quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Asas da Poesia * 90 *


Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

O pedestal do horizonte

Quando me vejo aqui, no pedestal
onde a lida acalenta e se faz luz,
a vitória cintila no portal
e desintegra a treva que seduz.

Conseguir algo mais, travar o mal,
vislumbrar no crepúsculo, conduz
sentimento de força sem igual
na vereda luzida por Jesus.

Volver à luz que brilha no horizonte
mostrando o caminhar em forte ponte
é a mesma luz que brilha a todos nós...

bastando simplesmente a coerência
na busca da lavoura em consistência.
Seremos então livres, jamais sós!!
= = = = = =

Poema de
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE 
Paris/França (1821 - 1867)

Uma Gravura Fantástica 

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrível de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping' lim*, monta um pobre cavalo,
Um espectro também, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dias lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.

O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um grã-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.
(Tradução de Delfim Guimarães)
========
Ping'lim ou Pingalim = espécie de chicote.
= = = = = = = = = = =

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

A Volta da Primavera

AI! Não maldigas minha fronte pálida,
E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida
E a sepultura se reveste em flores.

Bem sei que um dia o vendaval da sorte
Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte
Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!

Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves!
Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!

Já viste às vezes, quando o sol de maio
Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"

E, ao doce influxo do clarão do dia,
O junco exausto, que cedera à enchente,
Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente ...

Se a natureza apaixonada acorda
Ao quente afago do celeste amante,
Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh'alma reviver ovante?

É que teu riso me penetra n'alma —
Como a harmonia de uma orquestra santa —
É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!

Que eu digo ao ver tua celeste fronte,
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte!
Deus fez a virgem — para o bardo triste!”
= = = = = = 

Quadra Popular

Você diz que vai, que vai,
e não leva eu também.
Esta é sua ingratidão,
não é de quem quer bem.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Desprezado

Teu desprezo maltrata, é pungente.
Dói demais ver minguar nossa flama,
Confessando a saudade que sente,
Coração lacerado te chama.

Feneceu meu olhar rutilante,
Por negrume é cingido o poema,
Essa angústia é demais sufocante.
Esperar, esquecer... Oh, dilema!

Tua boca tão doce, macia,
Os momentos de amor, fantasia,
São lembranças em mim tatuadas.

Sofro tanto sem norte, à deriva,
Torturante, o pensar traz a diva,
Companheira de intensas jornadas.
= = = = = =

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

A Mula Sem Cabeça

No campo sombrio, um lamento se faz angustiante,
Mula sem cabeça, um destino a vagar,
na floresta escura, no silêncio, errante,
ecos de um amor que não pode voltar.

Noite de sofrimento, de fogo a brilhar,
na escuridão, sua forma a percorrer,
em cada relâmpago, um grito a ecoar,
lembranças de vida que não podem ceder.

Mas quem a avista, deve ter temor,
pois a sombra da noite traz consigo a dor,
em busca de paz, sua alma a clamar,

e entre os mistérios, a história a contar,
que amor e desatino podem levar à dor,
e na lenda da mula, um eterno clamor.
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

A meia laranja

Senti meu coração alvoroçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?

Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!

Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!

Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!
= = = = = = 

Soneto de 
RENATO SUTTANA
Barroso/MG


 Que gastes lá teu ouro, teu minuto,
teu grama de progresso, teu punhado
de futuro – antevisto, calculado,
todo pejado de valor e fruto;

 que lá queiras chegar, de olho impoluto,
como quem leva a urgência de um recado,
insone, mas cumprindo algum mandado,
por força do insondável, do absoluto;

 que lá passes um dia, um mês, um ano
(quem sabe a vida inteira), convencido
de que encontraste a pista, o portulano,

 e de que lá não entras por abuso
e não és, sem estirpe e sem partido,
mais que um indesejável, um intruso.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Aos Primeiros Raios Solares...

Páginas em branco
rumam em silêncio 
abrindo as janelas, 

descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas. 
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Mudança por amor

Mandei tirar sem dó toda a argamassa
Que recobria o chão do meu quintal
E em seu lugar, tal qual fosse uma praça,
Formei maravilhoso roseiral.

