Um tigre ficou preso em uma armadilha. Tentou, em vão, atravessar as grades, girou e as mordeu com fúria e tristeza quando não conseguiu.
Por acaso, estava passando por ali um pobre brâmane.
– Tire-me dessa jaula, por piedade! – suplicou o tigre.
– Não, amigo – respondeu o brâmane de maneira amável. – É provável que me devore se eu o
fizer.
– De jeito nenhum! – prometeu o tigre. – Pelo contrário, serei eternamente grato e o servirei como um escravo!
O tigre soluçava, suspirava, chorava e suplicava, e o coração do piedoso brâmane amoleceu. Enfim concordou em abrir a porta da jaula. Dela saiu o tigre que, capturando o pobre homem, gritou:
– Como é tolo! Como evitará que o devore agora, já que estou faminto depois de ficar tanto
tempo preso?!
Em vão, o brâmane implorou que o tigre lhe poupasse a vida. O máximo que conseguiu foi a promessa de que o tigre obedeceria a decisão das primeiras três coisas que ele escolhesse para questionar se era ou não justa aquela ação.
O brâmane primeiro perguntou a uma figueira o que ela achava da questão, mas a figueira
respondeu com frieza:
– Do que está reclamando? Eu não forneço sombra e abrigo a todos que passam por aqui, e eles, em troca, não cortam meus galhos para alimentar o gado? Não choramingue. Seja homem!
O brâmane, abatido, caminhou mais um pouco até encontrar uma búfala girando uma roda d’água. Mas não foi muito melhor, pois ela respondeu:
– Se espera gratidão, é um tolo! Olhe para mim! Enquanto eu lhes dava leite, eles me alimentavam com sementes de algodão e bolo prensado, mas agora que estou seca, me deixam presa aqui e me alimentam com lavagem!
O brâmane, ainda mais triste, pediu à estrada que desse sua opinião.
– Meu caro, senhor – disse a estrada –, que tolo é por esperar algo mais! Cá estou, útil a todos, e ainda assim ricos e pobres, grandes e pequenos, pisam em mim ao passar, sem me dar nada além das cinzas de seus cachimbos e cascas de suas sementes!
Com isso, o brâmane retornou com pesar e no caminho encontrou um chacal que lhe perguntou:
– Ei, qual é o problema, senhor brâmane? Parece deprimido como se fosse um peixe fora d’água!
O brâmane contou todo o ocorrido.
– Que confuso! – exclamou o chacal, quando ele terminou a história. – Poderia contar tudo de novo, pois não entendi nada?
O brâmane repetiu tudo, mas o chacal balançou a cabeça de maneira distraída e ainda assim não compreendeu.
– É muito estranho – disse ele com tristeza. – Mas parece que entra tudo por um ouvido e sai pelo outro! Vou ao local onde tudo aconteceu, talvez assim consiga dar minha opinião.
Eles então voltaram à jaula, perto da qual o tigre esperava o brâmane afiando os dentes e as garras.
– Você demorou muito! – rugiu a fera selvagem. – Mas agora podemos iniciar nosso jantar.
“Nosso jantar?”, pensou o pobre brâmane, enquanto seus joelhos batiam um contra o outro de medo. “Que maneira delicada de se expressar!”
– Peço-lhe cinco minutos, meu senhor! – suplicou. – Para explicar a questão ao chacal, que tem o raciocínio um pouco lento.
O tigre concordou, e o brâmane contou toda a história novamente, sem deixar nenhum detalhe de fora, demorando-se o máximo possível.
– Ah, meu pobre cérebro! Ah, meu pobre cérebro! – gritou o chacal, retorcendo as patas. – Deixe-me ver! Como tudo começou? Você estava na jaula e o tigre veio passando…
– Aaaah! – interrompeu o tigre. – Como é idiota! Eu estava na jaula.
– É claro! – exclamou o chacal, fingindo tremer de medo. – Sim! Eu estava na jaula. Não, eu não estava. Minha nossa! Minha nossa! Onde estou com a cabeça? Deixe-me ver. O tigre estava no brâmane, e a jaula veio passando. Não, também não é isso! Bem, não se importem comigo. Iniciem seu jantar, pois nunca entenderei!
