ENCONTROS
O homem
sem nome
avança até a beira da estrada
faz o sinal de carona
aos carros que passam
desabalados
abalado o homem
volta a sentar sobre a pedra
sabe que não chegará no tempo
em que os encontros acontecem
retorna em passos
cabisbaixo
ciente do fracasso
o homem sem vida
retrocede.
LUZES
A luz predisposta
na porta entreaberta
o sono abafa o choro
de perdidas imagens
lembradas no início
raiva concentrada
em impropérios
caminho bifurcado
segue o destino
sobre a elevação
o vento silencia
a resposta
cobra do corpo
o escopo deposto
em anotações
verbaliza ordens
a desordem habita
sua vista
a luz ganha espaço
perdido na composta
vida: outro o preferido
em amor e vácuo
mortos sentimentos
retornam na estrada
única.
OBVIEDADE
Procuro a obviedade
do ato na insanidade do fato
recontado na versão amedrontada
da verdade. Minto a certeza
na repetição do gesto. Gasto a vida
em desafios estéreis e me debruço
ao acaso. Com medo entrego
a visão ao fito olho descoberto.
Meu início ciente da contenda
despreza ao largo o objeto
navegado em mares ressacados.
A obviedade se faz porto preso
em armadilhas. A complexidade
reduz os sentimentos ao sentido
do devoluto território aramado
em diversões e festas.
SAPIÊNCIA
Sabe o que aprende
através dos deuses
do conhecimento:
desconhecido ser
interior
na tentativa de entender
o começo no alvoroço
da passagem suave
no encanto da chegada
em torvelinho distinto
de estrelas
e corpos suspensos
o que apreende
dos deuses no reconhecimento
sobre a ignorância
paira
no mundo
de diversos universos
em desconheceres.
TESES
Desafia o relativismo com que seus mestres
demonstram teses em humanas elaborações
de quesitos
e questões
em levantamentos
na compilação
na demonstração
e finalização
(troca a roda do novo invento
e o carro se move)
o planeta se move
e nossas vidas se movem
na repetição da espécie.
INCIDENTAL
A mulher cruza a peça
em direção ao corredor interno.
Sua perna falseia a verdade
da caminhada. Os pés
desistem da cena. A mulher
desaparece no vão da escada.
Espada em punho o homem
acompanha a cena. A lâmina
trespassa seu braço. As mãos
tremem o aço oxidado. O sangue
inunda o vão da escada.
Outra mulher leva nas mãos o pano
de limpeza e o balde. Ajoelhada
passa o pano no vão da escada.
Espreme o pano dentro do balde.
O balde transborda na mulher
desaparecida e no braço
do homem oxidado
na temperada espada.
TEMPOS
Meros anos de conhecimentos
o permitido no indesvendável
caminho não percorrido
sombra projetada
nas luzes descoloridas
da vida relembrada em mitos
fantasmas de despossuídos seres
o planeta em seu curso
no esférico mundo se completa
poucos anos verdadeiros
nas letras toscas dos invernos.
LONGE
Lento caminhar
o corpo sente o desgaste
longo trajeto
o corpo sente o caminho
os olhos procuram
o zênite e o horizonte
rumo e destino
lentos passos
as pernas sentem o cansaço
longas esperas
o espírito consente aos dias
os olhos anunciam
o encontro e o horizonte
arrimo e desatino
lento desânimo
longo o beijo na partida.
CONVIVER
Convivo na desconfiança
de ser espionado
sem motivo aparente
ser vigiado diariamente
sem motivo aparente
ser preso diariamente
sem qualquer motivo
na ideia de ser denunciado
pronunciado
tipificado
sentenciado
(todos os dias)
sem aparentar motivos
convivo na prestação da pena
aparente em que desconfio
de cada dia atípico.
SOMOS
Nenhum sino badala verdades
nos secos tempos de fanfarras
em que nos escondemos
em ruas iluminadas
e atravancadas
de nossos iguais
o barulho nos acompanha
como garantia e vida.
Olhos se dirigem ao próximo
com quem cruzamos na calçada
admiramos o corpo
repelimos o corpo
somos corpos enfeitiçados
em condições estéticas
de frias e congeladas ideias
onde não badalam sinos.
LUGARES
Em nenhum lugar estão
os avessos versos
travessos
em palavras
atravessadas
na garganta
só a lâmina
e o barulho da motocicleta
são possíveis no silêncio
que rasga o tempo
no apagar das luzes
escuros sons são nuvens
de passageiros ícones
na resposta
aos que me perguntam:
o verso transfigurado
traduz hiperpólica figura
dos primeiros acasos
ouro
incenso
mirra.
