Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.
Khalil Gibran(1883 - 1931)
ARISTHEU BULHÕES
(Maceió/AL, 1909 – 2000, Santos/SP)
CONTRASTE
No chão do meu quintal, que rústico era,
Eu, que de sonhos enfeitava a vida,
Numa linda manhã de primavera,
Plantei ramos de uma árvore caída...
E, cheio de ilusão e de quimera,
Abandonei a terra estremecida
Como o viajante que atingir espera
A rósea meta, a que o Ideal convida...
Anos depois voltei... Na alma cansada
Nem mais um sonho, uma ilusão trazia
Porque tudo eu perdera na jornada.
Mas, cada ramo que plantei a esmo,
Era uma árvore imensa que floria
Para arrimo e conforto de mim mesmo.
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ)
ERA UMA ÁRVORE
Era uma árvore no passeio
e fosse tempo claro ou feio,
havia uma paz de agasalho
dependurada em cada galho.
E foi vivendo. Viver gasta
músculo e flama de ginasta,
quanto mais uma arvorezinha
meio garota-de-sombrinha.
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FILEMON MARTINS
(Itanhaém/SP)
A ÁRVORE
Árvore amiga – símbolo sagrado,
– presente do bom Deus à criatura,
portadora de Paz ao que, cansado
vai procurar descanso da amargura.
Com sua sombra acolhe o desprezado
que passa pela estrada, sem ventura,
e o protege feliz, reconfortado,
para viver, lutar, sempre à procura
do seu destino – eterno caminheiro
em busca de um amor hospitaleiro,
onde a Felicidade fez guarida...
Pois desprezo a ganância do insensato
que põe abaixo as árvores e, ingrato,
– não percebe que mata a própria vida.
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JORGE SOUSA BRAGA
(Cervães/Portugal)
AS ÁRVORES E OS LIVROS
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de ouro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
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JÚLIA LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1862 – 1934)
AFONSO LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1889 – 1953)
A LIÇÃO DA ÁRVORE
Vida, que a vida serves e alimentas,
Gramínea débil, melindroso arbusto,
Folhagens, franças, frondes opulentas,
Esguio caule, tronco alto e robusto;
Frutos e flores – pábulo e beleza;
Grão que dá vida e a vida perpétua,
Que enche de vida toda a Natureza
Se cai no sulco aberto da charrua;
Semente que germina, estala e engrossa,
Cresce e, tronco, frondeja e toma vulto,
- Árvore, amiga do homem, que ele possa
Fazer do teu amor um vasto culto;
Que aprenda, à luz do Sol que te redoura
A ramaria verde e o tronco bruto,
Que é Bondade – na sombra abrigadora,
E Generosidade, no teu fruto.
Árvore! Que o homem te ame sempre e veja,
Enternecido, em teu aspecto rude,
Que nada, amiga, fazes que não seja
Exemplo de moral e de virtude!
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LUÍS VAZ DE CAMÕES
(Coimbra/Portugal, 1524 – 1580, Lisboa/Portugal)
ÁRVORE, CUJO POMO, BELO E BRANDO
Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando.
Que pois me emprestas doce e idôneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
Fonte:
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética.
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética.
São Gonçalo/RJ, 2018. E-book.
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