Destrua a melancolia,
pois a vida se renova!
Contra a tristeza, Maria,
beba chazinho de trova!
02.
O plagiário é caricato
que no mundo se repete;
é escritor co'a mão do gato
e pintor que pinta o sete.
03.
Ninguém é tão educado
como o fino do Joaquim;
nas lojas, mesmo calado,
saúda até manequim.
04.
Só de ver a sucuri,
adoentou-se a saracura;
com licor de licuri*
nada sara, nada cura.
= = = = = = = = =
* licuri = coquinho
= = = = = = = = =
05.
Diz a crença popular:
Não há coisa que enlouqueça
mais que a boca a relinchar
de uma mula-sem-cabeça!
06.
O pobre incauto eleitor
feliz ficou na procura;
diz que o voto é do doutor
que lhe deu uma dentadura.
07.
O símio, bem natural,
exclama ao réptil, de pé:
"Oh, que boquinha sensual
tem o amigo jacaré!"
08.
- Masculino ou feminino?
Perguntou o frei José;
– “Marculino ou Felisbino
não, não! É Zé que o pai qué"!
09.
No velório do riquinho,
há, no íntimo, festança;
"Choro, sim, por meu padrinho,
(mas que venha logo a herança)".
10.
Aquele gato é baiano,
assim nos diz o Lalau;
ouça o miado do bichano:
"Me-au, me-au, me-au, meau"!
11.
É, na Internet, o namoro
paixão que "dá choque"... e muito;
A cada abraço - um suadouro...
e ao beijar - curto-circuito!
12.
Foi assim que aconteceu
entre meu tio e o Mansur;
– Você, meu filho, é ateu?!
- Não, senhor, eu sou Artur!
13.
Era boa caipirinha
de esquentar qualquer "moringa"*.
- O que de bom é que tinha?
- "Açúcar, limão e pinga".
= = = = = = = = =
* Moringa: Orelha, ouvido (regionalismo).
= = = = = = = = =
14..
Depois de muito ovo por,
a angola* aguça a matraca
e, festejando com suor,
canta: "tô fraca, tô fraca"!
= = = = = = = = =
*Angola: Galinha d'angola.
= = = = = = = = =
15.
Quanta gente cuja obra
é cheia de desatino!
- Tem no cérebro, de sobra,
o que é próprio do intestino.
16.
O cravo brigou co'a rosa,
a rosa despetalou-se;
chora a rosa escandalosa;
- Minha corola encravou-se!
17.
Gosta muito de "pregar"
a mulher do seu Mané;
repete "né", sem parar...
e, no fim, diz "né, né, né".
18.
Neste Brasil brasileiro,
lê-se coisas de arrepiar;
num comércio está o letreiro:
"Volto já, fui ao mossar".
19.
Quão exímia pensadora
é a coruja que se cala;
é tão nobre esta doutora,
que besteira nunca fala.
20.
Para o torcedor fanático,
jogador profissional
é um exemplo claro e prático
de mercenário ideal.
21.
O velhote tagarela,
sozinho em sua viuvez,
propaga muita balela
de mil feitos que não fez.
22.
Às vezes, nem tudo passa
como nem tudo se pode;
nos dias de grande arruaça
pode dar cabra ou dar bode.
23.
- Sou honesto no meu bar,
nada de interrogatório!
De vocês, só vou cobrar
a bebida e o "conversório"!
24.
Pergunta-se, volta e meia,
para quem pouco estudou;
- “Quem deixou a Lua cheia?"
- “Foi o Sol que a engravidou!”
25.
Aquele curvo nariz
é coisa descomunal;
escorre qual chafariz
e, ao assoar, é um temporal.
26.
- Minha cara, dá-me a mão!
É por ti que vivo e morro!
Dá-me afeto, sim, do cão,
não, porém, de um cão cachorro.
27.
Tal paixão te custou caro,
com a mais cega insistência;
esta "coisa", não tão raro,
leva otário pra falência.
28.
Se em toda Literatura
a obra fosse de algum crítico,
carecia sepultura
pra enterrar livro raquítico.
Fonte> Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016. Livro enviado pelo autor.
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