domingo, 19 de dezembro de 2021

Minha Estante de Livros (“Cartas do meu moinho” e “Bilac vê estrelas”)


CARTAS DO MEU MOINHO, de Alphonse Daudet

Depois de várias tentativas de alcançar o sucesso na vida literária e uma vida pessoal tumultuada, Cartas do meu moinho trouxe alegria e reconhecimento ao autor francês Alphonse Daudet. Depois viria aquele que seria o seu clássico: Tartarin de Tarascon que reaviva muitos dos aprendizados do autor em sua passagem pela Argélia.

O livro possui contos ambientados na região da provença francesa, e de inicio já nos apresenta uma declaração de compra do moinho, é fictícia, mas dada a perfeição no estilo e escrita é pra lá de convincente. Sua vida no moinho não é definitiva já que ele é um citadino, possui um cotidiano muito tranquilo com seus papéis, as visitas dos coelhos, um certo convívio com os camponeses e, claro, a coruja que habita o primeiro andar. Em meio a ótimos contos temos 'Os Velhinhos' em que o narrador, o autor no caso, visita um casal idoso a pedido de um amigo de Paris, e o leitor é convidado a fazer essa visita também.

Cartas do meu moinho é um sensível conjunto de narrativas breves, contos pueris e encantadores. Em pleno século XIX, Daudet antecipa o que hoje é traço comum da literatura contemporânea: um certo jogo entre ficção e realidade. O autor escreve como se fossem memórias, mas todas as narrativas são ficcionais. Porém, os leitores tiveram tamanha empatia com os personagens e os lugares que acreditavam fielmente que se tratavam de experiências vividas pelo autor no sul da França.

Os personagens são simples e movidos por sonhos cotidianos, e os cenários declamam seu amor pela exuberante natureza francesa. A literatura sensível desse escritor francês conquistou os leitores pela simplicidade e pelo grande senso de humanidade.

Os contos, selecionados entre os 24 que foram publicados em 1869. São narrados na primeira pessoa, para dar a entender ao leitor que é o próprio escritor que revisa suas memórias. O Segredo de Mestre Cornille é sobre um moleiro inconformado com a chegada das máquinas à vapor; em A Cabra do Senhor Seguin, a cabrinha Branquinha quer viver livre para sempre; Os Velhos aborda a visita de um moleiro aos avós de um amigo; já A Lenda do Homem com o Cérebro de Ouro exibe personagem que se desfaz de sua riqueza por amor e por ter sido roubado e enganado; As Três Missas Baixas é a história do reverendo que, no Natal, cai no pecado da gula, morre e não pode entrar no céu: e Os Gafanhotos se passa na Argélia, onde um estrangeiro enfrenta destruidora tempestade de gafanhotos.
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Alphonse Daudet (1840 – 1897) estreou com a coletânea de versos "Les Amoureuses" aos 18 anos, ao ir para a capital francesa. Em Paris, tornou-se íntimo de Goncourt e Emile Zola. Ao publicar "Cartas do meu moinho", em 1869, alcançou o sucesso. Tornou-se secretário do Duque de Morny, presidente do Senado e, por problemas de saúde, viajou pela Argélia, onde se inspirou para escrever "Tartarin de Tarascon", em 1872. Fez várias tentativas no teatro, mas só teve algum sucesso com "A Arlesiana", em 1872.

Sofreu muito nos seus últimos quinze anos, morrendo em 1897, vítima de uma ataxia incurável (que poderia ser normalmente uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro e cerebelo). Encontra-se sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, Paris na França.

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BILAC VÊ ESTRELAS, de Ruy Castro

No começo desta história, que se passa no Rio de Janeiro, no início do século XX, Olavo Bilac está em seu posto de observação na calçada da célebre Confeitaria Colombo. Com a própria glória garantida, só uma coisa o preocupa: como é efêmera a glória alheia. De repente, uma manchete gritada por um jornaleiro interrompe os seus pensamentos: um negro encontrado morto em Paquetá pode ser o jornalista da Abolição José do Patrocínio, grande amigo de Bilac.

Por causa disso, ele se mete numa trama envolvendo um fabuloso dirigível, inventado por Patrocínio e objeto da cobiça de dois aeronautas franceses e de uma traiçoeira espiã portuguesa. Na tentativa de se apoderar dos planos do balão, a espiã e seu cúmplice, fazem Bilac literalmente ver estrelas com uma bengalada na cabeça, que o leva ao espaço e ao Olimpo.

O cenário e a época de Bilac vê estrelas são reais: boa parte da história se passa nas ruas do Rio durante a agitada Belle Époque carioca, e os personagens também são de carne e osso. Mas o documentário é só o pano de fundo para a ficção. Em meio aos arranca-rabos desse caso hilariante de espionagem industrial, Ruy Castro faz Bilac ser atacado na cama pela bela e tórrida portuguesa, deixa-o para morrer desacordado num hangar em chamas, obriga os bandidos a fugir numa charrete em disparada pela rua do Ouvidor, e tudo isso durante a vinda de Santos-Dumont ao Brasil. Bilac vê estrelas é quase uma comédia-pastelão à brasileira.

Em sua estreia na literatura, Ruy Castro revela-se um ficcionista que, como seus leitores já sabiam, é um especialista em bom humor.

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