– Sim, entenderá! – retrucou o tigre, com raiva da estupidez do chacal. – Eu farei você entender! Veja só. Eu sou o tigre…
– Sim, senhor!
– E aquele é o brâmane…
– Sim, senhor!
– E esta é a jaula…
– Sim, senhor!
– E eu estava na jaula. Entendeu?
– Sim… não… Por favor, senhor…
– O que foi? – gritou o tigre, impaciente.
– Por favor, senhor! Como entrou na jaula?
– Como? Do modo habitual, é claro!
– Ah, pobre de mim. Minha cabeça está começando a girar de novo! Por favor, não fique zangado, meu senhor. Mas qual é o modo habitual?
Com isso, o tigre perdeu a paciência e, pulando dentro da jaula, berrou:
– É assim! Agora entendeu como foi?
– Perfeitamente! – O chacal sorriu e, com destreza, fechou a porta. – E, se me permite dizer, acho que as coisas permanecerão como estavam!
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Por acaso, estava passando por ali um pobre brâmane.
– Tire-me dessa jaula, por piedade! – suplicou o tigre.
– Não, amigo – respondeu o brâmane de maneira amável. – É provável que me devore se eu o
fizer.
– De jeito nenhum! – prometeu o tigre. – Pelo contrário, serei eternamente grato e o servirei como um escravo!
O tigre soluçava, suspirava, chorava e suplicava, e o coração do piedoso brâmane amoleceu. Enfim concordou em abrir a porta da jaula. Dela saiu o tigre que, capturando o pobre homem, gritou:
– Como é tolo! Como evitará que o devore agora, já que estou faminto depois de ficar tanto
tempo preso?!
Em vão, o brâmane implorou que o tigre lhe poupasse a vida. O máximo que conseguiu foi a promessa de que o tigre obedeceria a decisão das primeiras três coisas que ele escolhesse para questionar se era ou não justa aquela ação.
O brâmane primeiro perguntou a uma figueira o que ela achava da questão, mas a figueira
respondeu com frieza:
– Do que está reclamando? Eu não forneço sombra e abrigo a todos que passam por aqui, e eles, em troca, não cortam meus galhos para alimentar o gado? Não choramingue. Seja homem!
O brâmane, abatido, caminhou mais um pouco até encontrar uma búfala girando uma roda d’água. Mas não foi muito melhor, pois ela respondeu:
– Se espera gratidão, é um tolo! Olhe para mim! Enquanto eu lhes dava leite, eles me alimentavam com sementes de algodão e bolo prensado, mas agora que estou seca, me deixam presa aqui e me alimentam com lavagem!
O brâmane, ainda mais triste, pediu à estrada que desse sua opinião.
– Meu caro, senhor – disse a estrada –, que tolo é por esperar algo mais! Cá estou, útil a todos, e ainda assim ricos e pobres, grandes e pequenos, pisam em mim ao passar, sem me dar nada além das cinzas de seus cachimbos e cascas de suas sementes!
Com isso, o brâmane retornou com pesar e no caminho encontrou um chacal que lhe perguntou:
– Ei, qual é o problema, senhor brâmane? Parece deprimido como se fosse um peixe fora d’água!
O brâmane contou todo o ocorrido.
– Que confuso! – exclamou o chacal, quando ele terminou a história. – Poderia contar tudo de novo, pois não entendi nada?
O brâmane repetiu tudo, mas o chacal balançou a cabeça de maneira distraída e ainda assim não compreendeu.
– É muito estranho – disse ele com tristeza. – Mas parece que entra tudo por um ouvido e sai pelo outro! Vou ao local onde tudo aconteceu, talvez assim consiga dar minha opinião.
Eles então voltaram à jaula, perto da qual o tigre esperava o brâmane afiando os dentes e as garras.
– Você demorou muito! – rugiu a fera selvagem. – Mas agora podemos iniciar nosso jantar.
“Nosso jantar?”, pensou o pobre brâmane, enquanto seus joelhos batiam um contra o outro de medo. “Que maneira delicada de se expressar!”