ÁGUAS
Busco o encontro das águas
em tórridas regiões desencontradas
na flutuação do espírito descontente
em flutuações e encontros
águas no entrechoque
de caminhos igualados
na sequência das margens
surpreendidas pelo leito
no transbordar dos espíritos
a música das águas no encontro
ensurdece corpos em desatino
de espíritos observados nos sons
das épocas em que ressecam
pequenas ondas encontram
e deslizam constantes formas
de encontros em terras cobertas
no passado tempo de chegarem
águas igualadas
em desiguais momentos.
MANHÃ
no seco barulho da pá do pedreiro
no pão com a camada de gordura
a roupa pertenceu ao pai morto
na pouca idade: cadáver atingido
pelas presas dos animais caçados
desfaz o encontro na lembrança
atingida no murmúrio das folhas
fosse o pai dizendo da manhã
REALIDADE
Na realidade escondo o dia
cedo ou tarde
vejo quanto estou ausente
em mim mesmo
o sonho acoberta necessidades
e me utiliza tal máquina incendiária
dos momentos felizes
na realidade trago a utilidade
utilitário personagem
termino minhas tarefas
em poucas luzes
cedo ou tarde tenho a verdade
e a realidade não está nela.
CORPO
Olhos
ouvidos
corpo e alma
memória
na oxidação do corpo
a inutilidade dos membros
atrofiados em tarefas
atração
paixão
amor
indiferentes maneiras
de desconhecimento
o convencimento despreza
avisos incorpóreos
olhos fechados
ao começo.
CONTATO
antenas
ouvidos atentos rastreiam
universos no conhecido
espaço de quase nada
procuram seres
que se comuniquem
conosco
estamos aqui
e queremos entender vocês
não há resposta
além das ondas
regulares de rádio
estática
na pulsação das estrelas
e nas estradas estelares
a preocupação do humano egoísmo
preso em considerações terrenas
no esquecer o principal: sermos
merecedores da resposta
e do contato
Fonte:
O Autor
O homem
sem nome
avança até a beira da estrada
faz o sinal de carona
aos carros que passam
desabalados
abalado o homem
volta a sentar sobre a pedra
sabe que não chegará no tempo
em que os encontros acontecem
retorna em passos
cabisbaixo
ciente do fracasso
o homem sem vida
retrocede.
LUZES
A luz predisposta
na porta entreaberta
o sono abafa o choro
de perdidas imagens
lembradas no início
raiva concentrada
em impropérios
caminho bifurcado
segue o destino
sobre a elevação
o vento silencia
a resposta
cobra do corpo
o escopo deposto
em anotações
verbaliza ordens
a desordem habita
sua vista
a luz ganha espaço
perdido na composta
vida: outro o preferido
em amor e vácuo
mortos sentimentos
retornam na estrada
única.
OBVIEDADE
Procuro a obviedade
do ato na insanidade do fato
recontado na versão amedrontada
da verdade. Minto a certeza
na repetição do gesto. Gasto a vida
em desafios estéreis e me debruço
ao acaso. Com medo entrego
a visão ao fito olho descoberto.
Meu início ciente da contenda
despreza ao largo o objeto
navegado em mares ressacados.
A obviedade se faz porto preso
em armadilhas. A complexidade
reduz os sentimentos ao sentido
do devoluto território aramado
em diversões e festas.
SAPIÊNCIA
Sabe o que aprende
através dos deuses
do conhecimento:
desconhecido ser
interior
na tentativa de entender
o começo no alvoroço
da passagem suave
no encanto da chegada
em torvelinho distinto
de estrelas
e corpos suspensos
o que apreende
dos deuses no reconhecimento
sobre a ignorância
paira
no mundo
de diversos universos
em desconheceres.
TESES
Desafia o relativismo com que seus mestres
demonstram teses em humanas elaborações
de quesitos
e questões
em levantamentos
na compilação
na demonstração
e finalização
(troca a roda do novo invento
e o carro se move)
o planeta se move
e nossas vidas se movem
na repetição da espécie.
INCIDENTAL
A mulher cruza a peça
em direção ao corredor interno.
Sua perna falseia a verdade
da caminhada. Os pés
desistem da cena. A mulher
desaparece no vão da escada.
