Durante as festividades dos Jogos Florais de Nova Friburgo, certa vez tive como parceiros de quarto, no hotel, a dupla lusitana José Maria Machado de Araújo e Santos Teodósio (o Brumadinho). Foi muito divertido! Brumadinho passava o tempo todo provocando o Zé Maria e criando situações engraçadas. Após a programação de sexta-feira, quase meia noite, saí com Brumadinho em busca de um café e nada de achar. Numa derradeira tentativa, por uma transversal da avenida, demos com um local que foi um verdadeiro achado para ele. A casa típica ostentava o letreiro “O Rei dos Bolinhos”.
A especialidade: bolinho de bacalhau.
Brumadinho logo entrou em conversa animada com o proprietário, Perez, também português, descobrindo afinidades e falando sobre a terrinha. Patrício pra lá, patrício pra cá... Amizade instantânea!
Falou sobre os Jogos Florais, que Perez já conhecia, e como era típico dele, arrumou pra minha cabeça, dizendo: “Este aqui é o Pedro Ornellas, um grande trovador, e pra te provar ele vai fazer na hora uma trova pra tua casa de bolinhos.”
Não tive outra alternativa, o jeito foi pensar rápido. Fiz a trova:
Se um bom bolinho tu queres
regado a excelente vinho,
procure em Friburgo, o Perez,
famoso Rei dos Bolinhos.
regado a excelente vinho,
procure em Friburgo, o Perez,
famoso Rei dos Bolinhos.
Perez gostou tanto que prometeu colocá-la num quadro, no estabelecimento.
Brumadinho dizia com muito entusiasmo:
“Eu não t’disse, rapaz! Trovador não nega fogo... Aqui tem café no bule!”, e pegando a “minha” programação dos Jogos Florais, deu-a ao Perez, convidando-o para estar presente.
Elogiou efusivamente o “patrício” pelo bom gosto, decoração e atendimento que observou ali. Mal sabia eu que toda aquela bajulação fazia parte de um plano astucioso do meu colega luso, uma figuraça!
O saudoso amigo, trovador Armindo Santos Teodósio, ou Brumadinho como era conhecido (por morar nessa cidade mineira) era mesmo uma figura!
Ao elogiar os bolinhos de bacalhau do patrício Perez, Nova Friburgo, sua intenção era saborear alguns na faixa. Os bolinhos eram preparados e fritos na hora pelo próprio Perez, em uma cabine transparente, para que os fregueses pudessem acompanhar o processo e constatar que tudo era feito com a maior higiene. Enquanto fornecia detalhes do negócio, incentivado pelo nosso personagem, Perez ia atendendo os pedidos dos fregueses.
Terreno preparado, Brumadinho atacou:
“Então, patrício, tu podias dar uns bolinhos pra gente provar se são bons mesmo...”
Prontamente o Perez colocou três bolinhos numa cestinha que nos estendeu e voltou à cabine para atender outro pedido. Brumadinho olhou para a cesta e o chamou de volta:
“Perez, venha cá!”, e dramatizando continuou: “Ô rapaz, isso é coisa q’se faça!? Queres apartar dois amigos? Como é que tu dás TRÊS bolinhos para DOIS gajos? Se eu como dois, o Ornellas não vai gostar... Se ele come dois, quem não vai gostar sou eu!”
Perez depressinha acrescentou um bolinho à cesta, e Brumadinho abriu um sorriso:
“Agora sim! Dois pra cada um e não vai ter briga!”
Depois de elogiar os bolinhos que de fato eram muito bons, falou sobre o colega ilustre, Zé Maria, que dividia conosco o quarto de hotel, prometendo voltar no dia seguinte, pois fazia questão de apresentá-lo e que o mesmo, autêntico português, conhecesse aquele lugar maravilhoso.
Ao chegar ao hotel, ele disse ao Zé Maria que já lá estava: “Ó homem, não quiseste nos acompanhar, pois não sabes o que perdeste!” Falou sobre o lugar que descobrimos e dos bolinhos que ganhamos, e prometeu:
“Amanhã, voltamos lá, e vais ver como vou conseguir bolinhos de graça pra nós três!”.
––––––-
continua
Fonte:
Pedro Ornellas in Trova Viva
Nenhum comentário:
Postar um comentário