O ACUSADO
O réu está abatido. E o promotor,
Ao tomar a palavra, diz que aquela ave
Está acusada d’um crime muito grave
E é necessário puni-la com rigor.
Logo depois, o advogado da defesa
Levanta-se, tosse, cospe para o lado
E, dando um soco violento sobre a mesa,
Suplica ao júri a soltura do acusado.
O réu, comovido, adoece de repente...
Todos os presentes tapam o nariz,
Porque a atmosfera fica um tanto impura.
O médico legista examina o doente
E declara in fidei gradi* ao senhor juiz
Que aquilo é de fato, um caso de soltura.
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O réu está abatido. E o promotor,
Ao tomar a palavra, diz que aquela ave
Está acusada d’um crime muito grave
E é necessário puni-la com rigor.
Logo depois, o advogado da defesa
Levanta-se, tosse, cospe para o lado
E, dando um soco violento sobre a mesa,
Suplica ao júri a soltura do acusado.
O réu, comovido, adoece de repente...
Todos os presentes tapam o nariz,
Porque a atmosfera fica um tanto impura.
O médico legista examina o doente
E declara in fidei gradi* ao senhor juiz
Que aquilo é de fato, um caso de soltura.
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* Fidei Gradi = graus de confiança
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A POLÍTICA
Não sei porque tu queres me proibir
Que em política meta o meu bedelho.
Perdoa, mas não posso consentir,
Que tu me venhas dar um tal conselho.
A política é a causa do progresso
De todas as nações civilizadas.
O que a deprime e avilta é o excesso
De perseguições torpes e infundadas.
O meu amor, portanto, não se zangue.
O ser político, isso está em meu sangue…
Não me vás, só por isso, deixar só...
Pois, gostando de ti desta maneira,
Serei um dia, mesmo que não queira,
Politicamente, neto de tua avó.
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COMPROMETIDO
Esta paixão recolhida,
Que de novo veio a furo,
Estragou-me toda a vida,
Anarquizou-me o futuro.
Tive fortuna e um nome...
Agora não tenho nada!
Tudo o que tinha roubou-me
Essa mulher, essa fada...
Tenho o peito em polvorosa!
Preso ao rochedo da dor,
Eu sou um novo Prometeu!
Que futuro cor-de-rosa!
Que futuro encantador,
Pafúncia comprometeu!
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PERDEU
Eu tinha uma pequena (já crescida)
Que eu não podia desejar mais bela.
Era ela que alegrava a minha vida,
Era eu que alegrava a vida dela.
Mas um dia chegou ao nosso porto
Uma galera. Cheia do aspirantes,
E o meu prestígio, em breve, ficou morto
Ou, pelo menos, não era como antes.
Deixou-me... Deixei-a... Os candidatos
Eram dois aspirantes e a covarde
Esses dois namorou d’uma só vez.
Foi-se a galera... Foram-se os ingratos...
Ela tentou voltar, mas era tarde:
A recompensa foi perder os três…
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A RENDIÇÃO DA PRAÇA
O forte está sitiado. Um flanco avança,
Fazendo-lhe temíveis investidas.
Logo depois uma carga de lança.
A metralha e as balas ceifam vidas.
O bravo comandante não se cansa
Mas, ao ver as paredes já fendidas,
Perde o ultimo raio de esperança,
De retomar as posições perdidas.
O forte já está fraco... E o inimigo,
Percebendo que o forte está em perigo,
Volta à carga com força redobrada.
Rendem-se, enfim, os últimos, feridos,
E (fato extraordinário!) entre os rendidos
Não há sequer uma hérnia estrangulada.
Não sei porque tu queres me proibir
Que em política meta o meu bedelho.
Perdoa, mas não posso consentir,
Que tu me venhas dar um tal conselho.
A política é a causa do progresso
De todas as nações civilizadas.
O que a deprime e avilta é o excesso
De perseguições torpes e infundadas.
O meu amor, portanto, não se zangue.
O ser político, isso está em meu sangue…
Não me vás, só por isso, deixar só...
Pois, gostando de ti desta maneira,
Serei um dia, mesmo que não queira,
Politicamente, neto de tua avó.
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COMPROMETIDO
Esta paixão recolhida,
Que de novo veio a furo,
Estragou-me toda a vida,
Anarquizou-me o futuro.
Tive fortuna e um nome...
Agora não tenho nada!
Tudo o que tinha roubou-me
Essa mulher, essa fada...
Tenho o peito em polvorosa!
Preso ao rochedo da dor,
Eu sou um novo Prometeu!
Que futuro cor-de-rosa!
Que futuro encantador,
Pafúncia comprometeu!
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PERDEU
Eu tinha uma pequena (já crescida)
Que eu não podia desejar mais bela.
Era ela que alegrava a minha vida,
Era eu que alegrava a vida dela.
Mas um dia chegou ao nosso porto
Uma galera. Cheia do aspirantes,
E o meu prestígio, em breve, ficou morto
Ou, pelo menos, não era como antes.
Deixou-me... Deixei-a... Os candidatos
Eram dois aspirantes e a covarde
Esses dois namorou d’uma só vez.
Foi-se a galera... Foram-se os ingratos...
Ela tentou voltar, mas era tarde:
A recompensa foi perder os três…
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A RENDIÇÃO DA PRAÇA
O forte está sitiado. Um flanco avança,
Fazendo-lhe temíveis investidas.
Logo depois uma carga de lança.
A metralha e as balas ceifam vidas.
O bravo comandante não se cansa
Mas, ao ver as paredes já fendidas,
Perde o ultimo raio de esperança,
De retomar as posições perdidas.
O forte já está fraco... E o inimigo,
Percebendo que o forte está em perigo,
Volta à carga com força redobrada.
Rendem-se, enfim, os últimos, feridos,
E (fato extraordinário!) entre os rendidos
Não há sequer uma hérnia estrangulada.
Fonte:
Apporelly (Barão de Itararé). Pontas de cigarros: livro de versos diversos. Rio de Janeiro: O Globo, 1925.
Apporelly (Barão de Itararé). Pontas de cigarros: livro de versos diversos. Rio de Janeiro: O Globo, 1925.
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