– Peço-lhe cinco minutos, meu senhor! – suplicou. – Para explicar a questão ao chacal, que tem o raciocínio um pouco lento.
O tigre concordou, e o brâmane contou toda a história novamente, sem deixar nenhum detalhe de fora, demorando-se o máximo possível.
– Ah, meu pobre cérebro! Ah, meu pobre cérebro! – gritou o chacal, retorcendo as patas. – Deixe-me ver! Como tudo começou? Você estava na jaula e o tigre veio passando…
– Aaaah! – interrompeu o tigre. – Como é idiota! Eu estava na jaula.
– É claro! – exclamou o chacal, fingindo tremer de medo. – Sim! Eu estava na jaula. Não, eu não estava. Minha nossa! Minha nossa! Onde estou com a cabeça? Deixe-me ver. O tigre estava no brâmane, e a jaula veio passando. Não, também não é isso! Bem, não se importem comigo. Iniciem seu jantar, pois nunca entenderei!
– Sim, entenderá! – retrucou o tigre, com raiva da estupidez do chacal. – Eu farei você entender! Veja só. Eu sou o tigre…
– Sim, senhor!
– E aquele é o brâmane…
– Sim, senhor!
– E esta é a jaula…
– Sim, senhor!
– E eu estava na jaula. Entendeu?
– Sim… não… Por favor, senhor…
– O que foi? – gritou o tigre, impaciente.
– Por favor, senhor! Como entrou na jaula?
– Como? Do modo habitual, é claro!
– Ah, pobre de mim. Minha cabeça está começando a girar de novo! Por favor, não fique zangado, meu senhor. Mas qual é o modo habitual?
Com isso, o tigre perdeu a paciência e, pulando dentro da jaula, berrou:
– É assim! Agora entendeu como foi?
– Perfeitamente! – O chacal sorriu e, com destreza, fechou a porta. – E, se me permite dizer, acho que as coisas permanecerão como estavam!
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J. P. Steel e R. C. Temple, no Wide-Awake-Stories, Bombay e
Londres, 1884, recolheram uma versão popular no Panjap. O Tigre, ajudado
pelo Brâmane, quer devorá-lo. Árvore, Vaca e Caminho opinam pelo Tigre.
O Chacal, pretendendo reconstituir a cena, prende o Tigre para sempre.
Couto de Magalhães ouviu o mesmo episódio entre os indígenas
brasileiros do idioma tupi, O Selvagem, Rio de Janeiro,
1876, onde a Onça, posta em liberdade pela Raposa, quer devorá-la. O
Homem manda a Onça voltar ao fosso, deixando-a presa. O prof. Espinosa
colheu uma variante em Espanha, Un bien con un mal se paga, León; a Cobra quer morder ao Homem que a salvou do frio. O Asno e o Boi foram pela Cobra mas a zorra (Raposa) exigiu a encenação inicial e a Cobra regressou ao alforje do Homem que a matou, ás pauladas, Cuentos Populares ‘Españolen, III.0, 264.°. Na Argentina, Rafael Cano, Del Tiempo de Ñaupa, Buenos Aires, 1930, quem fixou o conto, tendo como personagens o Tigre, o Homem e o zorro (raposa). Na
África Oriental Portuguesa, Moçambique, o padre Francisco Manuel de
Castro registrou uma variante, ouvida aos pretos Macuas e transcrita pelo
jornalista brasileiro Amon de Melo, Africa, Rio de
Janeiro 1941. O Perú Bravo, solto de uma armadilha pelos meninos
Narrapurrapu e Nantetete, filhos de Moxia, ia comê-los quando o Coelho
duvidou que ele tivesse cabido dentro da armadilha. O Peru Bravo,
desafiado, voltou à prisão e ainda lá deve estar. Leo Frobenius, no African Génesis, seleção
de Douglas C. Fox, New York, 1937, tem uma versão dos negros
Nupes do Sudão. O caçador livrando um crocodilo de morrer fora do Niger
está condenado a morte. Asubi (esteira colorida do Kutigi) e um pedaço
de pano, votam a favor do Crocodilo. O Boaji (almíscar) obtém a
representação da cena e deixa o crocodilo no seco, escapando o Homem.
Fonte:
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