quinta-feira, 21 de março de 2024

A. A. de Assis (Quem pergunta aprende)

Já lhes falei do meu primo padre Augusto. Eu tinha uns 12 anos e o ajudava nas missas e ladainhas. Uma das tarefas era balançar o turíbulo, objeto litúrgico utilizado para lançar incenso. Achava chique essa palavra – turíbulo. Um dia perguntei ao padre qual a origem dela. Pacientemente, explicou: “É uma palavra de origem grega, que chegou até nós pelo latim ‘turibulum’”. Não resolveu nada. Explique melhor, eu pedi. Ele riu e continuou a aulinha: “No grego temos ‘thyos’ (em latim ‘tus’, ‘turis’) = incenso + ‘ballein’ (em latim ’bulum’) = lançar, atirar, arremessar. Logo, ‘turíbulo’ significa ‘lançador de incenso’. Satisfeito?”. Na verdade, continuei meio boiando e só bem mais tarde entendi melhor essa história. Mas fiquei todo prosa por haver enriquecido o meu almoxarifado cultural. 

É muito bom ter a quem fazer perguntas, alguém com quem debater ideias, tirar dúvidas, conferir alguma informação. Acho bonito, por exemplo, ver um médico trocando opiniões com seus colegas sobre o estado de um paciente. Igualmente quando vejo um advogado ligar para outro advogado para esclarecer alguma sutileza jurídica. Em todas as profissões a ajuda mútua irmaniza o grupo e todos crescem na medida em que permutam conhecimento. 

Na “Folha do Norte”, onde trabalhei durante 12 anos, era comum aparecerem dúvidas e a solução natural era trocar figurinhas com os colegas. Meus consultores mais frequentes eram o Elpídio Serra e o Antônio Moscardi. Em alguns momentos chegávamos a pedir uma luz ao amigo Dr. Horácio Raccanello, cujo escritório de advocacia ficava em frente à nossa redação. Em textos relacionados com religião, nossos socorristas habituais eram o padre Orivaldo e, muitas vezes, o próprio Dom Jaime. 

Lembro-me também, com muita saudade, dos bons tempos em que trabalhei como professor no Departamento de Letras da UEM. Vira e mexe um de nós se via à volta com algum probleminha de linguagem. E que legal era a discussão em busca de soluções, ainda mais porque eu vivia cercado de sábios: Walter Pelegrini, Baldin, Juliano, Hiran, Maria Céli, Jeanette, Marilurdes, Leonildo, Ângela, Marly, Maria Ignez, Thomas, Boing, Dionísia, Simara, Lourdinha, Sônia, Aglaé, Rosa, Aécio, Bacelar, Tadeu, Renilson, Odilair, Célia, Yara, Márcia, Regina, Adalberto, Salvador, Pedro, Alice, Apolo. Um supertime. (Perdoem-me se a memória é falha e deixei de citar algum nome). 

Hoje, aposentado, sinto uma falta enorme daquele fascinante convívio. No Google acho respostas para a maioria das perguntas. Mas não é a mesma coisa. Falta calor humano. 

Ainda bem que para discutir dúvidas sobre linguagem e literatura, que são as mais comuns no meu modesto cotidiano, tenho muitos amigos e amigas poetas em Maringá e espalhados Brasil afora. Quero saber se um verso está certinho? Se uma palavra está bem colocada? Se uma ideia está clara?... Fácil. Disparo emails para alguns/algumas deles/delas e logo o problema está resolvido. 

Enquanto eles e elas não se cansarem, continuarei perguntando. Perguntando e aprendendo. 
======================== 
(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá)

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Nenhum comentário: