JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP
O pedestal do horizonte
Quando me vejo aqui, no pedestal
onde a lida acalenta e se faz luz,
a vitória cintila no portal
e desintegra a treva que seduz.
Conseguir algo mais, travar o mal,
vislumbrar no crepúsculo, conduz
sentimento de força sem igual
na vereda luzida por Jesus.
Volver à luz que brilha no horizonte
mostrando o caminhar em forte ponte
é a mesma luz que brilha a todos nós...
bastando simplesmente a coerência
na busca da lavoura em consistência.
Seremos então livres, jamais sós!!
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Poema de
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE
Paris/França (1821 - 1867)
Uma Gravura Fantástica
Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrível de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping' lim*, monta um pobre cavalo,
Um espectro também, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dias lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.
O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um grã-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.
(Tradução de Delfim Guimarães)
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Ping'lim ou Pingalim = espécie de chicote.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A Volta da Primavera
AI! Não maldigas minha fronte pálida,
E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida
E a sepultura se reveste em flores.
Bem sei que um dia o vendaval da sorte
Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte
Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!
Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves!
Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!
Já viste às vezes, quando o sol de maio
Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
E, ao doce influxo do clarão do dia,
O junco exausto, que cedera à enchente,
Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente ...
Se a natureza apaixonada acorda
Ao quente afago do celeste amante,
Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh'alma reviver ovante?
É que teu riso me penetra n'alma —
Como a harmonia de uma orquestra santa —
É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!
Que eu digo ao ver tua celeste fronte,
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte!
Deus fez a virgem — para o bardo triste!”
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Quadra Popular
Você diz que vai, que vai,
e não leva eu também.
Esta é sua ingratidão,
não é de quem quer bem.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Desprezado
Teu desprezo maltrata, é pungente.
Dói demais ver minguar nossa flama,
Confessando a saudade que sente,
Coração lacerado te chama.
Feneceu meu olhar rutilante,
Por negrume é cingido o poema,
Essa angústia é demais sufocante.
Esperar, esquecer... Oh, dilema!
Tua boca tão doce, macia,
Os momentos de amor, fantasia,
São lembranças em mim tatuadas.
Sofro tanto sem norte, à deriva,
Torturante, o pensar traz a diva,
Companheira de intensas jornadas.
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Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
A Mula Sem Cabeça
No campo sombrio, um lamento se faz angustiante,
Mula sem cabeça, um destino a vagar,
na floresta escura, no silêncio, errante,
ecos de um amor que não pode voltar.
Noite de sofrimento, de fogo a brilhar,
na escuridão, sua forma a percorrer,
em cada relâmpago, um grito a ecoar,
lembranças de vida que não podem ceder.
Mas quem a avista, deve ter temor,
pois a sombra da noite traz consigo a dor,
em busca de paz, sua alma a clamar,
e entre os mistérios, a história a contar,
que amor e desatino podem levar à dor,
e na lenda da mula, um eterno clamor.
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Soneto de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
A meia laranja
Senti meu coração alvoroçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?
Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!
Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!
Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!
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Soneto de
RENATO SUTTANA
Barroso/MG
Lá
Que gastes lá teu ouro, teu minuto,
teu grama de progresso, teu punhado
de futuro – antevisto, calculado,
todo pejado de valor e fruto;
que lá queiras chegar, de olho impoluto,
como quem leva a urgência de um recado,
insone, mas cumprindo algum mandado,
por força do insondável, do absoluto;
que lá passes um dia, um mês, um ano
(quem sabe a vida inteira), convencido
de que encontraste a pista, o portulano,
e de que lá não entras por abuso
e não és, sem estirpe e sem partido,
mais que um indesejável, um intruso.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Aos Primeiros Raios Solares...
Páginas em branco
rumam em silêncio
abrindo as janelas,
descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas.
