sábado, 22 de outubro de 2011

Carlos Leite Ribeiro (Ela e Eles)


Ao contrário do que se possa supor, Ela, é ela; Eles, são a irmã e o cunhado. Seus nomes? Bem, Ela é a Maria; a irmã tem o nome de Sónia e o marido é o Miguel. Como são muito amigos e se compreendem muito bem, o casal convidou a Maria para umas férias na província da Beira Baixa, cujo nome da terra não vem em nenhum mapa.

Como soe dizer, a Maria ficou em “pulgas” (ansiosa) pela chegada do dia em que o casal a ia buscar a sua bela casa, nos confins do Centro de Portugal.

Quando o dia combinado chegou, a Maria começou a fazer (compor) as suas duas enormes malas que sempre a acompanham quando vai de férias. Como sempre, as malas ficaram tão cheias que para as fechar, teve que se pôr aos pulos, em cima delas (malas). Ao fim de muito esforço, lá conseguiu correr os fechos.

Uma hora antes já estava no portão da casa, esperando pela chegada do casal. Lembrou-se que não tinha posto dentro das malas seu estojo de unhas, nem o verniz escuro e nem sequer a tinta para o cabelo, pois, o seu loiro se não fosse pintado (ou retocado), os cabelos tinham a tendência de se tornarem brancos. Subiu as escadas, e meteu isto tudo dentro da mala de mão que, de tão cheia mais parecia um balão.

Maria: - Já passam 5 minutos e aqueles “desalmados” não chegam… Vou telefonar-lhe para começar a ralhar com eles… Já estava à espera de terem o telemóvel (celular) desligado. Que raiva…

Teve de conter (?) a sua “raiva” por mais de hora e meia. Por fim, na curva da rua, lá apareceu o “bendito” carro do casal.

Maria: - Tanto tempo para chegarem cá? Cheguei a pensar que viessem a pé! Já estava a pensar em desistir, porque isso que me fizeram (esperar) é um verdadeiro desaforo para minha pessoa!

Sónia: - Olá querida, como estás? Estou a ver que, como sempre, muito bem-disposta!

Miguel: - O carro está muito sujo. Antes de começar a viagem, temos que o lavar.

Maria: - Podem o lavar à vontade, pois está ali uma mangueira e é só abrir a torneira. Não contem comigo pois, estou vestida para passear e não para lavar carros.

Sónia: - Para evitar mais discussões e partirmos rapidamente para férias, vou buscar a mangueira e lavar o carro. Vou estragar as unhas e o verniz, mas como sou muito boazinha e a bem da boa harmonia, vou lavar o carro.

Já em viagem e quase a chegar ao destino, Sónia pediu ao Miguel para aumentar o volume do som da música de um CD, porque a Maria estava a dormir e a ressonar que até parecia uma locomotiva de comboio, das antigas que trabalhavam a vapor (Maria Fumaça).

Miguel: - Menina, acorda, que já chegámos!

Sónia: - Como ela está pegada no sono, só vai acordar com um balde de água pela cabeça abaixo!

Maria acordando: - O que vocês estão prá aí a dizer?... Já estou acordada…

Miguel: - Até que enfim já chegámos!

Maria: - Já chegámos? Ainda bem porque preciso ir à casa de banho (banheiro).

Miguel: - Hahahahaha! Esta pensa que está na cidade! Aqui, a nossa casa de banho é ali atrás da moita!

Sónia: - Mas antes, tira do poço um balde de água. Mas cheio, que é para chegar para todos.

Maria: - Nem quero acreditar! Vocês tiveram o desplante de convidar “uma personagem” ilustre (como eu) para passar férias num casebre que nem água canalizada tem.

Miguel:- Se fosse só a falta de água canalizada…

Sónia: - A casa também não tem eletricidade, nem esgotos!

Maria: - Ai que a minha alma está parva. Onde você me meteram, melhor, me convidaram…

Começaram a retirar do carro, uma botija de gás, muitas latas de tinta, muitos pincéis de vários formatos, montes de papel higiénico, roupas, etc.

Maria: - Qual é o meu quarto?

Sónia: - Escolhe um qualquer.

Maria: - Mas os quartos não têm armário para arrumar a roupa e a cama é um colchão no chão?...

Miguel:- Deixa-me rir. Esta, pensava que vinha para um hotel de 5 estrelas!

Depois do almoço (uma pizza comprada pelo caminho) e de lavarem a loiça, o Miguel tomou a iniciativa.

Miguel:- Até na altura de começarmos com a limpeza…

Maria: - Limpeza?! Olha que não sou nenhuma faxineira!

Miguel:- Claro que não nem eu pensei numa coisa dessas. Nomeio-te minha secretária! Para começar, lava esta parede com lixívia (água sanitária) para eu começar a pintar um quadro, tipo rupestre… Talvez uma paisagem…

Maria: - Não, cá em Portugal, as secretárias não limpam paredes. Olha lá, porque não lavas tu a parede?

Miguel:- Eu?! Não vês que não posso pois tenho uma dor nos pés e tenho de andar de bengala? Vá lá, começa a merecer ter-te trazido de férias…

Sónia: - Maria, antes de lavares essa parede, lava antes esta para eu começar a pintar um quadro exótico, no Jardim do Éden, com a Eva, o Adão e a Cobra…

Maria: - Uma boa cobra me pareces tu! Não, não e não. Não faço nadinha. Vim para cá (fazendo o favor a vocês) para descansar e não para trabalhar! Vou sentar-me aqui no chão, de pernas traçadas para meditar na minha vida.

E, assim fez. Sentou-se no chão, com os olhos fechados, começou a meditar…

Alguns minutos depois, começou a chover torrencialmente e em breves minutos tudo ficou inundado. O carro começou a ser arrastado em direção ao rio, pela corrente de água que entretanto se formou. Nessa altura, tiveram que subir ao telhado da casa, sempre com receio que este desabasse. Felizmente, a Maria ficou como o telemóvel (celular) no bolso das calças e de lá telefonou aos bombeiros a pedir ajuda, naquela situação tão crítica.

Duas horas depois, um helicóptero da Proteção Civil foi lá resgatá-los do telhado da casa. A Maria, valente como é, quis ser a última a ser içada para dentro do aparelho, sem gritar nem espernear, ao contrário da Sónia que se fartou de gritar. Já dentro do helicóptero viram o telhado da casa ruir.

Já na cidade para onde os bombeiros os levaram, o casal apanhou um comboio (trem) para o regresso a casa. Já a Maria apanhou um “expresso” para o regresso à sua paradisíaca vila.

Quando chegou a casa, a família quis saber se tudo tinha corrido bem e se estava feliz com o passeio.

Maria: - Estou muito contente e feliz. Imaginem que até fizemos desporto radical!

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Texto enviados pelo autor

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