À MESMA SENHORA
SONETO VII
Alcíone, perdido o esposo amado,
Ao céu o esposo sem cessar pedia;
Porém as ternas preces surdo ouvia
O céu, de seus amores descuidado.
Em vão o pranto seu d’alma arrancado
Tenta a pedra minar da campa fria;
A morte de seu pranto escarnecia,
De seu cruel penar se ria o fado.
Mas ah! — não fora assim, se a voz tivera
Tão bela, tão gentil, tão doce e clara,
Daquela que hoje neste palco impera.
Se assim cantasse, o túmulo abalara
Do bem querido; e, branda a morte fera,
Vivo o extinto esposo lhe entregara.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
AS LÁGRIMAS
Lágrimas, lágrimas tristes,
Não deixeis os olhos meus,
Que por vós eternamente,
Aos prazeres disse adeus.
Para ter indisputáveis
Direitos ao nosso amor,
Arranquei-vos da minh’alma,
Sois filhos, de minha dor.
Minha vida, agreste planta
De desertos areais,
Ao sol das paixões vivendo,
Expira se a não regais.
Para ter indisputáveis
Direitos ao nosso amor,
Arranquei-vos da minh’alma,
Sois filhos, de minha dor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
RONDÓ
Minha lira brandamente,
Delinquente em leis de amor
Do traidor que tem por crime
O que imprime na razão,
Que lacera a quem afaga
Que propaga em seus ardores
Os horrores da tristeza
Que me pesa na feição,
Tangerei as cordas tuas,
Que são tuas, e não minhas
Que o que tinhas tangedor
Tens de amor a escravidão.
Não mais de outras criaturas
Formosuras cantaremos,
Louvaremos tão-somente
De um só ente a perfeição.
Tirce, a bela moreninha,
Que de minha nada tem,
É, meu bem, a criatura
Que segura meu grilhão.
Eu que em vê-la só me esmero
Ser não quero desprendido,
Que embebido no meu rosto
Acho gosto na prisão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O FUROR CIUMENTO
Da mãe, que pelo amante empunha o ferro
Para cravar nos filhos, pede o fogo,
Que em teus olhos dardeja o sol dos trópicos;
A clave do gemido brasileiro
Pede a prece da filha
Que os filhos recomenda ao amor paterno;
Norma de Norma, chega!
Já a língua de Euterpe é língua tua!
Chegaste!... dos desgostos pela senda,
Arrastada por destra misteriosa,
Que dest’arte guiou-te ao ignoto alcáçar
Recebe, pois, um ósculo da Poesia,
Que Música e Poesia
Irmãs nos louros, beijam-se na floria.
Sus, Rainha do Canto, o cetro empunha!
Reina, que, se não reinas
No mundo d’harmonia,
Reinar não pode a cena brasileira.
SONETO VII
Alcíone, perdido o esposo amado,
Ao céu o esposo sem cessar pedia;
Porém as ternas preces surdo ouvia
O céu, de seus amores descuidado.
Em vão o pranto seu d’alma arrancado
Tenta a pedra minar da campa fria;
A morte de seu pranto escarnecia,
De seu cruel penar se ria o fado.
Mas ah! — não fora assim, se a voz tivera
Tão bela, tão gentil, tão doce e clara,
Daquela que hoje neste palco impera.
Se assim cantasse, o túmulo abalara
Do bem querido; e, branda a morte fera,
Vivo o extinto esposo lhe entregara.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
AS LÁGRIMAS
Lágrimas, lágrimas tristes,
Não deixeis os olhos meus,
Que por vós eternamente,
Aos prazeres disse adeus.
Para ter indisputáveis
Direitos ao nosso amor,
Arranquei-vos da minh’alma,
Sois filhos, de minha dor.
Minha vida, agreste planta
De desertos areais,
Ao sol das paixões vivendo,
Expira se a não regais.
Para ter indisputáveis
Direitos ao nosso amor,
Arranquei-vos da minh’alma,
Sois filhos, de minha dor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
RONDÓ
Minha lira brandamente,
Delinquente em leis de amor
Do traidor que tem por crime
O que imprime na razão,
Que lacera a quem afaga
Que propaga em seus ardores
Os horrores da tristeza
Que me pesa na feição,
Tangerei as cordas tuas,
Que são tuas, e não minhas
Que o que tinhas tangedor
Tens de amor a escravidão.
Não mais de outras criaturas
Formosuras cantaremos,
Louvaremos tão-somente
De um só ente a perfeição.
Tirce, a bela moreninha,
Que de minha nada tem,
É, meu bem, a criatura
Que segura meu grilhão.
Eu que em vê-la só me esmero
Ser não quero desprendido,
Que embebido no meu rosto
Acho gosto na prisão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O FUROR CIUMENTO
Da mãe, que pelo amante empunha o ferro
Para cravar nos filhos, pede o fogo,
Que em teus olhos dardeja o sol dos trópicos;
A clave do gemido brasileiro
Pede a prece da filha
Que os filhos recomenda ao amor paterno;
Norma de Norma, chega!
Já a língua de Euterpe é língua tua!
Chegaste!... dos desgostos pela senda,
Arrastada por destra misteriosa,
Que dest’arte guiou-te ao ignoto alcáçar
Recebe, pois, um ósculo da Poesia,
Que Música e Poesia
Irmãs nos louros, beijam-se na floria.
Sus, Rainha do Canto, o cetro empunha!
Reina, que, se não reinas
No mundo d’harmonia,
Reinar não pode a cena brasileira.
Fonte:
Laurindo Rabelo. Poesias completas.
Laurindo Rabelo. Poesias completas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário