segunda-feira, 21 de junho de 2021

Contos e Lendas do Mundo (O Morcego)

As borboletas, que hoje vemos pousar, leves, nas flores, na superfície das águas, e até mesmo paradas no ar, não chegam nem aos pés daquilo que em determinado tempo foi o morcego: a mais bela ave da criação.

Mas as coisas nem sempre foram assim: quando a luz e a sombra começaram a andar, ele era como o conhecemos agora e se chamava biguidibela: biguidi, mariposa; e bela, carne... Mariposa em carne, isto é, mariposa pelada. O morcego, era, então, a mais feia e desventurada de todas as criaturas.

Até que um dia não aguentando mais o frio, subiu ao céu e disse a Deus:

- Senhor, estou morrendo de frio, preciso de umas penas.

E como Deus, embora nunca pare de trabalhar, jamais volta a pôr as mãos em tarefas já cumpridas, não tinha nenhuma pena para lhe dar. Assim, disse-lhe que voltasse à Terra e suplicasse em seu nome uma pena a cada uma das aves existentes. Porque Deus sempre dá mais do que se lhe pede.

De volta à Terra, o morcego recorreu aos pássaros de plumagem mais vistosa: a pena verde do pescoço do papagaio, a azul da pomba azul, a branca da pomba branca, a furta-cor do colibri.

Assim, de todas as aves o morcego ganhou uma pena e tornou-se a mais linda das aves.

Orgulhoso, voava ao romper da manhã, e as outras aves, refreando o voo, paravam para admirá-lo. Havia sobre a Terra uma emoção nova, provocada pela beleza dessa nova criatura. Ao cair da tarde, voando com o vento do poente, coloria o horizonte.

Certa vez vindo do outro lado das nuvens, criou o arco-íris, como um eco de seu voo.

Sentado nos ramos das árvores, abria e fechava as asas, sacudindo-as num tremor que alegrava o ar. Todas as outras aves começaram a ter inveja dele, e o ódio tornou-se unânime, como unânime havia sido um dia a admiração.

Então um outro dia, subiu ao céu uma revoada de pássaros, com o colibri à frente. Deus ouviu sua queixa. O morcego fazia pouco deles; além disso, com uma pena a menos, sofriam com o frio. E eles mesmos, de volta, trouxeram uma mensagem dizendo que o morcego deveria comparecer ao céu.

Quando ele se apresentou, Deus o fez repetir os gestos que tanto haviam ofendido seus companheiros. E, ao sacudir as asas, ficou como antes, sem penas. Diz-se que durante um dia inteiro choveram penas do céu.

Desde então, o morcego só voa ao entardecer, em rápidos giros, caçando penas imaginárias. E não para nunca, para que ninguém possa ver sua feiúra.

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