sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Asas da Poesia * 101 *


Poema de
CAILIN DRAGOMIR
Timisoara/ Romênia

O Sussurro do Vento

No campo verde, o vento dança...  
entre as folhas a sua voz se lança.  
Sussurros suaves, segredos da brisa  
contam histórias que a alma precisa.

As flores bailam em cores vibrantes,  
borboletas pintam o céu de alegria,  
a vida pulsa em tons desafiantes,  
numa sinfonia de plena harmonia.

E ao entardecer, o sol se recolhendo,  
dourando o horizonte, de modo estupendo.  

A natureza em sua beleza infinita  
é um poema que a vida recita.
= = = = = = = = =  

Poema de
LAURA ESTEVES
Rio de Janeiro/RJ

Novas bandeiras

Vai, Bandeirante,
navega pelas sujas águas do Tietê.
Já foram limpas, eu sei.
Segue pela Raposo Tavares.
Não te iludas pelas estradas,
confia em teus olhos:
são fábricas de esmeraldas,
edifícios de diamantes.
Guarda tudo em teu alforje de couro.
Adiante! Adiante!
Pega a Fernão Dias e toma o caminho do ouro.
Cuidado com o automóvel, Bandeirante.
Como tu, ele também mata.
Em seguida, o sul, sempre.
Busca o que restou da tribo guarani.
Lá, vestígios dos Sete Povos,
e, coitado de ti, o fantasma de Sepé Tiaraju.
Extermina-o, rápido!
Pois eu te afianço, velho Bandeirante,
ele não te dará descanso.
E, como antes, na catedral flutuante
— sina? destino? herança? —
o sino estará chamando o povo
para a missa de domingo.
Uma orquestra de crianças,
cabelos negros, escorridos,
estará tocando, à tua passagem,
tambores, liras, violinos.
O toque será um só:
vingança, vingança, vingança!
= = = = = = = = =  

Soneto de
JOÃO DA ILHA
(Ciro Vieira da Cunha)
São Paulo/SP, 1897 – 1976, Rio de Janeiro/RJ

Carnaval de um Pierrô

Carnaval! Carnaval! A turba louca
passa gritando pela rua em fora...
Nos "bares" e cabarés champanhe espoca
e a gente bebe até que venha a aurora...

Canta na rua um ébrio de voz rouca
versos canalhas que a ralé adora...
É quase madrugada... Em minha boca
amarga o sonho que meu peito chora...

Espero Colombina, alva de cal,
de olheiras de carvão e de olhos baços
que vem trazer-me ao quarto o Carnaval...

O doce Carnaval do meu desejo:
— As brancas serpentinas de seus braços
e o confete vermelho de seu beijo...
= = = = = = = = =   

Poema de
SUELY DE FREITAS MARTÍ
São Paulo/SP

Abismo de vidro

Caminho sobre o abismo de vidro
me despojando de tudo
o que algum dia tive:
nenhum dos meus sentidos
pode me ajudar agora.
Vazia
nada tenho a oferecer;
presa no não-tempo
tento enganar os guardiões
dessa noite longa
prestes a terminar.
Com um pé em cada dimensão
eu já não me importo:
só o que quero é voltar.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular

No coração da mulher,
por muito frio que faça,        
há sempre calor bastante
para aquecer a desgraça.
= = = = = = = = =  

Soneto de
COLOMBINA 
(Adelaide Schloenbach Blumenschein)
São Paulo/SP (1882 – 1963)

Esse amor...

Há um abismo entre nós. E apesar dessa falta
de ventura e de paz, nosso amor continua...
Cada dia é maior, é mais forte e mais alta
e imperiosa a paixão que em nosso sangue estua.

Longe de ti, meu ser emocionado exalta
em rimas de ouro e sol — cada carícia tua!
E em meu verso, integral, canta, fulge, ressalta
o infinito de amor que o teu nome insinua...

Não me podes amar como eu quisera. É certo.
Mas não existem leis, nem certidões, nem peias,
quando os teus olhos beijo e as tuas mãos aperto.

Tardas... Mas, quando vens, eu sinto que me queres,
que pela minha voz, pelo meu beijo anseias,
e sou a mais feliz de todas as mulheres!
= = = = = = = = =  

Poema de
MÔNICA MONTONE
São Paulo/SP

Meu jardim

Eu daria o mundo
Por um canto em mim
Um pedaço de alma qualquer
Onde eu pudesse plantar a calma
Enfeitar meus afetos
E caber dentro do meu coração

Mas minha terra úmida
Está sempre tomada por outros grãos
Sementes de medo
Casulos de seda
Sede de ser única

Vago pelas noites
Como um vaga-lume pelas manhãs

No espelho, não me vejo
Pressinto, apenas, o gosto do gozo
O delírio de aceitar-me
E caber, finalmente
Neste corpo quente que me aquece
= = = = = = = = =   

Soneto de
CORINA REBUÁ
Rio de Janeiro/RJ (1899 – 1957)

Que insônia!

Como faz frio neste quarto agora!
A chuva bate em cheio na vidraça.
E o relógio da igreja, de hora em hora,
Soa. Há passos na rua... E a ronda passa...

Não consigo dormir. Como demora
Esta vigília que me torna lassa!
Se abro um livro, não leio. E lá por fora
Chove. Há passos na rua... E a ronda passa...

