terça-feira, 1 de setembro de 2015

Trovador Homenageado: Alonso Rocha

A igreja, as flores e o eleito;
ela de branco e eu tristonho:
– foi o cenário perfeito
para o enterro do meu sonho.

Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio...
- De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.

Ao teu "fogo" sou submisso
(mesmo sabendo quem és)
e me basta esse "feitiço"
para que eu viva a teus pés.

 
Cabelos brancos da idade,
recolho do poço limpo
a única joia - a saudade -
que me restou do garimpo.

 
Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.

De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz –
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.

Em silêncio os cinco dedos
da minha mão de aprendiz,
guardam íntimos segredos
das trovas que eu nunca fiz.

Em sofrer minha alma insiste,
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém...

Louco artista é o trovador,
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.

Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.
 
Nas manhãs, num velho rito   
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito –
guarda o rebanho de estrelas.

Pelas leis da natureza,
sem ouro e glória vivemos;
porém, com toda certeza,
nós, sem água, morreremos.

Poesia, como eu entendo,
é milagre de escrever...
Quase dizer, não dizendo...
ou não dizendo...dizer! 

Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,  
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.

Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?
 
Quando, ao luar, nadas nua
e os teus brancos seios vejo,
sangra, ao feitiço da lua,
o açude do meu desejo.

 
Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.

Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.

Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus - o Oleiro -
cobra o retorno do barro.

Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.

 Sempre que eu sonho na vida,
sou numa luta sem jaça
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.

Sem resposta que conforte,    
dúvida imensa me corta:
– Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.
 
Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,   
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.

Nenhum comentário: