51
Rua das Palmeiras. Magras, altas, belas,
quais moças nas passarelas.
52
Na foto antiga, a saudade vestida
de azul e branco. Normalistas, lembra-se?
53.
Asinha quebrada, cata a pombinha
na grama a sobrevivência.
54.
Na agitada esquina o guarda priprila o apito.
Bem-te-vi responde.
55
O tempo soprou e eu de mim em mim sumi.
Ficou-me o não eu.
56
Um cisco no chão. Mas não era
um cisco não, era uma esperança.
57
Levantar cedinho. Mens sana
in corpore sano. Ouvir passarinho.
58
Que coisa gostosa o abraço
quando com saudade é dado...
59
Quem foi que tantas matas
neste mundo derrubou? O pica-pau?...
60
E agora, vovô? – Agora, nas mãos
dos netos, sou que nem ioiô.
61
Rosna a motosserra pondo o verde
ao chão. Planeta morrente.
62
Súbita rajada. Um vento espalhafatoso
alvoroça as saias.
63
Abre e fecha, qual se um livro fosse.
Uma borboleta.
64
Matuto, matuto... chego à sábia
conclusão: que matuto eu sou...
65
Chuva, chuva, chuva. Dá tristeza
quando falta; quando farta, assusta.
66
Nós e os nossos rios, cada qual segue
o seu curso. Reencontro na foz.
67
Morantes na Lua: São Jorge
e o fiel cavalo, mais a solidão.
68
Manhêêê – diz o piá –, trouxe uma flor
pra você. Troco por um beijo.
69
Tinha um pé de pinha no quintal vizinho.
Tinha. Nem quintal tem mais.
70
Na fila de idosos, troca-troca
de sintomas. Quem não tem inventa.
71
Era um frango assado, e além de assado
era assim. Teve à mesa um fim.
72
Luar no sertão. Que falta nos faz Catulo
com seu violão.
73
Goleiro do Galo distrai-se olhando
a perua. Come um baita frango.
74
Tudo bem, poeta. Minha terra
tem Palmeiras, mas sou são-paulino.
75
Falta de aviso não foi. Brincamos
de serra-serra, e o clima endoidou.
76
“Por que não te calas?”, diz a arara
ao papagaio. – Se calo, me peias.
77
Vão-se os amigos... Cada um que a gente
chora deixa mais sozinho a gente.
78
Pai é pai. Para ver Adão contente,
deu-lhe o máximo: a mulher!
79
Infinda é a esperança. Os galos
cantam ainda na aurora de cada dia.
80
Bem-aventurados os que sonham.
Chama-os Deus poetas.
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