Quando permaneço, por instantes, analisando os trinta e um volumes da coleção dos livros do mestre do Cosme Velho, um sobressai entre os demais. É dele que me aventuro a discorrer, ou melhor, de onde retirei motivos para alguns versos de minha lavra. Acrescento que foram impressões de leitura que já me proporcionaram escrever algumas modestas poesias.
Há muito anos, li pela primeira vez, o romance Quincas Borba, de Machado de Assis, para o qual compus dois sonetos, sendo que um aproveitando o seu final, e que é assim:
“Eia! lamenta dos dois recentes mortos,
se lágrimas tiveres pra chorar,
se só tiveres risos a lhes dar
pois ri nem que sejam risos tortos.”
Só quem amou assim deveras, sabe
que se pode morrer também de amar,
e o afeto que às vezes não nos cabe
é uma desgraça que nos vai matar.
“O Cruzeiro que a divinal Sofia
não quis fitar, como Rubião pedia,
está tão alto pra não discernir
os risos e as lágrimas dos vivos”
que sofrem cá no mundo por motivos
alheios ao seu modo de existir.
se lágrimas tiveres pra chorar,
se só tiveres risos a lhes dar
pois ri nem que sejam risos tortos.”
Só quem amou assim deveras, sabe
que se pode morrer também de amar,
e o afeto que às vezes não nos cabe
é uma desgraça que nos vai matar.
“O Cruzeiro que a divinal Sofia
não quis fitar, como Rubião pedia,
está tão alto pra não discernir
os risos e as lágrimas dos vivos”
que sofrem cá no mundo por motivos
alheios ao seu modo de existir.
Jornal de Novo Hamburgo
em 29.9.2010
Este soneto foi extraído, em parte, do maravilhoso romance de Machado de Assis, Quincas Borba, no enlevo final da leitura.
E o outro, descrevendo o tema romântico do livro, intitulei de Amor Proibido
– Pobre Rubião que quis o amor proibido,
o louco afeto que não era seu,
e sem desabafar num só gemido
nos mares da loucura pereceu.
Sofia há de lembrar o seu pedido
que sem saber por que não atendeu,
e o distante cruzeiro enaltecido
continuará brilhando lá no céu,
como chamando a cativante bela
que calma se aproxime da janela
e que venha fazer-lhe companhia.
E o vento desfolhando as lindas flores
há de chorar incompreensões de amores
por uma voz pungente de elegia…
o louco afeto que não era seu,
e sem desabafar num só gemido
nos mares da loucura pereceu.
Sofia há de lembrar o seu pedido
que sem saber por que não atendeu,
e o distante cruzeiro enaltecido
continuará brilhando lá no céu,
como chamando a cativante bela
que calma se aproxime da janela
e que venha fazer-lhe companhia.
E o vento desfolhando as lindas flores
há de chorar incompreensões de amores
por uma voz pungente de elegia…
Pudera haver tanta imagem em páginas de romance de quem sofreu por amor ? Basta ler o Prólogo da 3ª Edição, escrita pelo próprio Machado de Assis: “A segunda edição deste livro acabou mais depressa que a primeira. Aqui sai ele em terceira, sem outra alteração além da emenda de alguns erros tipográficos, tais e tão poucos que, ainda conservados, não encobririam o sentido.
Um amigo e confrade ilustre tem teimado comigo para que dê a este livro o seguimento de outro.
– “Com as Memórias Póstumas de Brás Cubas, donde este proveio, fará você uma trilogia, e a Sofia de Quincas Borba ocupará exclusivamente a terceira parte.” Algum tempo cuidei que podia ser, mas relendo agora estas páginas concluo que não. A Sofia está aqui toda. Continuá-la seria repeti-la, e acaso repetir o mesmo seria pecado. Creio que foi assim que me tacharam este e alguns outros dos livros que vim compondo pelo tempo fora no silêncio da minha vida. Vozes houve, generosas e fortes, que então me defenderam; já lhes agradeci em particular; agora o faço cordial e publicamente.” 1899. M. de A.
O perspicaz crítico literário Franklin de Oliveira, assim se expressou a respeito do romance, falando de algumas mulheres que povoam as obras de Machado de Assis:
“Também aquela imagem do negativismo machadiano encontra contestação em suas figuras femininas. O único ser generoso, em Quincas Borba, é uma mulher: Fernanda. E generosas são as suas mulheres, mesmo quando nos parecem emaranhadas numa oculta lascívia, como Capitu, Fidélia, Flora, Virgília e a Sofia, que passeia o seu mistério nas páginas deste romance.”
Nenhum outro escritor brasileiro perscrutou tanto a alma feminina quanto Machado de Assis, fazendo com que as personagens fossem atraentes e misteriosas. A leitura dos seus livros sempre vale a pena, considerando o estilo elegante e a escrita escorreita. E por isto mesmo é sempre atual e exigível para os vestibulares. Leiam-no !
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Texto enviado pelo autor
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