Dormes? Não creio... Eu sei que estás velando,
Porque eu pressinto que, de quando em quando,
Vem o teu corpo fluídico e me enlaça.

O relógio da igreja está batendo.
São quatro horas... Que insônia! Está chovendo.
Ouço passos na rua... E a ronda passa.
= = = = = = = = =  

Poema de
JIDDU SALDANHA
Rio de Janeiro/RJ

poema noite

noite, canta pra mim
assim, grilo no telhado
centelha de vida e sonho
engendra suave desejo
velejando tua partitura

urdida de esperanças
canta teu silêncio ao grilo
brilhando suave e vazia
apaziguando as estrelas
estremecidas de frio
= = = = = = = = =  

Soneto de
DIMAS GUIMARÃES
Fazenda Paraná/MG, 1922 – 2000, Nova Serrana/MG

Caleidoscópio

Outrora, foste a pérola mais pura
e mais bela dos mares do Japão,
messe dourada, fonte de ternura,
o tesouro encantado de Jasão.

E, sendo a mais perfeita criatura,
— flor adulta com ares de botão —
eras linda promessa de ventura,
gema rara da Líbia ou do Industão.

Mas veio o outono... As folhas amarelas
lembram extintos sonhos de donzelas...
Sonhos que o tempo rápido esfumou...

E, em vão, procuro pelo teu encanto,
e reparo — olhos úmidos de pranto —
nem a pureza o tempo conservou...
= = = = = = = = =   

Poema de
HAIDÊ VIEIRA PIGATTO
Bento Gonçalves/RS

Quintessência

Amores, todos doem um pouco
todos são laços de fita
correntes de ouro
calda de açúcar
vertem sucos
pelos poros
pelos olhos
pela noite adentro
e de manhã se esquecem
dos relógios implacáveis
parados na eternidade
em olhos de veludo.
= = = = = = = = =  

Glosa de
GILSON FAUSTINO MAIA
Rio de Janeiro/RJ

MOTE: 
Quem não tem medo da morte, 
quem nunca faz nada em vão, 
quem, antes de tudo é um forte... 
Este é o homem do sertão! 
Renato Alves 
(Rio de Janeiro/RJ)

GLOSA:
Quem não tem medo da morte, 
querendo ir ao além, 
sem dinheiro, mas com sorte, 
vai de carona no “trem”. 

Quem só quer levar vantagem, 
quem nunca faz nada em vão, 
quem só pensa em vadiagem, 
não serve para o Sertão. 
De ninguém tem um suporte, 
vai seguindo a sua estrada. 
Quem, antes de tudo é um forte... 
Só teme a Deus e mais nada. 

Desce da fronte o suor, 
mas diz em sua oração: 
- Amanhã será melhor! 
Este é o homem do sertão! 
= = = = = = = = =  

Hino de 
Pomerode/ SC

Foi em mil oitocentos e sessenta e três,
Que um povo alemão decidiu,
Cheio de esperança e de fé,
Fazer a sua história no Brasil.

Pomerode! Pomerode!
O teu povo se orgulha de ti,
Ó cidade mais alemã do Brasil,
De beleza e graça Deus te fez.

Com bravura e determinação sem par,
Construíram sua vida em enxaimel*,
Seus jardins e empresas floresceram,
Fizeram do lugar pequeno céu.

Pomerode! Pomerode!
O teu povo se orgulha de ti,
Ó cidade mais alemã do Brasil,
De beleza e graça Deus te fez.

Hoje os filhos dos bravos imigrantes
Preservam seu tesouro maior:
A cultura brasileira de origem alemã,
Fruto de trabalho e amor.

Pomerode! Pomerode!
O teu povo se orgulha de ti,
Ó cidade mais alemã do Brasil,
De beleza e graça Deus te fez.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
* Enxaimel = técnica de construção que utiliza madeira para criar estruturas de edifícios, como casas e galpões.
= = = = = = = = =  

Poema de
PAULO RENATO RODRIGUES
Pelotas/RS

Pescar lembranças

No embornal,
levo minha nostalgia
e um ou dois sonhos de outros tempos.

É nessas tardes caídas
que busco nas águas do açude
um ou dois trechos da fugidia memória.

Nesse cenário azul
das fímbrias da Serra do Mar
cessam todos os ventos.

São horas de passar o fio
e fazer um colar
com as contas da própria história.
= = = = = = = = =  

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A Fortuna e o rapaz

Sobre o bocal de um poço descansava
Um rapaz; a Fortuna o acordava,
Dizendo que se o moço se afogasse,
Não havia faltar quem a culpasse.

É pobre um, porque foi ao ócio dado;
Pergunta-se-lhe a causa da pobreza,
Responde-nos com toda a singeleza:
«A Fortuna me pôs em este estado.»

Outro está em galés por ser malvado;
Pergunta-se a razão de tal baixeza,
Responde-nos com rosto de tristeza:
«A Fortuna me fez tão desgraçado.»

Perversos dão em muitos precipícios
Pela sua vontade depravada;
Mas nunca hão de culpar seus maus ofícios;

A Fortuna há de ser sempre a culpada:
Tomando-se a Fortuna pelos vícios,
Outra culpa não há mais bem formada.
= = = = = = = = = 

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