domingo, 2 de março de 2014

Vanda Alves (Aquarela de Trovas)


A leve pipa, enfunada,            
pela brisa zombeteira,
une toda a criançada
numa alegre brincadeira.

Amizade e lealdade,
sempre juntas, de mãos dadas:
correntes de identidade
entre almas entrelaçadas.

Amo o branco simplesmente, 
por ser a cor que nos traz
a sensação envolvente
de uma bandeira da paz.

Amor: dádiva divina            
que entrelaça corações;
sem prisão e na surdina,
nos faz viver emoções!

Ao lento passar das horas,            
aumentam as agonias...
Quanto mais tempo demoras,
mais sinto as noites vazias.

Ao vento não lances praga,
pensa, repensa e medita,
pois a boca sempre paga
pela frase que foi dita!      

A saudade, simplesmente,         
como vem logo se vai,
lembra bem o sol poente
no instante que a noite cai.

Assim como sonhos vão,
pelos trilhos do infinito…
outros mais devolverão
paz ao coração aflito…

A sua ausência, crescendo,     
faz aumentar os meus medos
e eu vejo a paz escorrendo,
lenta, por entre meus dedos.

A vida, em sua beleza,
deu-me tantas emoções,
que, mesmo ao sentir tristeza,
há doces recordações.

Bela legenda a se olhar,
que nos dá… esperança irmãos:
Ver os jovens a amparar
o mundo nas suas mãos.

Coloco azul no pincel,
pinto o céu, também o mar…
e deixo no alvo papel,
a luz da lua brilhar!

Cultivada no seu peito,              
desejo ser um jasmim.               
Sei não ser o amor perfeito,
mas me queira mesmo assim.

Depois que se aposentou,
seu pijama é só frangalho,
pois nunca mais o tirou
para não lhe dar trabalho.

Despindo folhas e flores,       
o inverno, o vento conduz,
e a árvore, sem pudores,
vai mostrando os galhos nus.

Deus nos dá sabedoria,            
para o bem que nos conduz     
ao amor que, com a alquimia,
nos torna um farol de luz!

Devemos andar na linha
e com prudência também:
“tino e caldo de galinha”
não fazem mal a ninguém!

Doce palavra vibrante,
lapidada na emoção…
É a trova um raro brilhante,
moldado na nossa mão.

Ela, num dia encantado,
o sonho vai realizar:
leva, mudo e acorrentado,
o seu noivo, para o altar.

Em meus tempos de criança,
pelas poças, num tropel,
lançava minha esperança,
em barquinhos de papel…

Em seu roçar, minha pá,       
peço que no seu vaivém
leve a saudade pra lá              
e traga pra cá o meu bem.

Flechado por um cupido      
vai se inspirando o poeta...
Faz versos de amor doído,
por uma paixão secreta!

Imprimo minhas pegadas,
sofridas pelo abandono,
nas folhas amareladas
pinceladas pelo outono…

Juraste-me ser fiel;
desse nosso amor, contudo,
hoje resta o velho anel
num estojo de veludo.

Lá em casa, quando anoitece,
dormir não há quem consiga:
gulosa, a sogra parece
ter alarme na barriga.     

Juraste-me ser fiel,                   
mas do nosso amor, contudo,
hoje resta o velho anel
num estojo de veludo.

Mas foi batida de frente?
Não, foi mesmo de limão,
que provocou o acidente
do bebum na contramão 

Meu relógio, de hora em hora,
badala a mesma canção:
aquela trilha sonora
que embalou nossa afeição.

Meu tempo tornou-se esparso…
Por mais que tente retê-lo,
nem com tintura disfarço
o cinza do meu cabelo.

Mulher, em sua contenda,
sempre tem o desafio
de tecer a linda renda,
desatando os nós do fio…

Na chama ardem fauna e flora,     
daí a tristeza grassa
e a natureza então chora
envolta em negra fumaça!

Na minha busca amorosa,
não invejo amor alheio,
pois mesmo a vida ditosa
tem seus espinhos no meio.

Não se ata  pelas algemas,
mazelas ao cidadão,
que enfrenta  tantos dilemas
doando vida à  nação.

Na sala da academia,
fonte da literatura,
jorra emoção em poesia,
para a sede da cultura.        

Na vida, eu prefiro o jogo,
não de azar, de sedução...
e, em vez de cartas, o fogo
que incendeia uma paixão.

Na vida vivo tentando,           
tornar meu mundo risonho,     
pois a tristeza vem quando,
existe ausência de um sonho.

