CREPÚSCULOS
Sumiram, por encanto, as pálidas estrelas.
A lua se escondeu entre as ondas do mar.
O pescador largou, içando as brancas velas,
grandes lenços que vão, muito longe, a acenar.
Os montes, na amplidão, quais negras sentinelas,
despiram, pouco a pouco, os encantos do luar.
No diáfano esplendor de inimitáveis telas,
a estrela da manhã começa a desmaiar.
Aves recruzam no alto, em álacre revoada.
Tudo canta e sorri, num mágico fulgor.
O sol brilha no Oriente, a fronte alevantada,
como um rei sem rival, feliz, dominador;
e a exsurgir do arrebol de esplêndida alvorada,
enche a terra de luz, num êxtase de amor.
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HOMO HOMINIS LUPUS
Tigres, leões, leopardos e panteras,
elefantes, pesados mastodontes,
ictiossauros, mamutes de outras eras,
pelas brenhas vagando e pelos montes;
os que viveram nas furnas e taperas;
corvos, revoando em turvos horizontes,
hienas, répteis terríveis, brutas feras,
monstros do mar, negros rinocerontes;
ursos bravos, bisões, touros ferozes,
lobos, chacais, em pelotões atrozes,
as selvas rebolcando em luta insana...
Todas as feras juntas deste mundo
são preferíveis ao horror profundo
da ingratidão e da maldade humana.
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O IPÊ
Sumiram, por encanto, as pálidas estrelas.
A lua se escondeu entre as ondas do mar.
O pescador largou, içando as brancas velas,
grandes lenços que vão, muito longe, a acenar.
Os montes, na amplidão, quais negras sentinelas,
despiram, pouco a pouco, os encantos do luar.
No diáfano esplendor de inimitáveis telas,
a estrela da manhã começa a desmaiar.
Aves recruzam no alto, em álacre revoada.
Tudo canta e sorri, num mágico fulgor.
O sol brilha no Oriente, a fronte alevantada,
como um rei sem rival, feliz, dominador;
e a exsurgir do arrebol de esplêndida alvorada,
enche a terra de luz, num êxtase de amor.
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HOMO HOMINIS LUPUS
Tigres, leões, leopardos e panteras,
elefantes, pesados mastodontes,
ictiossauros, mamutes de outras eras,
pelas brenhas vagando e pelos montes;
os que viveram nas furnas e taperas;
corvos, revoando em turvos horizontes,
hienas, répteis terríveis, brutas feras,
monstros do mar, negros rinocerontes;
ursos bravos, bisões, touros ferozes,
lobos, chacais, em pelotões atrozes,
as selvas rebolcando em luta insana...
Todas as feras juntas deste mundo
são preferíveis ao horror profundo
da ingratidão e da maldade humana.
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O IPÊ
Árvore nativa dos campos e florestas do Brasil, cuja copa frondosa toda se cobre de flores de ouro, É o símbolo do Brasil no "Jardim da Paz" da cidade de La Plata, República Argentina.
Sobre a encosta do monte escarpado e sombrio,
onde o mato nativo esbraceja e descora
batido pelo sol, ergue-se, azul em fora,
lindo e frondoso Ipê, quase à beira do rio.
A linfa de cristal corre em leito vazio
e, sentindo-se pobre, envergonhada chora.
O Ipê, colmado de ouro, os espaços enflora,
dominando altaneiro esse sertão bravio.
À tarde vêm pousar os alados cantores
em sua copa erguida, encantada e tamanha
que de longe deslumbra em flavos esplendores,
E ele avulta, a atitude engalanada e estranha,
como a sugar da terra e a transformar em flores
o áureo veio, profundo, ignoto, da montanha.
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O UIRAPURU
Nas florestas imensas escondido,
bem alto, sobre as copas verdejantes,
donde não se ouve o mínimo estalido
das folhas secas dos oitis gigantes,
o pequeno cantor, despercebido,
em seus trilos agudos e vibrantes,
aprimora e traduz todo o sentido
com que desperta os corações amantes.
Assim o Uirapuru, álacre, canta.
des'que o sol da Amazônia se alevanta,
e o passaredo o imita na espessura.
Corre a lenda que o pássaro encantado
para quem o ouve é um símbolo sagrado,
o talismã do amor e da ventura.
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POETA
(Escrito aos 17 anos de idade)
Alma, feita de luz, para as trevas nascida
como os astros da noite e os faróis sobre os mares,
não mais sonhes, vagando ao palor dos luares,
alma feita de luz para as trevas da vida.
