sábado, 2 de março de 2024

Laé de Souza (Cada filho tem a mãe que merece)

Mãe tem de todos os tipos, jeitos e manias. Igual a minha, a tua, a do vizinho, a do amigo, a da namorada. Aquela que chega da feira e te traz na cama o pastel de queijo que você tanto gostava quando menino, e que hoje enjoa só de sentir o cheiro. Mas ela vem com tanta festa, que você não tem coragem de recusar. Mais chato ainda quando você está numa ressaca por ter saído à noite com os amigos e ela te acorda: "Olha o pastelzinho do menininho da mamãe." Dá até ânsia.

Tem aquela que quando sabe que o namorado da filha vem para almoçar, se arruma mais do que ela, usa aquela roupa especial e percebe-se no seu jeito um olhar de sedução. Muitas já perderam o namorado e outras evitam apresentá-los à mãe. Mas isso já é aberração da natureza e acontece muito raramente.

Tem as que quando a filha sai para namorar, obrigam a levar o irmãozinho (que sempre é enrolado para não ver nada e quando vê é subornado). Estas, naturalmente, já estão ultrapassadas, mas têm algumas que resistem à modernidade.

Tem a que quer conhecer todos os amigos do filho e saber quem são os pais, se a família tem tradição. Namorada, então, é vigiada constantemente e a qualquer desvio ou comportamento inadequado, um batom mais vermelho, uma saia mais curta ou pequena mostra dos seios, ela cai de pau em cima e difama a moça, aconselhando o filho que acabe com o romance.

Tem a que quer os filhos sempre unidos e faz questão de tê-los juntos todos os domingos para o almoço, em sua casa. E você tem que fingir que adora aquela macarronada sempre igual, que já era feita pela tua avó. Segurar a mulher para não reclamar e não ter nenhuma encrenca entre as cunhadas e ainda aguentar aquela mais exibida que se apresenta todo santo domingo cheia de badulaques para fazer inveja às outras.

Tem a que não quer que você saia à noite, espera que seja caseiro e não acredita que você cresceu. Pede satisfação de tudo e ainda dá as ordens.

Tem a que reza por você sempre e pede a Deus que tudo de ruim passe de longe e se não tiver jeito, que seja desviado para ela.

Tem a que pega na extensão para ouvir as confidências, que lê o diário às escondidas, que revira os cadernos para verificar as lições ou até um bilhetinho para a colega.

Aquela que quando você diz que vai num lugar às vezes ela aparece de surpresa para conferir. E as que dão a maior força e se tornam cúmplices em tuas traquinagens enfrentando até o pai feroz.

De qualquer forma, geralmente todas elas amam demais os filhos e passam a se amar menos depois que os têm. Conduzir o comportamento da mãe depende deles. E cada filho tem a mãe que merece. E não esqueçam daquele domingo de maio que é o dia delas. Portanto, nesse dia, demonstrem interesse em ouvir o desenrolar do capítulo da novela que ela te conta e deixe pelo menos um dia de se ligar no rock, dê o direito de ela colocar na vitrola aqueles antigos discos do Roberto. Ela vai adorar.

Fonte: Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.

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