No cinema… entre suspiros,
e ao pulsar dos corações,
o casal, dançando em giros,
nos inflama de emoções…

Noite tecida de espera     
e orvalhada pelo pranto:   
essa lembrança que gera,
a nudez do desencanto.

No movimento do mar,
bailando, ondas vêm e vão,
na rua, me encanta olhar:
o vaivém da multidão.

No mundo das ilusões,
havendo entrega total,
se entrelaçam corações
numa paixão virtual…

No refúgio do meu sonho,
em dias de maré cheia,
sigo driblando risonho,
medos… nas dunas de areia.

No regaço dos teus braços,
feliz, carregada ao léu,
sinto na escalada os passos,
nas nuvens… levar-me ao céu!

Numa linda cena antiga,
recordo…um amor na tela,
que se embala na cantiga,
num jantar à luz de vela…

Numa praia, é lindo amar,
contemplando o sol se pôr;
ondas balançando o mar,
e a rede embalando o amor!

Num dia de chuva e raio,
do chefe ninguém me aparta,
tropeço nele... e não saio,
pois não há raio que o parta. 

Nunca temer al futuro,
porque Dios quita la cruz,
me lleva al puerto seguro,
siendo mi rastro de luz!     

O barco, pede passagem
quando a terra descortina
e o farol troca mensagem
piscando a luz na surdina…

O bebum faz arruaça
se em toda blitz é parado,
de tanto tomar cachaça,
só sopra todo babado.  

O jardim, nos seus atalhos,   
unindo vários canteiros,
tece colcha de retalhos,
ungido com doces cheiros...

O mendigo solitário,
perambula pela rua.
Ao redor só o cenário
de uma imensa e fria lua.

O nosso amor em tormenta       
nos pede tempo a pensar...
Mas, nem mesmo em marcha lenta,
ele consegue engrenar.

O valor da roça encerra       
o beijo do sol ardente            
que, fertilizando a terra,
sacia a fome da gente.        

Pela emoção mais secreta,      
seja de alegria ou dor,
a lua inspira o poeta,
na trova que vai compor.

Pela seca, esmorecido,   
abandono o meu rincão.  
No meu rosto entristecido
há mais água que no chão.

Pelo caminho plantei,
as sementes de amizade,
e um patrimônio eu herdei
colhendo a felicidade.

Pelo muro da lembrança,
onde passo …. a caminhar,
vejo a sombra, por vingança,
minha imagem remoçar…

Pensando na tua imagem,         
em sonhos,sempre te vi...
Que importa se era miragem,
importa o amor que vivi!

Poder viver, quem me dera,
sentindo o vento a soprar,
sair da gaiola à espera
da liberdade… e voar !

Por ciúmes, no passado,                
o nosso amor foi desfeito...
Ficou o sonho tatuado
na penumbra do meu peito.

Príncipe da Trova! Honrosa,
nossa entidade acentua:
cada pétala da rosa
contém uma trova sua…

Professora viga mestra,
que sustenta a educação,
regendo afinada orquestra
do saber e da instrução…

Quando em seus braços me enlaça,
nessas chuvas tropicais,
nosso amor ganha mais graça…
enfrentando os temporais.

Quando faz soar o alarme,
lá no prédio da perua,
na sua ronda o gendarme
só vê peladão na rua...   

Quero ter a plenitude,               
de levantar o estandarte,           
com caridade e virtude,
de alguém que parte e reparte!

Recordo, ao passar das horas,           
do meu tempo de criança...
Alegre, contando auroras,
tecendo a doce lembrança.

Restam horas já passadas,
da história de uma paixão:
lembranças esfumaçadas,
nas sombras do carrilhão.

São Francisco nasceu nobre,    
mas despiu-se da riqueza,
cuidou da fauna e do pobre...
e cobriu-se de grandeza.

Se existe um amor sublime         
embalando o coração
um deslize se redime
num pedido de perdão.

Sempre e sempre se convença
de que há distância infinita
entre aquilo que se pensa
e aquilo que a vida dita...         

Só… sentada olhando o mar
sinto a triste solidão
e a onda põe-se a chorar,
em sua arrebentação.

Trovadores em repentes,
se unem num elo de luz...
e as trovas formam correntes:
de emoção... que nos seduz.

Tu ausência me despierta
la impresión de ser dejada...
como una playa desierta
cuando passa la temporada.

Vem Deus, na luz da harmonia, 
a família abençoar:
ofertando o pão do dia
comungado em cada lar.

Fonte:
A Autora

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