segunda-feira, 14 de junho de 2021

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) O Festival de Cinema de Maringá

Os mais antigos se lembram do sucesso. A cidade estava com apenas 11 anos, não tinha sequer uma rua asfaltada, porém já ousava fazer artes de gente grande. Ousou, por exemplo, um dia, brincar de Cannes. Isso mesmo: para espanto geral, fez-se aqui, de 3 a 10 de maio de 1958, o I Festival Nacional de Cinema de Maringá.

De começo é preciso falar do articulador dessa proeza: Renato Celidônio, paulista descendente de ilustre família quatrocentona, ex-líder estudantil, engenheiro agrônomo, líder ruralista, cafeicultor caixa-alta, mais tarde deputado federal, consagrado como principal político do PTB (depois MDB) da região de Maringá. Um homem de quem todo mundo gostava.

Renato era, ao mesmo tempo, um inquieto animador social. Basta lembrar que foi um dos fundadores do Maringá Clube e do Clube Hípico. Seu irmão José Hugo Celidônio, que posteriormente virou celebridade como um dos maiores ícones da gastronomia no Rio de Janeiro, morava aqui também naquela época e foi um dos fundadores do Clube Olímpico. Os dois conheciam meio mundo nas altas rodas do Rio e São Paulo, aconteciam nas colunas do Ibrahim Sued e do Jacinto de Thormes e dividiam mesa nos bares cariocas com os mais badalados astros e estrelas do cinema brasileiro.

Pois foi numa dessas conversas de bar que a ideia nasceu. “Vou levar vocês a Maringá para um festival diferente de todos os que se fazem no mundo”, disse Renato num de repente. Os minutos seguintes foram para ele descrever Maringá: “É uma cidade que está nascendo no norte do Paraná, numa clareira da mata. Não tem quase nada ainda, mas tem uma beleza de hotel (Grande Hotel), um baita cinema, e um povo raçudo bom à beça”.

Aqui chegando, ele levou o projeto para o prefeito Américo Dias Ferraz, que, festeiro de nascença, abriu um sorrisão e de bate-pronto respondeu: “Topo”. Renato chamou Zé Hugo, Tertuliano dos Passos, Luís Carlos Borba e mais alguns amigos, traçaram uns esquemas e foram conversar com o Ivens Lagoano Pacheco, diretor do “O Jornal”. Apoio irrestrito, com direito a manchete de primeira página: “Cinema Brasileiro terá Festival em Maringá”.

Veio aqui o primeiro time da tela nacional: Anselmo Duarte, Liana Duval, Alberto Ruschel, Andréa Bayard, Carlos Alberto Souza Barros, Odete Lara, Eva Wilma, John Herbert, Mário Sérgio, Celeneh Costa, Lola Brah, Ana Maria Nabuco, Miriam Persia, os diretores Lima Barreto e Roberto Santos e outros mais.

Arrumou-se uma grande passarela na Avenida Getúlio Vargas, na porta do Cine Maringá, por onde entravam os atores, atrizes e demais personalidades. Numa das sessões, até o bispo Dom Jaime entrou junto, ao lado do prefeito e do Celidônio. Foi uma semana de sonho e encantamento. A grande mídia nacional deu ampla cobertura. Maringá entrou na história do cinema. Belíssimo registro nas atas de uma população pioneira.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 02-7-2020)

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