ROBERTO RESENDE VILELA
Cai a chuva... o rio inunda...
o vento torce o arvoredo...
Mas, se a raiz é profunda...
nenhuma planta tem medo!
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Poema de Barcelona/Espanha
JOSÉ AGUSTÍN GOYTISOLO
(1928 – 1999)
Neste Mesmo Instante...
Neste mesmo instante
há um homem que sofre,
um homem torturado
tão somente por amar
a liberdade. Ignoro
onde vive, que língua
fala, de que cor
é sua pele, como
se chama, mas
neste mesmo instante,
quando teus olhos leem
meu pequeno poema,
esse homem existe, grita,
pode-se ouvir seu pranto
de animal acossado,
enquanto morde os lábios
para não denunciar
os amigos. Ouves?
Um homem só
grita amarrado, existe
em algum lugar. Eu disse só?
Não sentes, como eu,
a dor de seu corpo
repetida no teu?
Não te brota o sangue
sob os golpes cegos?
Ninguém está só. Agora,
neste mesmo instante,
também a ti e a mim
nos mantêm amarrados.
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Trova de Queluz/Portugal
FERRER LOPES
As sementes da mentira,
e da calúnia também,
giram num mundo que gira
na lama que o mundo tem.
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Soneto de Novo Hamburgo/RS
ALMA WELT
(1972 – 2007)
O Destino
Nossa vida faz patético percurso
Até aquela final nota de ironia,
Das cartas sempre o último recurso
Pra velar sua vocação que é a poesia.
Tenho medo da leitura da cigana,
Conquanto muitas vezes enganosa,
Quando lendo nossa vida nos engana,
Pensa dar gato e dá poesia pela prosa.
Da resposta não temos o tal código
Como um pai não saberá antes da hora
Se pra casa volta o filho pródigo...
Tudo é mistério: estamos às escuras,
Quem mente para a gente jamais cora,
Também não aquela face que procuras…
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Trova Premiada
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP
Sendo a trova um doce encanto,
eu tornei-me um trovador
e em quatro versos eu canto...
os sonhos vivos do amor!
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Poema de Murrupula, Província de Nampula/Moçambique
ARMANDO GUEBUZA
As tuas dores
As tuas dores
mais as minhas dores
vão estrangular a opressão
Os teus olhos
mais os meus olhos
vão falando da revolta
A tua cicatriz
mais a minha cicatriz
vão lembrando o chicote
As minha mãos
mais as tuas mãos
vão pegando em armas
A minha força
mais a tua força
vão vencer o imperialismo
O meu sangue
mais o teu sangue
vão regar a Vitória.
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Trova Popular
O amor entra pros olhos,
vai pro peito direitinho.
Amor embebeda a gente
como cachaça com vinho.
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Soneto de Brasília/DF
FRANCISCO DAS CHAGAS ESMERALDO MOURÃO
Fúria da natureza
Soprava forte o vento sobre as águas
Galhos e folhas voando pelos ares
Furiosa a natureza são as mágoas
Com a depredação, lamúria e males.
Inundação sufoca nas cidades
Desliza morro casas morre gente
Lassidão à dor, a infelicidade,
O vil ledo ignora sorridente.
Quem tem algum, põe fogo e desmata,
Não se preocupa, pensa em se dar bem,
Não Sabe as consequências que advém.
Mais uma vez devasta a natureza
Destruindo e provocando absurdos
Sofre o inocente, sem qualquer escudo.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros
Amor não tem dialeto,
basta apenas um olhar
e umas gotinhas de afeto
para um sonho se expressar.
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Poema de São Paulo/SP
BETTY VIDIGAL
O amor dos outros
O amor dos outros
é indiferente.
Só o da gente
é especial,
fosforescente,
brilha no escuro.
O amor dos outros
é tão pequeno,
nem vale a pena
pichar o muro.
Ninguém entende
o amor alheio;
não é bonito
e não é feio.
O amor dos outros
é tão efêmero!
Estão amando?
Fazendo gênero?
O amor dos outros
é muito pouco:
só o da gente,
direito ou torto,
alegre ou triste,
sereno ou louco,
lascivo ou puro,
céu ou inferno
- só o da gente
será eterno.
