APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Céu nublado
A chuva infindável caiu,
e molhou
a minha alma
quando você partiu...
e eu fiquei aqui, abandonado...
Por assim, “nos depois” em que
penso em você, as horas param
o tempo estanca, e tudo me leva
a acreditar, e a perceber,
que a vida cruel me sufoca até morrer
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Soneto de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
Igualdade
Indiferente ao credo à própria raça,
O ser humano nasce, modo igual.
A sua formação conceptual,
É dádiva de Deus, divina graça!
Não traz no nascimento uma mordaça.
Um sórdido ferrete, ou um sinal!
É apenas um ser, e tal e qual,
Igual a qualquer ser que nos enlaça!
O seu direito à vida, ao mundo, enfim!
Ao colo maternal, ao frenesim,
É ganho mal acaba de nascer!
E toda a dignidade adquirida,
Só deverá um dia ser perdida…
No dia em que seu corpo fenecer!
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Soneto de
HUMBERTO RODRIGUES NETO
São Paulo/SP
Teatro da vida
Assim como acontece no teatro,
a vida também guarda a mesma média,
pois mescla ao riso da alegria nédia
os dissabores de um momento atro.
Da vida somos, pois, o anfiteatro
de co-partícipes de uma comédia,
ou dos distúrbios de uma vil tragédia
que às vezes nos atinge a três por quatro.
Mas o destino, em condição expressa,
execra aquele ator que age à pressa,
toldando o brilho das encenações.
Não transige com falhas ou senões,
pois Deus, que é o próprio Diretor da peça
não quer saber de artistas canastrões!
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Trova Funerária Cigana
Tristonha morada, guarda
de meu bem sua figura,
que os meus suspiros rodeiam
sua triste sepultura.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
As Ondas do Mar
Refluxo dançante flui
na calmaria agitada,
reflete leves miragens
em um oásis com imagens
reais. A voz gentil, maviosa,
embala o balé de folhagens
na noite quente. Na melodia
chuvosa é luz em tatuagens.
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Soneto de
CARMO VASCONCELLOS
Lisboa/Portugal
Meu primeiro amor
Ah! Meu primeiro amor, quanta cegueira,
tornou, depois de ti, meu rumo incerto…
Outros banais amores, só canseira
trouxeram ao meu peito a descoberto.
Fugazes devaneios, inconsistentes,
fogos-fátuos, inábeis pra aquecer
minhas veias, ora gélidas, dormentes,
ausente o teu calor que as fez ferver.
Neles sempre busquei tua ideal imagem,
sequestrada no tempo pla voragem
que me arrastou por ventos de ilusão…
Guarda este meu poema onde estiveres
pra que lembres, amor, sempre que o leres,
que cativo é de ti meu coração!
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP
Liberdade
À pequenina flor pedem passagem
as liras das libertas redondilhas
que fazem amplidões das suas ilhas
e os versos se esvoaçam na miragem.
E quantos que desejam maravilhas
largando as mãos que prendem a coragem
nas ilusões que agitam mas não agem,
levando os sonhos às tribos das trilhas...
Desejam ares nos mares sem costas,
os abandonos das peias supostas,
para os grilhões dos fugazes delírios.
Neste meu mundo deveras pequeno
ao horizonte dos olhos aceno
voo nas asas das vestes dos lírios!
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Adormecida
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."
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Quadra Popular
Com pena pego na pena,
com pena quero escrever;
caiu-me a pena no chão
com pena de te não ver.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Indomável paixão
O coração, teu belo rastro, anjo, conserva
Essa lembrança tão gostosa, me inebria.
Fazer amor rompendo rédeas, sem reserva
É meu desejo recorrente, há nostalgia´.
Olhares sôfregos, nas mãos inquietude
Blandiciosa a me tomar completamente,
Entre sussurros e arrepios, plenitude,
Paixão indômita exalada... Como é quente!
Na pele, eflúvio de delírio, olores nobres,
Satisfação no riso largo é estampada,
Envergo o manto do prazer com que me cobres,
Verto langor nos braços teus, oh, minha amada!
Preso em teu laço, vejo a vida ter mais cor,
Dia após dia, sorvo em sonho esse sabor.
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Hino de
IPUPIARA*/BA
Nasce o sol a brilhar lá na serra!
Ao saudar o seu povo varonil,
Que batalha para seu progresso
E ao progresso do Brasil.
Ibipetum!
Terra alegre e formosa,
Com o seu povo gentil
Que ao sol da terra, carpina,
Pra autonomia alcançar!
Tuas serras e seus cristais,
O teu povo a garimpar,
Almejando melhorias e vitórias
E o progresso do lugar.
Ibipetum!
Terra boa e amiga
Para quem lhe visitar;
Em seu manto mui sagrado
E Santo Antonio a abençoar!
Os campos verdes de suas matas
E o plantio a se ganhar,
O sertanejo trabalha contente
Pro progresso familiar!
O teu nome eleva o seu rumo,
É a riqueza do fumo por vir;
Seu topônimo é da língua Tupi,
Ibipetum!
Tu és a terra do fumo!
Viva Ibipetum! Viva Ibipetum!
–––––––
* Nota:
O topônimo Ipupiara é derivado da língua indígena tupi e significa deusa das águas.
O município de Ipupiara possui o distrito sede e o distrito de Ibipetum, por onde estão distribuídos mais de 69 povoados.
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Poema de
FLÁVIO GIMENEZ
São Paulo/SP
Ilha
Para me perder em teus olhos
Nos caminhos de tua íris, num arco
De mil cores de sonho
Penso, olho em tua pele:
Pálida na manhã enquanto noite.
Para me perder da escura forma
Sigo os indícios do que vem adiante
Em teu franco riso, claro e tanto
Nos cantos de tua pura alma errante
Para me perder em teu mar, sigo
Na marcha do meu ofício que trilha,
No siso branco de tua linda fonte
De todos os prantos do que agora brilha
Para me perder de vez em tua sina
Nos caminhos de tua íris, nem penso
Visto tua alva pele que, pálida
Tece de dia a escuridão das estrelas.
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Recordando Velhas Canções
NOITE CHEIA DE ESTRELAS
(tango-canção, 1932)
Cândido das Neves
Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa desse amor.
Lua,
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com os meus beijos
Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
Entre a neblina se escondeu.
Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo o astral ficou silente
Para escutar
O teu nome entre as endechas
A dolorosas queixas
Ao luar.
Lua,
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com os meus beijos
Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
Entre a neblina se escondeu.
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