segunda-feira, 11 de março de 2024

George Abrão (O salão nobre)

Em Jaguariaíva (no Paraná), no Colégio Estadual “Rodrigues Alves”, existe um salão para eventos denominado Salão Nobre. Nos anos sessenta, do século passado, época deste relato, o salão era utilizado para festas de aula inaugural, sessões cívicas, formaturas, apresentação de peças teatrais ou de musicais ou de concertos e de soirées, que naqueles tempos eram chamadas de “brincadeiras dançantes” ou simplesmente de “brincadeiras”.

Essas “brincadeiras”, com a anuência da diretoria da escola, davam-se sempre aos sábados a partir das 21h, programadas e realizadas pela comissão de formatura do ano. Avisava-se com antecedência e praticamente toda a juventude jaguariaivense se fazia presente, pois era a principal diversão nos finais de semana. Na maioria das vezes a festa era animada com som mecânico, pois lá existia uma radiola onde se tocavam discos de vinil, e excelentes caixas de som. Os discos executados eram, na maioria das vezes, das orquestras e bandas: Ray Conniff, Tijuana Bras, The Beatles, The Rolling Stones, The Fevers, Glen Miller; e dos cantores: Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Altemar Dutra (para os mais românticos). Felizmente naquele tempo ainda não existiam os funks, raps e afins, nem a música sertaneja (da qual particularmente não gosto).

E sob a muito usada luz negra ou globo de luzes coloridas, os casais dançavam juntos embalados pelos variados ritmos tocados, ou separados quando era rock and rool ou twist. Mesmo com a música mais romântica, quando dançavam de rosto colado, não haviam excessos, pois ao menor sinal disso, um dos integrantes da comissão de formatura aproximava-se e, sem nada dizer, só olhava para o partner que se recompunha.

Durante a festa sempre havia uma equipe que realizava a brincadeira de salão “correio elegante” que consistia na troca de bilhetinhos entre as moças e rapazes e vice-versa onde as frases eram variadas: “Você é o queijo da minha goiabada! Quer ser meu par?”, “Eu não fiz nada pra esse amor nascer, mas faço tudo pra não se acabar!”, “Beijo vem do verbo beijar que só dois lábios podem conjugar… Quer tentar?”, “Me apaixonei por você pela segunda vez nessa semana. Me perco e me encontro só em você.”, “Não te doem as pernas de fugir dos meus sonhos todas as noites?” e outras, algumas de cunho romântico, outras nem tanto. Dessa brincadeira surgiram muitos namoros que às vezes foram até ao casamento.

As bebidas consumidas durante a festa iam do refrigerante aos coquetéis: Cuba Libre (rum com coca-cola e limão). Hi-Fi (Vodka com Fanta), Samba (cachaça com coca), Gin-Tônica (que ficava azul sob o efeito da luz negra) e outros inventados na hora. Mas não havia excesso nas bebedeiras e nem as costumeiras brigas que atualmente se veem muito por aí.

Por volta das 2hs a festa acabava como o combinado, só que sempre sob protestos, pois todos queriam mais. Então o pessoal que ia para casa na mesma direção saia em grupos, “entregando” as moças em suas respectivas residências que se localizavam no trajeto.

Anos dourados e saudosos! Se hoje fizéssemos uma reunião no Salão Nobre com todos os habitués da época, ela seria engraçada, pois já somos todos sexagenários ou alguns quase chegando lá.

Fonte> George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017. Enviado pelo autor.

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