Olha pro rosto
do amor alheio:
são só dois olhos,
nariz no meio,
cadê a boca?
Olha pra cara
do amor da gente:
que coisa louca!
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Nas Bodas de Ouro, ela encuca:
- Quer, meu bem, uma canjinha?
Grita o velho: - Tá caduca?
Que culpa tem a galinha?
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Soneto de Taboão da Serra/SP
DANIEL TOMAZ WACHOWICZ
A voz de uma pedra
Sou pedra. Falo feito pedra bruta,
Dura, tão dura igual palavra dura,
Palavra pedra, dura, forte e pura.
Daqui não saio, tem que ter disputa,
E pedra bate sempre bruta, forte,
Impenetrável, grave, tesa e brava,
Massa pesada, voz que é bruta clava,
Som estridente de pavor e morte.
Tenho vontade pétrea impenetrável,
De duros sentimentos, maleável
Nunca, teimosa sempre, sou teimosa
E provarei para vocês agora.
Posso virar estátua que decora,
Mas permaneço toda pedregosa.
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Trova de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI
O vislumbre inexplicável
das coisas transcendentais,
nutre a fé, que, infatigável,
não retrocede, jamais!
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Spina de Caratinga/MG
REJANE NASCIMENTO
Rememorar
Recordo da juventude,
reconheço os momentos
aquietando o coração.
Não tem como não lembrar
do meu jeito meigo, carinhoso.
Agradeço com uma bela oração.
Trago poesia escrita pela vida;
minha alma canta uma canção.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
ANIS MURAD
(1904 - 1962)
Debaixo de nossa cama,
que tu deixaste vazia,
o meu chinelo reclama
o teu chinelo, Maria…
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Poema Paulista
ORIDES FONTELA
São João da Boa Vista/SP (1940-1998) Campos do Jordão/SP
Elegia (I)
Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era voo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.
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Trova Premiada em Curitiba/PR, 2016
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Para uma vida perfeita,
devemos ter sempre em mente,
que toda e qualquer colheita,
deve-se à boa semente.
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Poema Paulista
HILDA HILST
São Paulo/SP, 1930 – 2004, Campinas/SP
XLII
As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante
E obscura barca ardendo sob as águas.
Palavras eu as fiz nascer
Dentro de tua garganta.
Úmidas algumas, de transparente raiz:
Um molhado de línguas e de dentes.
Outras de geometria. Finas, angulosas
Como são as tuas
Quando falam de poetas, de poesia.
As barcas afundadas. Minhas palavras.
Mas poderão arder luas de eternidade.
E doutas, de ironia as tuas
Só através de minha vida vão viver.
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Trova Humorística de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Menininho, numa prova,
sabiamente assim se exprime:
– Lua nova?... Lua nova
é a cheia que fez regime!
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Escada de Trovas de São Paulo /SP
FILEMON MARTINS
(Filemon Francisco Martins)
Humildade
NO TOPO:
"É um prazer bem diferente
Chegar e fazer o bem,
E partir humildemente
Sem dizer nada a ninguém".
Cipriano Ferreira Gomes
(São Paulo - SP)
SUBINDO:
"Sem dizer nada a ninguém"
espalha a paz e a esperança,
como o Cristo de Belém
deixando o Amor como herança.
"E partir humildemente"
sem alarde pelo mundo,
pregando a fé, como crente,
no sentido mais profundo.
"Chegar e fazer o bem"
a todos sem distinção,
é ter, na vida e no Além
muita luz no coração.
"É um prazer bem diferente"
sentir a missão cumprida,
ver o mundo sorridente
dando mais valor à vida.
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Trova da Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Nós somos duas tipoias,
somando forças escassas:
- quando eu fracasso, me apoias,
te apoio, quando fracassas!...
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Hino de Lorena/SP
Guaypacaré das eras coloniais
Surgida no roteiro das "bandeiras"
Que escalaram sertões e cordilheiras
A demandar as minas cataguases.
Do Paraíba à margem, teus pioneiros
Erigiram à Virgem uma ermida,
E entre bênçãos a terra protegida
Na Vila Hepacaré fez suas bases.
Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!