Espada em punho o homem
acompanha a cena. A lâmina
trespassa seu braço. As mãos
tremem o aço oxidado. O sangue
inunda o vão da escada.
Outra mulher leva nas mãos o pano
de limpeza e o balde. Ajoelhada
passa o pano no vão da escada.
Espreme o pano dentro do balde.
O balde transborda na mulher
desaparecida e no braço
do homem oxidado
na temperada espada.
TEMPOS
Meros anos de conhecimentos
o permitido no indesvendável
caminho não percorrido
sombra projetada
nas luzes descoloridas
da vida relembrada em mitos
fantasmas de despossuídos seres
o planeta em seu curso
no esférico mundo se completa
poucos anos verdadeiros
nas letras toscas dos invernos.
LONGE
Lento caminhar
o corpo sente o desgaste
longo trajeto
o corpo sente o caminho
os olhos procuram
o zênite e o horizonte
rumo e destino
lentos passos
as pernas sentem o cansaço
longas esperas
o espírito consente aos dias
os olhos anunciam
o encontro e o horizonte
arrimo e desatino
lento desânimo
longo o beijo na partida.
CONVIVER
Convivo na desconfiança
de ser espionado
sem motivo aparente
ser vigiado diariamente
sem motivo aparente
ser preso diariamente
sem qualquer motivo
na ideia de ser denunciado
pronunciado
tipificado
sentenciado
(todos os dias)
sem aparentar motivos
convivo na prestação da pena
aparente em que desconfio
de cada dia atípico.
SOMOS
Nenhum sino badala verdades
nos secos tempos de fanfarras
em que nos escondemos
em ruas iluminadas
e atravancadas
de nossos iguais
o barulho nos acompanha
como garantia e vida.
Olhos se dirigem ao próximo
com quem cruzamos na calçada
admiramos o corpo
repelimos o corpo
somos corpos enfeitiçados
em condições estéticas
de frias e congeladas ideias
onde não badalam sinos.
LUGARES
Em nenhum lugar estão
os avessos versos
travessos
em palavras
atravessadas
na garganta
só a lâmina
e o barulho da motocicleta
são possíveis no silêncio
que rasga o tempo
no apagar das luzes
escuros sons são nuvens
de passageiros ícones
na resposta
aos que me perguntam:
o verso transfigurado
traduz hiperpólica figura
dos primeiros acasos
ouro
incenso
mirra.
ÁGUAS
Busco o encontro das águas
em tórridas regiões desencontradas
na flutuação do espírito descontente
em flutuações e encontros
águas no entrechoque
de caminhos igualados
na sequência das margens
surpreendidas pelo leito
no transbordar dos espíritos
a música das águas no encontro
ensurdece corpos em desatino
de espíritos observados nos sons
das épocas em que ressecam
pequenas ondas encontram
e deslizam constantes formas
de encontros em terras cobertas
no passado tempo de chegarem
águas igualadas
em desiguais momentos.
MANHÃ
no seco barulho da pá do pedreiro
no pão com a camada de gordura
a roupa pertenceu ao pai morto
na pouca idade: cadáver atingido
pelas presas dos animais caçados
desfaz o encontro na lembrança
atingida no murmúrio das folhas
fosse o pai dizendo da manhã
REALIDADE
Na realidade escondo o dia
cedo ou tarde
vejo quanto estou ausente
em mim mesmo
o sonho acoberta necessidades
e me utiliza tal máquina incendiária
dos momentos felizes
na realidade trago a utilidade
utilitário personagem
termino minhas tarefas
em poucas luzes
cedo ou tarde tenho a verdade
e a realidade não está nela.
CORPO
Olhos
ouvidos
corpo e alma
memória
na oxidação do corpo
a inutilidade dos membros
atrofiados em tarefas
atração
paixão
amor
indiferentes maneiras
de desconhecimento
o convencimento despreza
avisos incorpóreos
olhos fechados
ao começo.
CONTATO
antenas
ouvidos atentos rastreiam
universos no conhecido
espaço de quase nada
procuram seres
que se comuniquem
conosco
estamos aqui
e queremos entender vocês
não há resposta
além das ondas
regulares de rádio
estática
na pulsação das estrelas
e nas estradas estelares
a preocupação do humano egoísmo
preso em considerações terrenas
no esquecer o principal: sermos
merecedores da resposta
e do contato
Fonte:
O Autor
Um comentário:
Gratíssimo, caro Feldman pela seleta. Coloquei o link no meu blog. Abraços. Pedro.
Postar um comentário