O cidadão tinha os braços tomados por embrulhos e caminhava fazendo verdadeiros malabarismos temendo, certamente, que algum dos pacotes fosse ao chão.
Quando passava bem em frente a um ponto de ônibus, o que mais temia aconteceu: um ligeiro desequilíbrio e lá se foi um dos embrulhos projetar-se - para cúmulo do azar - justamente numa poça de lama, resultado de chuvas caídas no dia anterior.
O cidadão olhou o embrulho entristecido. E agora, o que fazer? Como apanhá-lo? Impossível? Mas deixá-lo ali, isso não. Olhou para os lados como que a pedir ajuda e também para ver se não se aproximava algum carro. Não, não vinha. Nem carro e nem ajuda.
Dobrou os joelhos e começou a contorcer-se numa dança involuntária e desgraciosa. O que não podia deixar era que os demais embrulhos caíssem também. Tentou soltar alguns dedos, firmando os demais com mais raiva e gana. Virou daqui, virou dali, nada!
Parou por alguns instantes, olhou os braços totalmente tomados, depois olhou o fugitivo no chão, já meio enlameado. Novos movimentos se sucederam, mas todos se revelaram inúteis.
Houve um momento, no entanto, em que deve ter tomado uma decisão definitiva. É agora ou nunca! Ou o pego ou o deixo! E partiu para mais uma desesperada tentativa. Com um dos braços apertou parte dos embrulhos contra o peito com mais firmeza. Com o outro, parcialmente tomado, tentou chegar ao pacote caído. Desvencilhou dois dedos - sabe Deus como! - levou-os em direção ao pacote e... conseguiu! Bem a tempo, pois um ônibus já se aproximava, buzinando nervoso e impaciente.
Seus lábios murmuraram alguma coisa inaudível. Talvez um grito de alegria sufocado ou um palavrão a custo contido.
Tornou os olhos, paternalmente, ao molhado embrulho, já rasgando-se e reiniciou a caminhada, fazendo malabarismos.
Seu drama foi assistido, desde o início, por duas dezenas de indiferentes. Inclusive eu.
Quando passava bem em frente a um ponto de ônibus, o que mais temia aconteceu: um ligeiro desequilíbrio e lá se foi um dos embrulhos projetar-se - para cúmulo do azar - justamente numa poça de lama, resultado de chuvas caídas no dia anterior.
O cidadão olhou o embrulho entristecido. E agora, o que fazer? Como apanhá-lo? Impossível? Mas deixá-lo ali, isso não. Olhou para os lados como que a pedir ajuda e também para ver se não se aproximava algum carro. Não, não vinha. Nem carro e nem ajuda.
Dobrou os joelhos e começou a contorcer-se numa dança involuntária e desgraciosa. O que não podia deixar era que os demais embrulhos caíssem também. Tentou soltar alguns dedos, firmando os demais com mais raiva e gana. Virou daqui, virou dali, nada!
Parou por alguns instantes, olhou os braços totalmente tomados, depois olhou o fugitivo no chão, já meio enlameado. Novos movimentos se sucederam, mas todos se revelaram inúteis.
Houve um momento, no entanto, em que deve ter tomado uma decisão definitiva. É agora ou nunca! Ou o pego ou o deixo! E partiu para mais uma desesperada tentativa. Com um dos braços apertou parte dos embrulhos contra o peito com mais firmeza. Com o outro, parcialmente tomado, tentou chegar ao pacote caído. Desvencilhou dois dedos - sabe Deus como! - levou-os em direção ao pacote e... conseguiu! Bem a tempo, pois um ônibus já se aproximava, buzinando nervoso e impaciente.
Seus lábios murmuraram alguma coisa inaudível. Talvez um grito de alegria sufocado ou um palavrão a custo contido.
Tornou os olhos, paternalmente, ao molhado embrulho, já rasgando-se e reiniciou a caminhada, fazendo malabarismos.
Seu drama foi assistido, desde o início, por duas dezenas de indiferentes. Inclusive eu.
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