sábado, 3 de agosto de 2024

Recordando Velhas Canções (Odeon)


Compositores: Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes

Ai quem me dera
O meu chorinho há tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
quando ouvia
ele fazer tanto chorado

Ai nem me lembro tanto, tanto
Todo encanto de um passado
Que era lindo, era triste, era bom
Igualzinho ao chorinho chamado Odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tirando a canção do violão nesse bordão
Que me dá vida, que me mata
É só carinho, meu chorinho
Quando pega e chega assim, devagarzinho...
Meia luz, meia voz, meio tom
Meu chorinho chamado Odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostra da graça que o choro sentido tem
Quanto tempo passou, quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia, chorinho meu
Você viria com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei pra chorar por vocês

Chora bastante, meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai meu chorinho, eu só queria
Transformar em realidade a poesia
Ai que lindo, ai que triste, ai que bom
De um chorinho chamado Odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda persigo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
Que até parece aquela prece de sai só do coração
Se eu pudesse recordar e ser criança
Se eu pudesse renovar minha esperança
Se eu pudesse relembrar como se dança
Esse chorinho que hoje em dia ninguém sabe mais

Chora bastante, meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai meu chorinho, eu só queria
Transformar em realidade a poesia
Ai que lindo, ai que triste, ai que bom
De um chorinho chamado Odeon
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
A Saudade e a Melancolia em 'Odeon' de Ernesto Nazareth
A música 'Odeon' de Ernesto Nazareth é uma ode ao chorinho, um gênero musical brasileiro que combina elementos de música popular e erudita. A letra expressa uma profunda saudade e melancolia, sentimentos que são intrínsecos ao chorinho. A canção começa com um desejo nostálgico de reviver o chorinho abandonado e a melancolia que ele trazia. A menção ao passado, descrito como 'lindo, triste e bom', reforça a dualidade de emoções que o chorinho evoca.

A letra também destaca a importância dos instrumentos musicais típicos do chorinho, como a flauta, o cavaquinho e o violão. Esses instrumentos são personificados, quase como se tivessem vida própria, e são responsáveis por desatar as emoções do narrador. A música é descrita como um carinho, algo que dá vida e ao mesmo tempo mata, mostrando a intensidade emocional que o chorinho pode provocar. A meia luz, meia voz e meio tom criam uma atmosfera íntima e introspectiva, onde o chorinho chamado 'Odeon' se manifesta.

A canção também aborda a passagem do tempo e as mudanças que ele traz. O narrador lamenta que 'já ninguém chora mais por ninguém', sugerindo uma perda de sensibilidade e conexão emocional na sociedade moderna. No entanto, o chorinho retorna com a graça que o amor lhe deu, para dizer que não faz mal, que tanto faz. Essa resignação é um consolo, uma aceitação da realidade. A saudade e a ilusão de reviver o passado são temas recorrentes, e o desejo de transformar a poesia em realidade é uma expressão do anseio por um tempo que não volta mais. A música termina com um apelo ao chorinho para chorar bastante, pois sua beleza é quase uma maldade, e um desejo de transformar a poesia em realidade, encapsulando a beleza, a tristeza e a bondade do chorinho chamado 'Odeon'.

Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacó do Bandolim.

O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon". Obra-prima no gênero, este tango é apenas mais uma das inúmeras peças de Nazareth em que "melodia, harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão", como opina o pianista-musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.

"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chiques cinematógrafos do Rio de Janeiro".
Fontes:

Nenhum comentário: