sábado, 9 de março de 2024

Eduardo Martínez (O Céu de Clarice)

Clarice, menina perspicaz até para as minúcias, não poupava saliva para defender o que imaginava ser o certo. E, diante de tanta imaginação, quis porque quis entrar na igreja com a Cocó, aquela cachorrinha que lhe fazia companhia nas brincadeiras diárias. E, quando chegava o momento de fazer as tarefas da escola, a Cocó se deitava aos pés da garota e, de lá, só arredava as patinhas após o ponto final do último exercício feito.

Mas voltemos àquela ideia da menina querer entrar com uma cachorra na igreja. Pois, sim! Que ideia mais estapafúrdia, diziam alguns. Isso é falta de umas boas chineladas para ver se aprende, diziam outros.

De tanto a guria insistir, a mãe da menina não teve escolha e, então, recorreu àquele com maior autoridade no bairro. Pois é, a mulher foi ter um dedo de prosa justamente com o Padre Júlio. Ela explicou a situação para o religioso, que, homem mais que sensato, quis conversar com a Clarice.

Não se sabe ao certo como se deu tal diálogo, mas o desfecho foi que a menina tem ido à igreja e, pasmem, acompanhada da Cocó, que fica confortavelmente sentada no seu colo. É verdade que a cadelinha ainda não aprendeu a rezar. Todavia, ela parece estar ciente do argumento usado pela Clarice para fazer com que aquele homem concordasse que a Cocó também pudesse assistir às missas.

– Padre Júlio, não sei se Céu tem cachorro, mas acho difícil ter Céu sem cachorro.

Fonte> https://blogdomeninodudu.blogspot.com/

Nenhum comentário: