sexta-feira, 11 de junho de 2021

Caldeirão Poético XLV


Arievaldo Vianna

Quixeramobim/CE

DILEMAS DE ÍCARO


Lançar-se ao voo de maneira decidida
Desafiando os raios cálidos deste sol
Morder a isca, feito peixe no anzol,
Alçar um voo deslumbrado na subida

Não importar-se com a cera derretida,
Aventurar-se sem ter bússola ou farol,
Trinar um canto - liberto rouxinol!
Perder as asas, sorrindo na descida...

Armar a rede diante de um vulcão,
Desafiar Potestades do Universo!
Ou, simplesmente, não abraçar qualquer meta;

Acomodar-se com os elos do grilhão...
Conter os brados ferinos do seu verso...
São os dilemas que torturam o poeta.
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Carlos Vazconcelos
Tianguá/CE

EM DEFESA DO SONETO


Garboso em fardão ou então despido
De inútil esplendor - na inculta cena,
Velho sempre e já rejuvenescido
Ele pousa sim nas melhores penas

Maculam demais sua reputação
Dizem-no arcaico e obsoleto
Superado, vil, servo da emoção
Adulterado de pai para neto

Acusam-no de cárcere do verso.
Escravo feitio; quarteto, terceto
Sisudo e arredio; oposto, cateto

Mas se a Poesia, bela e diversa,
Criada com arte em plano secreto
Cabe em toda forma... elejo o soneto!
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Inês Carolina Rilho
Recife/PE

ECOANDO N'ALMA


Olho incessantemente da janela. Não te vejo mais.
Busco avidamente tuas mãos entre as minhas.
Parece-me ainda sentir teu cheiro nas linhas
do papel. Tua voz a meu lado não ouço mais.

As pedras do caminho sabem de todos os teus passos.
O sol perdeu um pouco do brilho. Estou sem teu olhar.
A lua reflete languidamente sobre o mar com pesar.
Os dias correm sem parar. Estou sem teus abraços.

Ouço rumores nas ruas. A tua voz em mlnh'alma ecoa.
Vejo alguém semelhante a ti, julgo enfim delirar.
Pessoas para lá e para cá... Ouço então cantarem loas.

Já não sei por onde ir nesse desejo de te encontrar.
Volto para minha sacada, vejo um trovador qu'entoa.
És tu e me surpreendes, buscando meu lenço segurar!
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Ismar Dias de Matos
Belo Horizonte/MG

DIAMANTINA


Tens o clima intraduzível;
cedo é sol, tarde é neblina...
Diamantina, Diamantina...
que natureza aprazível!

"Se é por demais incrível
e o meu dilema fascina,
inclina o ouvido, inclina,
ouve o tempo indescritível!

Se o sol que ora clareia
der lugar à lua cheia
e convidar à seresta;

deixa o sol, essa torrina,
calor e qualquer rotina,
vê a natureza em festa!"
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Michelle Gomes Moreira
Curitiba/PR

DETALHADOS SEGREDOS


Sou a própria tristeza em meio à multidão
Mútuos sentimentos misturando ilusão
Ambivalente nos versos, sou a composição
Não temo às dores, muito menos solidão

Estou bem sim, acompanhada do meu próprio ser
Transpasso os dias desse tal mundo fugindo
Conversas longas sempre tenho tido comigo
Escrevo-me para que assim eu possa me ler

Em enigmas eu esmiuço detalhes de mim
Pareço ser inocente, porém sou réu enfim
Sentenciada, condenada a ser infeliz

Ao desnudar poemas, e escrever sonetos
Neles eu me mostro, neles eu desapareço
Sou eu paradoxo, detalhados em segredos.

Fonte:
Luciano Dídimo (org.). 100 sonetos de 100 poetas.
Fortaleza/CE: Expressão Gráfica e Ed., 2019.

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