Tu, que foste à matéria e à ilusão sempre unida,
és senhora da terra e dominas os ares.
E, se podes galgar os cimos estelares,
por que vives assim, para a terra pendida?
Por que sangras assim tuas asas de neve,
nesse rastro de dor que teu voo descreve?
Por que trazes da noite esse aspecto tristonho?
E, no entanto, aí vais, entre o abismo e a ventura,
a arrastar, cruelmente, em eterna tortura,
o madeiro da vida ao calvário de um sonho.
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Eduardo Reis da Gama Cerqueira, advogado, jornalista e poeta. Nasceu em Cataguases,MG, em 1884 e faleceu em 1950, no Rio de Janeiro.
Filho de Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira e Mathilã da Silva Reis Cerqueira. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte, em 1907. Foi funcionário efetivo da Fazenda por concurso realizado na Delegacia Fiscal de Minas Gerais, em 1905. Em 1908, em concurso realizado no Tesouro Nacional, no Rio de Janeiro, obteve o 1. lugar. Em 1910 foi designado para exercer, em comissão, o cargo de Secretário do Ministro da Agricultura, com as funções de Chefe do Gabinete do Ministro. Exerceu vários cargos de responsabilidade: foi Delegado Fiscal do Tesouro, Conferente da Alfândega do Rio de Janeiro, e finalmente Oficial Administrativo do Tribunal de Contas. Fiel cumpridor de seus deveres, elogiado e querido por seus chefes e colegas, estimado por todos, Gama Cerqueira deixou um marco brilhante em sua trajetória de trabalho.
Desde os 17 anos, compôs e publicou versos, sonetos e artigos, colaborando em diversos jornais não só do Rio de Janeiro, como nos de São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e outros. Foi principalmente colaborador incansável do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. Publicou o poema "Portugal" em 1923 e "Luz e Sombras" em 1947. Deixou prontos para o prelo "Vinte e Duas Estrelas", e "Terra da Promissão" (este composto de poemas e sonetos históricos, descritivos e patrióticos, de exaltação do Brasil); e "Livro íntimo", transbordante de emoções diversas.
Tendo-se casado em 1908, ficou viúvo de D. Carmelita Barcellos Cerqueira, em 1941. Seus filhos: Célia Cerqueira Cavalcanti, Edgard Barcellos Cerqueira, Maria José Barcellos Cerqueira, Wilson Barcellos da Gama Cerqueira e Luiz Gonzaga de Barcellos Cerqueira, que lhe herdaram a sensibilidade poética.
Filho de Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira e Mathilã da Silva Reis Cerqueira. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte, em 1907. Foi funcionário efetivo da Fazenda por concurso realizado na Delegacia Fiscal de Minas Gerais, em 1905. Em 1908, em concurso realizado no Tesouro Nacional, no Rio de Janeiro, obteve o 1. lugar. Em 1910 foi designado para exercer, em comissão, o cargo de Secretário do Ministro da Agricultura, com as funções de Chefe do Gabinete do Ministro. Exerceu vários cargos de responsabilidade: foi Delegado Fiscal do Tesouro, Conferente da Alfândega do Rio de Janeiro, e finalmente Oficial Administrativo do Tribunal de Contas. Fiel cumpridor de seus deveres, elogiado e querido por seus chefes e colegas, estimado por todos, Gama Cerqueira deixou um marco brilhante em sua trajetória de trabalho.
Desde os 17 anos, compôs e publicou versos, sonetos e artigos, colaborando em diversos jornais não só do Rio de Janeiro, como nos de São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e outros. Foi principalmente colaborador incansável do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. Publicou o poema "Portugal" em 1923 e "Luz e Sombras" em 1947. Deixou prontos para o prelo "Vinte e Duas Estrelas", e "Terra da Promissão" (este composto de poemas e sonetos históricos, descritivos e patrióticos, de exaltação do Brasil); e "Livro íntimo", transbordante de emoções diversas.
Tendo-se casado em 1908, ficou viúvo de D. Carmelita Barcellos Cerqueira, em 1941. Seus filhos: Célia Cerqueira Cavalcanti, Edgard Barcellos Cerqueira, Maria José Barcellos Cerqueira, Wilson Barcellos da Gama Cerqueira e Luiz Gonzaga de Barcellos Cerqueira, que lhe herdaram a sensibilidade poética.
Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.
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