Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão
Tirou o anel de doutor para não dar o que falar
E saiu dizendo eu quero mamar
Mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão
Levou meu saco de água quente pra fazer chupeta
Rompeu minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu o guarda-roupa e arrancou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte
Para seu cordão
Agora a batucada já vai começando não deixo e não consinto
O meu querido debochar de mim
Porque ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta
Até o sol raiar
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A Alegria Transgressora de 'Camisa Listrada'
A música 'Camisa Listrada', composta por Assis Valente, é uma obra que reflete o espírito irreverente e alegre do carnaval brasileiro, além de abordar temas de transgressão e liberdade individual. A letra narra a história de um personagem que, ao vestir uma camisa listrada, decide abandonar as convenções sociais e se entregar às festividades carnavalescas, bebendo parati (cachaça) em vez de seguir a rotina habitual de chá com torrada.
O personagem também é descrito como alguém que desafia as expectativas ao levar um canivete e um pandeiro, símbolos de uma atitude mais boêmia e festeira, contrastando com a imagem de um 'doutor', que ele parece querer evitar ao tirar seu anel. A expressão 'mamãe eu quero mamar' pode ser interpretada como um desejo de regressão à infância ou uma busca por prazeres simples e instintivos, típicos da atmosfera do carnaval.
A música também menciona o personagem utilizando objetos pessoais de alguém para criar sua fantasia de carnaval, incluindo a transformação de itens domésticos em adereços festivos. Isso sugere uma quebra de padrões e uma celebração da criatividade e da improvisação. A referência a 'Antonieta' e ao 'Bola Preta' evoca a figura histórica de Maria Antonieta e o tradicional bloco de carnaval Cordão da Bola Preta, reforçando a mistura de elementos culturais e a atmosfera de festa e liberdade que permeia a canção.
Foi pensando em Carmen Miranda, e seu estilo brejeiro e malicioso, que Assis Valente criou o melhor segmento de sua obra: os 25 sambas e marchinhas que a cantora gravou no período 1933-1940. Figuram nesse repertório alguns de seus maiores sucessos como "Camisa Listrada", um dos sambas preferidos pelos foliões de 1938.
Num flagrante da vida cotidiana, a composição descreve a aventura de um sujeito que aproveita o carnaval para, comportando-se de forma irreverente, libertar-se de suas preocupações.
O tal sujeito improvisa uma vestimenta feminina - com uma camisa listrada e um pedaço de cortina servindo de saia - e de "canivete no cinto e pandeiro na mão", sai pelas ruas cantando "Mamãe Eu Quero Mamar".
O curioso é que Assis, muito mais letrista do que compositor, veste esta alegre crônica carnavalesca com uma melodia triste, toda ela no modo menor. Rejeitado pela Victor (que chegou a registrá-lo em disco não lançado, com as Irmãs Pagãs) "Camisa Listrada" permanecia inédito já havia algum tempo, quando Carmen Miranda resolveu gravá-lo, por insistência do compositor, o único que acreditava em seu sucesso.
Em 1938, Carmen Miranda vivia o auge da popularidade, cantando sucessos como "Camisa Listada", "Na Baixa do Sapateiro" e "Boneca de Piche". Parece que ninguém nas editoras e gravadoras da época conhecia a grafia correta da palavra "listrada", pois nas primeiras edições deste samba o título aparece como "Camisa Listada", estendendo-se o erro à própria Carmen, na gravação.
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