sábado, 6 de setembro de 2025

Almerinda Liporage (Álbum de Trovas)


Cada segundo eu contei ...
Mas hoje o espelho mostrou
que o tempo que te esperei
a vida não me esperou.

Da rima sou arquiteta
e construo o que me apraz,
porque o mundo do poeta
são os versos que ele faz.

Do cair da noite à aurora
a chuva, em suave rumor,
fez toda a trilha sonora
das nossas cenas de amor.

Do meu leito eu te arranquei;
mas por mais forte que eu banque,
do meu coração, eu sei,
não há nada que te arranque.

Domínio por opressão
cedo ou tarde se aniquila:
pois para todo Sansão
sempre existe uma Dalila. 

Em meus momentos aflitos
deixo-as na face rolando,
porque as lágrimas são gritos
dos meus sonhos se afogando.
 
Em toda vida eu te vi
tão dentro dos sonhos meus,
que ao despedir-me de ti,
era a mim que eu dava adeus!

Meus sentidos divagando
ao sabor dos teus afagos,
são garças brancas flutuando
na calmaria dos lagos.

Não reivindiques lembranças
nem me imponhas tua dor,
que eu não aceito cobranças
de quem é meu devedor.

Nas lâmpadas salpicadas
que enfeitam suas pobrezas,      
as favelas enjeitadas
choram lágrimas acesas!
 
No escuro, a farra já quente,
era tanta apalpação,
que a luz voltou de repente
e ninguém achava a mão...

No teu beijo terno e doce,
sem o ardor da mocidade,
eu sinto como se fosse
beijada pela saudade.

No verão era tão mini
a coleção que mostraram,
que uma passou sem biquíni
e os presentes nem notaram!

O espelho mostra inclemente,
nas marcas que o tempo aviva,
que hoje eu sigo para a frente
em contagem regressiva.

O moreno deu o estouro
quando a esposa num desmaio,
gemeu baixinho : - Meu louro,
sem ter nenhum papagaio!

Pela “conversa” de amigo
e esse adeus dito com arte,
o que tu fazes comigo
não é renúncia, é descarte.

Por um orgulho idiota
eu não quis lutar por ti...
E com medo da derrota,
mesmo sem luta perdi.

Se cantar alegra a vida,
por que se vê, pelo chão,
tanta cigarra caída
no fim de cada verão?

Sem dúvida nem receios,
meu eu te entrego desnudo.
Se o fim justifica os meios,
o amor justifica tudo!

Sem enredo a minha história
foi no tempo se perdendo:
se existe um dia de glória,
a vida está me devendo.

Se uma Trova me entristece,
fazê-la, sei que não devo ...
Tristeza ninguém merece
e, por isso, eu não a escrevo...

Teu ciúme em demasia,
sem limite a respeitar,
transformou em tirania
tua maneira de amar.
 
Tuas recusas sem jeito
mostram, de modo evidente,
que tens meu corpo em teu leito,
com outra imagem na mente.

Uma verdade evidente
não há texto que distorça:
- Ante a imagem contundente,
a palavra perde a força.

Um choque levou Zequinha,
sem fios e sem tomada,
ao se ligar na vizinha,
com a mulher dele ligada…
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