelo seu pai, que vem fazendo uma poupança para essas tatuagens desde que você tinha 15 anos.
– Mãe…
– Um código de barras na coxa, filha… O que é que custa? Um ideograma, uma logomarca, um pacote de miojo, qualquer coisa… Você quer chegar à velhice como sua avó, sem parecer um muro de periferia? Sem lembrar uma obra do Dali, com relógios derretendo porque o peito caiu?
– Tá, mãe, semana que vem eu faço.
– Promete, Maria Eduarda?
– Vou pigmentar aquela manchinha branca que eu tenho no peito do pé, aí fica da cor da pele.
– Faz uma caranguejeira, filha! Fica lindo uma caranguejeira bem realista subindo pelo peito do pé!
– Não, mãe. No máximo, uma joaninha.
– Bem colorida?
– Ok, mãe, uma joaninha bem colorida. Já posso voltar a estudar?
– Pode. Te amo, Maria Eduarda. Mesmo você sendo estranha desse jeito, mamãe te ama. Mas por que você não aproveita que vai fazer a joaninha e coloca um pírcim no umbigo?
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