Fazia escuro lá dentro. Rikki não sabia se o buraco se alargava adiante, de modo a permitir que Nagaína pudesse voltar-se e desferir novo bote. Não se preocupou com isso. Manteve-se firme na mordida, com as pernas afastadas para melhor frear-se naquele declive escuro e úmido. Quando lá do seu galho Darzee viu que os capins a boca da toca haviam cessado de agitar-se, murmurou:
- Foi-se Rikki-tikki! Temos que lhe cantar um canto fúnebre... A valente mangustinha morreu!... Nagaína já a matou, lá no fundo da terra.
E pôs-se a cantar a mais triste das canções, improvisada com as notas mais sentidas da sua comoção. Súbito, quando estava justamente no trecho mais tocante, os capins estremeceram de novo e Rikk-tikki foi reaparecendo suja de terra, primeiro a cauda, depois uma perna e outra, finalmente o corpo inteiro. Parou e lambeu os bigodes. Darzee deu um pio de surpresa, enquanto Rikki-tikki sacudia-se e espirrava.
- Está tudo acabado, disse a mangusta. A viúva não nos incomodará mais.
As formigas ruivas que moram nos caules das plantinhas ouviram essas palavras e trataram de descer em longas filas para verificar se era certo.
Rikki-tikki encolheu-se sobre a relva onde se achava e dormiu - dormiu até bem tarde, porque se sentia cansadinha do duro trabalho realizado.
- Agora, murmurou ela ao despertar, vou para casa. Darzee, conte o caso ao Caldeireiro, que ele espalhará por todo o jardim a notícia da morte de Nagaína.
O Caldeireiro é um pássaro que dá gritinhos absolutamente semelhantes a pancada do martelo numa vasilha de cobre; e faz isso porque é o arauto dos jardins indianos e o espalhador oficial de notícias.
Quando Rikki-tikki ia voltando para casa, ouviu o aviso de "atenção" do Caldeireiro, composto de notas semelhantes a pancadinhas num gongo – "Ding-dong-tock! Nag já não existe! Ding-dong-tock! Nagaína já não existe! Ding-dong-tock!".
A esse sinal todos os pássaros do jardim puseram-se a cantar, e os sapos fizeram coro, porque Nag e Nagaína viviam de comer sapos e passarinhos.
Ao aproximar-se da casa, Rikki-tikki viu saírem ao seu encontro Teddy, a mãe de Teddy (muito pálida ainda, pois havia desmaiado), e logo atrás o pai de Teddy, todos muito comovidos de ternura e gratidão. Choravam. Nessa noite a mangustinha comeu tudo quanto lhe ofereceram, comeu até não poder mais, e foi para a cama sobre o ombro do menino. Quando a mamãe apareceu no quarto para dar ao filho uma última vista d'olhos, viu a mangustinha quietinha, já livre das inquietações da véspera. Dormia.
- Parece incrível, disse a boa senhora ao marido, mas ela nos salvou a vida a todos!...
Rikki despertou de sobressalto, porque as mangustas têm o sono levíssimo.
- Oh, é a mãe de Teddy! - exclamou reconhecendo-a. Não se inquiete mais, mulher. Todas as cobras foram mortas e, se aparecer mais alguma, aqui estou eu de atalaia.
Rikki-tikki tinha motivos para ficar cheia de si; mas não se encheu de si, não. Limitou-se a guardar o jardim, qual uma verdadeira mangusta – mangusta da ponta do focinho a ponta da cauda - e nunca mais nenhuma cobra ousou enfiar a cabeça para dentro do muro.
Fonte:
Rudyard Kipling. O Livro da Jângal.
- Foi-se Rikki-tikki! Temos que lhe cantar um canto fúnebre... A valente mangustinha morreu!... Nagaína já a matou, lá no fundo da terra.
E pôs-se a cantar a mais triste das canções, improvisada com as notas mais sentidas da sua comoção. Súbito, quando estava justamente no trecho mais tocante, os capins estremeceram de novo e Rikk-tikki foi reaparecendo suja de terra, primeiro a cauda, depois uma perna e outra, finalmente o corpo inteiro. Parou e lambeu os bigodes. Darzee deu um pio de surpresa, enquanto Rikki-tikki sacudia-se e espirrava.
- Está tudo acabado, disse a mangusta. A viúva não nos incomodará mais.
As formigas ruivas que moram nos caules das plantinhas ouviram essas palavras e trataram de descer em longas filas para verificar se era certo.
Rikki-tikki encolheu-se sobre a relva onde se achava e dormiu - dormiu até bem tarde, porque se sentia cansadinha do duro trabalho realizado.
- Agora, murmurou ela ao despertar, vou para casa. Darzee, conte o caso ao Caldeireiro, que ele espalhará por todo o jardim a notícia da morte de Nagaína.
O Caldeireiro é um pássaro que dá gritinhos absolutamente semelhantes a pancada do martelo numa vasilha de cobre; e faz isso porque é o arauto dos jardins indianos e o espalhador oficial de notícias.
Quando Rikki-tikki ia voltando para casa, ouviu o aviso de "atenção" do Caldeireiro, composto de notas semelhantes a pancadinhas num gongo – "Ding-dong-tock! Nag já não existe! Ding-dong-tock! Nagaína já não existe! Ding-dong-tock!".
A esse sinal todos os pássaros do jardim puseram-se a cantar, e os sapos fizeram coro, porque Nag e Nagaína viviam de comer sapos e passarinhos.
Ao aproximar-se da casa, Rikki-tikki viu saírem ao seu encontro Teddy, a mãe de Teddy (muito pálida ainda, pois havia desmaiado), e logo atrás o pai de Teddy, todos muito comovidos de ternura e gratidão. Choravam. Nessa noite a mangustinha comeu tudo quanto lhe ofereceram, comeu até não poder mais, e foi para a cama sobre o ombro do menino. Quando a mamãe apareceu no quarto para dar ao filho uma última vista d'olhos, viu a mangustinha quietinha, já livre das inquietações da véspera. Dormia.
- Parece incrível, disse a boa senhora ao marido, mas ela nos salvou a vida a todos!...
Rikki despertou de sobressalto, porque as mangustas têm o sono levíssimo.
- Oh, é a mãe de Teddy! - exclamou reconhecendo-a. Não se inquiete mais, mulher. Todas as cobras foram mortas e, se aparecer mais alguma, aqui estou eu de atalaia.
Rikki-tikki tinha motivos para ficar cheia de si; mas não se encheu de si, não. Limitou-se a guardar o jardim, qual uma verdadeira mangusta – mangusta da ponta do focinho a ponta da cauda - e nunca mais nenhuma cobra ousou enfiar a cabeça para dentro do muro.
Fonte:
Rudyard Kipling. O Livro da Jângal.
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