A brisa quando se lança
pelos campos a correr,
até parece criança
brincando de se esconder
A torre da ermida ao longe,
entre sombra e solidão,
lembra a figura de um monge
numa infinita oração!
Buscando um jeito suave
de superar nossas crises,
o meu deslize mais grave
foi perdoar teus deslizes!
Chora a mulher desolada,
ao ver que o mar traiçoeiro
trouxe de volta a jangada,
mas não trouxe o jangadeiro!
Eu não sei de solidão
que se compare à de quem
não guardou no coração
uma saudade de alguém.
Louvo a mão que, resoluta,
com arte digna de espanto,
transforma a madeira bruta
na doce imagem de um santo!
Mesmo chorando ou sorrindo,
em cada olhar de criança
descubro um sol claro e lindo
com o brilho da esperança !...
Não creio mais no que dizes,
e perdoar-te não vou...
Foram tantos teus deslizes
que o meu perdão se cansou !
Não me empolga a fantasia
de amores fúteis, devassos...
O amor que eu tanto queria
já encontrei nos teus braços!
Não regressas... Triste aceito
cumprir a pena severa
desta espera que em meu peito
é mais angústia que espera! ...
Não sou perfeito, mas creio
que entre as pessoas da terra,
censura o deslize alheio
justamente quem mais erra
Não te julgues tão segura
depois que foste e voltaste...
Pois teu regresso não cura
a mágoa que me deixaste!
No constante perde-e-ganha
deste viver peregrino,
há sempre uma força estranha
movendo o nosso destino
No purgatório do mundo
penei... mas pude encontrar
um céu sereno e profundo
quando vi o teu olhar!
Nos aparências não creias...
Existem rios no mundo
de águas escuras e feias
que têm tesouros no fundo! ...
O amor que é paixão, que é febre,
põe, com a sua magia,
na pobreza de um casebre
a riqueza do alegria!
Os povos irão se unir
sem que a guerra os amedronte,
quando o mundo construir
menos muralha e.... mais ponte!
Para enfeitar minha vida
não quis um amor-perfeito...
Agora a flor preterida
virou saudade em meu peito!
Partiste... De tal maneira
chorei ante o desencanto,
que o orvalho da noite inteira
foi bem menor que o meu pranto! ...
Perdido nos descaminhos,
sem ter onde desaguar,
sou um rio de carinhos
à procura do seu mar!
Pobre barraco de morro!...
Quando a chuva a terra invade,
és um grito de socorro
perdido na tempestade!
Pobre do meu coração! ...
Por mais que o enganes e pises,
na cegueira da paixão
não enxerga os teus deslizes!
Pode ser que desagrade
a muitos meu parecer;
mas é melhor ter saudade
do que saudade não ter!
Procura na inglória trilha
manter firme o teu comando,
que a derrota nunca humilha
quando se perde lutando
Procura vento, nas noites
invernosas e sem lua,
diminuir teus açoites
contra os que dormem na rua !
Quando a tristeza me invade
e a tua falta lamento,
escuto a voz da saudade
na sinfonia do vento!
Quando nem tudo são rosas
num mundo escasso de fé,
eu louvo as mãos caridosas
que os caídos põem de pé!
Rio, nas águas serenas
que vais levando em teu leito
leva também essas penas
que tanto afligem meu peito!
Se a solidão tem um preço,
eu pago o dobro por certo,
porque até quando adormeço
sonho que estou num deserto...
Se em meu rumo há sombra adiante
a lamentar não me ponho...
Prossigo perseverante
na conquista do meu sonho!
Sei que nem tudo é bonança
entre nós... Mas, por favor,
não plantes desconfiança
na terra do nosso amor...
Sob um luar feito em prata,
sem ela, triste, sem sono,
faço a minha serenata
pelas ruas do abandono!
Vinha bela e sorridente,
e a brisa por cortesia,
ia varrendo na frente
a estrada que ela seguia!
Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.
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