ALMA LIVRE
Livre, a alma sopra onde quer,
seja homem, seja mulher,
como se fosse uma bolha
e tivesse a própria escolha
uma outra forma de ser.
Sou como Deus manda,
ou como roda a ciranda,
que giramos todos na mesma
indefinível roda da vida,
que viver é que é mesmo preciso.
Preciso ser livre, penso,
mas meus pés por vezes
têm chumbo nos vãos
dos meus dedos e, doido,
doído, dolorido, vão,
me perco da própria mão,
desvãos.
Livre, a alma sopra, mas
nem sempre supre
o que lhe cabe suprir.
Suprassumo de mim,
sem perder minha essência,
descubro isso enfim:
que sempre fui essencial...
para mim.
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CARRO DE BOIS
Para o artista plástico Paulo Reis
Foi no meu carro de bois
que passei a minha vida,
sem pensar no que depois
iria vir: a partida.
A partida é quando rangem
minhas pálpebras de dor,
inda que muitos não manjem
ao me verem todo em cor!...
Lá no meu carro de bois,
éramos minha alma e eu
como se fôssemos dois...
Como se fôssemos reis
de uma estrada que cresceu
das tintas de suas leis!
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NÃO PERTURBE
(or Do not disturb)
Não, amor, não me perturbe.
As estrelas já se achegam
e se fazem de colchão
para os meus ossos,
tão cansados de esperar
a mais pura e fluida
água dos seus poços...
Não, amor, não me perturbe.
Essa noite é uma criança,
e eu sou feito um sacizinho,
que, distante do seu bando,
nada faz senão, sozinho,
pitar seu cachimbo
e chorar.
Não, amor, não me perturbe.
Sem notar o seu reflexo,
mirando a mim mesmo
nas águas de tanta ilusão,
"narcísico" ao extremo,
me encanto com a flauta
nada mágica da razão
e raciono-me a poesia,
o encantamento
a que teria direito.
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UMA LUA DE PRESENTE
Para a amiga Patrícia*
De presente, no quintal da minha amiga,
uma lua se insinua e lhe pergunta
onde é que anda o seu amigo, onde fica
a casa dele, e faz que não assunta,
mas assunta, só pra ver se ela lhe conta
onde é que mora quem faz de conta
que o amor não conta, mas conta muito
para ele.
Para ele, que foi passarinho em outra
encarnação, em outra forma de ser,
em outra vida, em outra página, outra
história a ser escrita com seu viver...
A lua, lá no céu, de presente, sorri,
se insinua um pouco mais e pede
que minha amiga lhe diga se ali,
onde há pouco ele esteve, é que
ficou seu rastro poético,
seu rastro de estrelas,
o que todo bom poeta
deixa ao entrevê-las,
ainda que nem saiba,
ainda que nem caiba
em sua própria órbita.
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Poema escrito a partir de fotografia enviada por Patricia de Campos Occhiucci
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UMA ORQUÍDEA COMO AQUELA
Para a amiga que me mandou a foto de sua orquídea cattleya
No quintal daquela amiga,
com a cigarra e a formiga,
entre várias borboletas,
ou monarcas, ou plebeias,
uma orquídea cattleya
espreita o dia.
Espreita o dia,
que é feito a rósea poesia
de suas pétalas,
artimanhas poéticas
para ver se algum inseto
vem ter com elas
seu colóquio amoroso,
honra aos poetas.
Não, o quintal dessa amiga
não é uma floresta tropical,
mas guarda um ar especial
para que uma flor que intriga
seu sonho enfim prossiga
e se mostre, gloriosa, linda,
no quintal daquela amiga!
Fonte:
Poemas enviados pelo autor.
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