quinta-feira, 28 de março de 2024

Monsenhor Orivaldo Robles (A mãe do padre)

No anedotário esportivo todo árbitro de futebol tem duas mães: a que fica em casa e a que entra com ele em campo. Ele nem botou ainda o pé no gramado, basta apontar no túnel com a bola na mão e já as duas torcidas homenageiam sua genitora. Ninguém dá a mínima para seu nome ou currículo, se ele é principiante ou faz parte do quadro da FIFA. Mas sobre sua mãe todos têm opinião formada.

Felizmente, não é meu caso, nem o dos colegas. O povo ignora se padre tem mãe. Nem dela faz a mínima ideia. Cá entre nós, se é para lembrá-la como a do juiz de futebol, melhor mesmo que a esqueça. Pode parecer estranho, mas há pessoas que levam um susto quando descobrem que padre também nasce de uma mulher igual às outras.

Dizem que mães são todas iguais, só muda o endereço. Não sei se vale para mães de padres. Elas parecem diferentes. Amam o filho, preocupam-se com ele. Mas cada uma a seu modo. Há as (poucas) que só falta brigarem com o bispo por não dar ao filhinho querido um posto à altura de suas “extraordinárias” qualidades. Outras não falam, mas esperam que o filho seja transferido para mais perto delas. A maioria, contudo, compõe-se de mulheres humildes, piedosas, desinteressadas. Mesmo que não aprovem, não palpitam sobre o trabalho do filho. E até de longe, acompanham, como toda mãe, o que o filho faz. Não adianta falar que não: mãe de padre sente um pouco (ou muito) de pena da vida que ele leva. Já comentei sobre uma querida amiga, que confidenciou, há tempo: “Ah, padre, eu rezo para que Deus não escolha nenhum de meus filhos para padre”. Ante minha cara de surpresa, explicou: “Não desejo para eles a vida sacrificada que o senhor leva”.

Muita gente elogia a mãe no seu dia. Diz coisas lindas, preciosas até. Baboseiras também, que nem valem a pena lembrar.

Nesta semana li um texto espanhol sobre a mãe do padre. Nele reencontrei um pouco da minha história. Falava das preocupações que consomem o coração das nossas mães. Da minha e das dos colegas. Porque somos solteiros e vivemos sozinhos, elas sofrem inquietações de que só mães são capazes. Recordei facetas da minha, que faleceu não faz quatro anos. Durante quase 50, ela acompanhou minha vida de padre. Até morrer, com mais de 94 anos, preocupava-se em saber quem limpava minha casa, quem cozinhava para mim, lavava minha roupa, me socorria em caso de doença… Eu ria das providências que sua mente inventava. Como pretender que o pai me fizesse companhia no meu regresso a Paranacity, onde eu trabalhava no início dos anos 70. Eu vinha vê-lo toda semana, porque ele era doente. Na hora de voltar ela queria, por vezes, que ele me acompanhasse. Eu me divertia questionando se ela não me achava capaz de, com 29 anos e saúde de ferro, voltar sozinho para casa. Que ajuda poderia eu receber, se precisasse, de alguém que às vezes passava semanas de cama? Só mãe mesmo para pensar assim.

À minha não preciso explicar mais nada. A alguma ansiosa mãe de colega quero garantir: pode expulsar do coração seus sobressaltos. Se o seu filho se doa por inteiro à comunidade em que ele atua, nada lhe vai faltar. Nem atenção nem cuidado não de uma, mas de muitas mães.

Fonte> Portal do Rigon. 17 maio 2014

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