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Mudança por amor
Mandei tirar sem dó toda a argamassa
Que recobria o chão do meu quintal
E em seu lugar, tal qual fosse uma praça,
Formei maravilhoso roseiral.
E para a minha casa ter mais graça
Forrei de primavera o seu beiral
E, junto aos muros, onde o mato grassa,
Eu pus planta de fruta e ornamental:
Ameixeira, pitanga e goiabeira,
Que ali mantêm as aves e os seus ninhos
Em explosões de cantos de alegria!
E quero ver se assim dessa maneira
Agrado a minha amada e os passarinhos,
E faço bem ainda à ecologia!
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Hino de
TIJUCAS DO SUL/ PR
Foi Ambrósios teu nome primeiro.
Deslumbrante beleza: ó Saltinho!
Do Estado és grande celeiro;
Guardas lago, floresta e ninho.
ESTRIBILHO
Salve! Salve! Tijucas do Sul!
Tabatinga, florestas e flores.
Protegida pelo manto azul,
De Nossa Senhora das Dores!
É chamado depois Aruatã.
Erva-mate e madeira de lei
São riquezas e teu talismã.
Os sinais de valor nessa grei.
És Tijucas do Sul - Paraná
Tens história na Revolução!
Na memória do povo ainda está
Grande glória pra toda nação.
Tijuquense, és povo leal!
Teu esforço e trabalho é sucesso.
E a resposta do teu ideal
É um futuro de pleno progresso!
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Poema de
IVAN LAUCIK
Liptov/Eslováquia (1944 – 2004)
Anotação de Fim de Tarde
Nada importa, dizem-te pela manhã:
E tu (vês-te obrigado) duvidas destas palavras todo o dia.
Resiste, entretém os peixes,
canta-lhes em voz alta sobre a ponte...
Os momentos de alegria quase te envergonham:
As distâncias convenientes, relações de altura e profundidade,
os invernos curtos, vento em conta para os moínhos -
e um tempo longo coberto
de ornamentos de ferro!
(Os livros de Lógica estão gastos
pelas mãos e pelo suor!)
Alguém que ouve mal embriaga-se de palavras:
o futuro pertence apenas aos helicópteros silenciosos,
capazes de aterrar na palma da mão.
(Haverá palma da mão?) E continua em sonhos
a separar-se o comestível do que não presta.
Sim, chegam-nos plantas cheias de entusiasmo.
Mas não é por isso que a folha artificial é menos verde.
Assim os incrédulos valorizam a fé.
Os infalíveis esperam ser salvos pelos nossos erros.
Os vivos sabem
que tudo importa
desde manhã.
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Triverso de
DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR
Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Carnaval
Eis que de novo chega o Carnaval
para trazer, talvez, muita alegria,
às multidões que sofrem de algum mal
e podem ingressar na fantasia...
Vivem momentos só de alegoria,
num transe enfático, sensacional,
e buscando, num passe de magia,
aliviar o desejo sensual...
Cantam e dançam, plenos de calor,
demonstrando a maior felicidade,
neste evento de cálida paixão...
Por toda a parte a Festa do Esplendor
penetra os corações, e na igualdade,
congregando os cultores da Ilusão !
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Recordando Velhas Canções
DEUSA DO ASFALTO
(samba-canção, 1959)
Um dia sonhei um porvir risonho
E coloquei o meu sonho
Num pedestal bem alto
Não devia e por isso me condeno
Sendo do morro e moreno
Amar a deusa do asfalto.
Um dia ela casou com alguém
Lá do asfalto também
E dizem que bem me quer
E eu triste boêmio da rua
Casei-me também com a lua
Que ainda é a minha mulher
É cantando que carrego a minha cruz
Abraçado ao amigo violão
E a noite de luar já não tem luz
Quem me abraça é a negra solidão
É, é, é, ééé cantando que afasto do coração
Esta mágoa que ficou daquele amor
Se não fosse o amigo violão
Eu morria de saudade e de dor.
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