O caboclo Saturnino, agricultor em Jacarepaguá, era, por natureza um homem morigerado (*bem-educado). Criando os seus porcos, as suas cabras, os seus perus, as suas galinhas, fazia o possível para que a bicharada não saltasse a cerca, indo devastar as plantações dos vizinhos. Se ele se indignava até à inconveniência quando um bode alheio lhe penetrava o roçado, era natural que os outros se revoltassem, também, quando vítimas de idênticas depredações.
Não obstante os cuidados de todo o dia, tapando, endireitando, recompondo os menores buracos do cercado, foi o Saturnino surpreendido, uma tarde, pela falta de uma das galinhas mais gordas do terreiro. Experiente como era, saiu o caboclo pelo fundo do quintal, e ao olhar para a cozinha do seu compadre Teodoro Maniva, descobriu lá a sua galinha, que estava sendo depenada pela dona da casa. Saturnino rodeou o cercado, bateu à porta da frente e queixou-se do que lhe haviam feito. Positivamente, aquilo não era sério, nem digno de um homem de bem... Teodoro sorriu, e desculpou-se:
- Ora, compadre, para que brigar? Vamos entrar num acordo. A galinha já está na panela; venha jantar hoje, comigo...
Inimigo de questões, Saturnino aceitou o convite, esperou a hora, jantou, despediu-se, e dirigiu-se para casa, de cabeça baixa, imaginando o meio de tomar desforra do seu compadre Teodoro.
Esta não foi difícil. A Brígida, mulher do Teodoro, era uma cabocla forte, rochonchuda, atarracada, cujos olhos faiscavam toda a vez que divisavam, na vila ou nas estradas, o vulto do Saturnino. O caboclo recordou-se disso e, com o propósito da represália, resolveu explorar essa fraqueza da comadre. E tanto fez, tanto virou, tanto mexeu, que, um dia, ao voltar do roçado, o Teodoro não encontrou mais a mulher. Desconfiado, rumou para a casa do Saturnino, e bateu.
- Quem é? - perguntaram de dentro.
- Sou eu! - trovejou o Teodoro.
Saturnino apareceu na soleira do casebre e o outro indagou, feroz:
- A Brígida não está aqui?
O caboclo sorriu, batendo-lhe no ombro:
- Está aí, compadre. Ela está aí dentro.
E tomando-o pelo braço, puxando-o para a cabana:
- Entre, compadre. Fique para dormir com a gente...
Não obstante os cuidados de todo o dia, tapando, endireitando, recompondo os menores buracos do cercado, foi o Saturnino surpreendido, uma tarde, pela falta de uma das galinhas mais gordas do terreiro. Experiente como era, saiu o caboclo pelo fundo do quintal, e ao olhar para a cozinha do seu compadre Teodoro Maniva, descobriu lá a sua galinha, que estava sendo depenada pela dona da casa. Saturnino rodeou o cercado, bateu à porta da frente e queixou-se do que lhe haviam feito. Positivamente, aquilo não era sério, nem digno de um homem de bem... Teodoro sorriu, e desculpou-se:
- Ora, compadre, para que brigar? Vamos entrar num acordo. A galinha já está na panela; venha jantar hoje, comigo...
Inimigo de questões, Saturnino aceitou o convite, esperou a hora, jantou, despediu-se, e dirigiu-se para casa, de cabeça baixa, imaginando o meio de tomar desforra do seu compadre Teodoro.
Esta não foi difícil. A Brígida, mulher do Teodoro, era uma cabocla forte, rochonchuda, atarracada, cujos olhos faiscavam toda a vez que divisavam, na vila ou nas estradas, o vulto do Saturnino. O caboclo recordou-se disso e, com o propósito da represália, resolveu explorar essa fraqueza da comadre. E tanto fez, tanto virou, tanto mexeu, que, um dia, ao voltar do roçado, o Teodoro não encontrou mais a mulher. Desconfiado, rumou para a casa do Saturnino, e bateu.
- Quem é? - perguntaram de dentro.
- Sou eu! - trovejou o Teodoro.
Saturnino apareceu na soleira do casebre e o outro indagou, feroz:
- A Brígida não está aqui?
O caboclo sorriu, batendo-lhe no ombro:
- Está aí, compadre. Ela está aí dentro.
E tomando-o pelo braço, puxando-o para a cabana:
- Entre, compadre. Fique para dormir com a gente...
Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. 1925.
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. 1925.
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