Do solo teu que o braço escravo arou,
Brotaram verde-rubros cafezais,
E pelo Vale, imensos canaviais,
Do teu progresso indústrias se tornaram.
Os teus heróis que a história consagrou ·
Batalharam por nobres ideais,
Na jornada imortal dos Liberais,
Intrépidos os filhos teus tombaram!
Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!
Do teu passado, rico em tradições,
Cantamos no teu hino toda a glória,
Na exaltação da tua bela história,
A esta gente brava e varonil.
E contemplando as tuas gerações,
Oh! Lorena de outrora e do presente
Te confiamos nobre sonho ardente:
O esplêndido futuro do Brasil
Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!
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Trova de Pedro Leopoldo/MG
WAGNER MARQUES LOPES
Futebol... O bom se faz -
passe a passe... Par a par...
Que o craque chamado Paz
ninguém consiga driblar!
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Poema de Salvador/BA
AFFONSO MANTA
O realejo de vinho
Para quem me queira ouvir:
Sou um homem aos frangalhos.
Parte por culpa de tudo.
Parte por culpa de nada.
E digo mais ao casual
Ouvinte deste relato:
Não sendo herdeiro nem rico,
Não tenho crédito na praça.
Amo as japonas escuras
De mangas e tudo vasto.
E os colarinhos puídos
Uso desabotoados.
Ao pôr a minha gravata,
Fabrico um laço bem largo.
E acho triste andar com ela.
E mais tristes as gravatas.
Eu nunca faço questão
Que uma roupa seja cara.
Mas ampla e, sendo possível,
Com certo ar desesperado.
Eu prefiro aos bons charutos
Um velho e forte cigarro.
E odeio fumar cachimbo
Pois sou muito angustiado.
No mais, um vento me agita,
Interior e largado.
E me devasta os cabelos,
Rosto, sorriso e palavra.
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Trova de Curitiba/PR
MARITA FRANÇA
(1915 – 2009)
A poesia, inspiração,
fulge na alegria e dor…
São toques do coração,
que nos empolgam no amor.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O avarento que perdeu o tesouro
Quem não usa não tem, reza o adágio;
E é bem verdadeiro;
Pois nada prestará, sem o gozarmos,
Acumular dinheiro.
Esopo, no seu conto
Do tesouro escondido,
Fornece belo exemplo ao nosso ponto.
Houve outrora um avarento
Que ouro sobre ouro juntava,
E nem um real gastava:
Dele escravo e não senhor,
Ao vê-lo, imaginaríeis
Que a fortuna assim unida
Guardava para outra vida,
Para outro mundo melhor.
Enterrou-o numa cova,
E a alma enterrou com ele.
Coma, beba, durma, vele,
O seu único prazer
É pensar a cada instante
No seu virginal erário,
Que adora, como sacrário;
E a cada instante ir vê-lo.
Foi lá, foi lá tantas vezes,
Que um cavador, com suspeita
Do mistério, a cova estreita
Abriu, e tudo roubou.
Pouco depois o avarento
O passeio acostumado
Fez ao seu ouro adorado,
Mas... só o ninho lhe achou!
Pasma; lágrimas derrama;
Soluça; geme; suspira;
De raiva os cabelos tira.
É um sonho! Não o crê!
Nisto acaso um viandante
Por aquele sítio passa,
E com dó de tal desgraça
Pede a razão do que vê.
«Roubaram-me o meu tesouro!»
— O teu tesouro roubaram?
E em que lugar o encontraram?
— Junto desta pedra; aqui.
— Por que o trouxeste tão longe?
Receias alguma guerra,
Para o esconderes na terra
De todos, e até de ti?
Veio espairecer no campo?
Antes em casa guardado
Estivesse a bom recado,
E tu a vê-lo, e a gastar.
— Eu gastar o meu dinheiro!
O meu dinheiro? Estás louco!
Custa ganhá-lo tão pouco?
Eu nunca lhe ousei tocar!
— Que me dizes! Impossível!
— Nunca! — Então inútil era.
E a mágoa te desespera?!
Famoso! Deixem-me rir!
Nesse caso, põe na cova
Uma pedra: o mesmo importa
Que a tua riqueza morta;
Do mesmo te há de servir.»
(tradução: Ramos Coelho)
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