sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A. A. de Assis (Tirou tirógrafo)

Acho até que a história aconteceu de fato; só não me lembro de quem me contou. Fala de uma senhora que entrou num escritório pedindo permissão para conversar com o chefe. Queria um emprego para a filha dela. De pronto deu as credenciais: “Ela é moça despachada e já tirou tirógrafo”.  

Ah, sim... Mas que coisa era afinal “tirar tirógrafo”? Traduzo: era “tirar” o diploma de datilógrafo, ou seja, fazer o curso de datilografia. O chefe sorriu. A boa senhora mostrou o diploma. Conseguiu o emprego. 

Só as pessoas com mais de 60 anos devem estar entendendo esta conversa – a geração para a qual a máquina de escrever (precursora do computador) era ferramenta fundamental e a capacidade de operá-la era condição sine qua non para o sucesso na maioria das profissões. 

Tratava-se de um engenhozinho equipado com teclas, as quais movimentavam tipos que, por sua vez, imprimiam letras e números no papel. 

Até o começo dos anos 1980 a máquina de escrever era um acessório indispensável. A partir daí ela começou a ser suplantada pelo computador. Hoje somente em museus ou em estantes de colecionadores a gente ainda encontra alguma Remington, Olivetti, Smith Corona, Olympia, Hermes.

Em Maringá, até os anos 1960-70, havia diversas escolas de datilografia, todas elas frequentadas por um número grande de alunos, visto que o diploma de datilógrafo, além de elevar o status do portador, era essencial em todos os concursos. As festas de formatura eram  solenes, com os formandos em traje de gala, cerimonial no capricho, paraninfo, patrono, discursos, madrinha, padrinho, baile com orquestra e o demais que o momento impunha.  

O datilógrafo era um profissional bastante valorizado, especialmente nas repartições públicas, nos bancos e nos escritórios. O bom datilógrafo usava todos os dedos e escrevia sem olhar para o teclado. Avaliava-se a competência de cada um pelo número de toques corretos por minuto.

A profissão acabou, mas a habilidade continuou válida. Quem “tirou tirógrafo” já entrou avançado na era do computador.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá-PR – 09-10-2025)
Fontes:
Facebook do autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

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