E para a minha casa ter mais graça
Forrei de primavera o seu beiral
E, junto aos muros, onde o mato grassa,
Eu pus planta de fruta e ornamental:

Ameixeira, pitanga e goiabeira,
Que ali mantêm as aves e os seus ninhos
Em explosões de cantos de alegria!

E quero ver se assim dessa maneira
Agrado a minha amada e os passarinhos,
E faço bem ainda à ecologia!
= = = = = = 

Hino de 
TIJUCAS DO SUL/ PR

Foi Ambrósios teu nome primeiro.
Deslumbrante beleza: ó Saltinho!
Do Estado és grande celeiro;
Guardas lago, floresta e ninho.

ESTRIBILHO
Salve! Salve! Tijucas do Sul!
Tabatinga, florestas e flores.
Protegida pelo manto azul,
De Nossa Senhora das Dores!

É chamado depois Aruatã.
Erva-mate e madeira de lei
São riquezas e teu talismã.
Os sinais de valor nessa grei.

És Tijucas do Sul - Paraná
Tens história na Revolução!
Na memória do povo ainda está
Grande glória pra toda nação.

Tijuquense, és povo leal!
Teu esforço e trabalho é sucesso.
E a resposta do teu ideal
É um futuro de pleno progresso!
= = = = = =

Poema de
IVAN LAUCIK 
Liptov/Eslováquia (1944 – 2004)

Anotação de Fim de Tarde

 Nada importa, dizem-te pela manhã:
E tu (vês-te obrigado) duvidas destas palavras todo o dia.

Resiste, entretém os peixes,
canta-lhes em voz alta sobre a ponte...
Os momentos de alegria quase te envergonham:
As distâncias convenientes, relações de altura e profundidade,
os invernos curtos, vento em conta para os moínhos -
e um tempo longo coberto
de ornamentos de ferro!
(Os livros de Lógica estão gastos
pelas mãos e pelo suor!)

Alguém que ouve mal embriaga-se de palavras:
o futuro pertence apenas aos helicópteros silenciosos,
capazes de aterrar na palma da mão.
(Haverá palma da mão?) E continua em sonhos
a separar-se o comestível do que não presta.

Sim, chegam-nos plantas cheias de entusiasmo.
Mas não é por isso que a folha artificial é menos verde.

Assim os incrédulos valorizam a fé.
Os infalíveis esperam ser salvos pelos nossos erros.
Os vivos sabem
que tudo importa
desde manhã.
= = = = = = 

Triverso de
DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR

Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia.
= = = = = = 

Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

Carnaval

Eis que de novo chega o Carnaval
para trazer, talvez, muita alegria,
às multidões que sofrem de algum mal
e podem ingressar na fantasia...

Vivem momentos só de alegoria,
num transe enfático, sensacional,
e buscando, num passe de magia,
aliviar o desejo sensual...

Cantam e dançam, plenos de calor,
demonstrando a maior felicidade,
neste evento de cálida paixão...

Por toda a parte a Festa do Esplendor
penetra os corações, e na igualdade,
congregando os cultores da Ilusão !
= = = = = =

Recordando Velhas Canções
DEUSA DO ASFALTO 
(samba-canção, 1959) 

Um dia sonhei um porvir risonho
E coloquei o meu sonho
Num pedestal bem alto
Não devia e por isso me condeno
Sendo do morro e moreno
Amar a deusa do asfalto.

Um dia ela casou com alguém
Lá do asfalto também
E dizem que bem me quer
E eu triste boêmio da rua
Casei-me também com a lua
Que ainda é a minha mulher

É cantando  que carrego a minha cruz
Abraçado ao amigo violão
E a noite de luar já não tem luz
Quem me abraça é a negra solidão

É, é, é, ééé cantando que afasto do coração
Esta mágoa que ficou daquele amor
Se não fosse o amigo violão
Eu morria de saudade e de  dor.
= = = = = = = = =  

Nenhum comentário: